quarta-feira, 15 de abril de 2009

A justiça: o caso de Zigor Goikoetxea

Arrúe disse que «teve medo» e pedem seis anos de prisão para Goikoetxea


Dois polícias espanhóis, dois polícias municipais de Getxo, e um quinto cidadão garantiram ontem no tribunal de excepção, AN, não terem ouvido a ameaça que Arrúe acusa Goikoetxea de ter proferido.

Marisa Arrúe, entretanto, voltou a apontar o dedo ao jovem algortarra, “sem qualquer dúvida”, assegurando que se dirigiu a ela “em tom ameaçador” e que lhe atirou por duas vezes com a frase: “Vamos-te matar em menos de cinco anos”. Na sua alocução, a edil afirmou que “este personagem, não sei se me tomou de ponta, mas ameaçou-me várias vezes e, de cada vez que o vejo, tenho medo”.

Não é a primeira vez que Arrúe se refere desta forma a Goikoetxea, já que no dia da sua detenção se manifestou “mais livre e feliz” por não ter de o voltar a ver nas ruas do município que ambos partilham.
Tanto o representante do Ministério Público como as acusações particulares, exercidas pela própria Arrúe e o seu partido, pediram seis anos de prisão.

Os factos que levaram à detenção, ao encarceramento e agora ao julgamento de Goikoetxea remontam a 10 de Agosto do ano passado, quando a edil, acompanhada por outros membros do seu partido, foi visitar o mercado de San Lorenzo, em Getxo. De acordo com a sua versão, a única acusação, dado que não há nenhuma outra forma de provar os factos – nem imagens nem testemunhas –, um grupo de pessoas “injuriou-a, insultou-a e ameaçou-a”.

Uns factos à medida
Num primeiro momento, Arrúe disse que lhe tinham chamado “torturadora”. Dois dias depois referiu-se a essas pessoas como “cães” e só então afirmou ter sido “vítima de ameaças de morte”, apontando Zigor Goikoetxea como o “autor das ameaças”.

A denúncia de Arrúe coincidiu com a intenção do PP de chegar a acordo com o PSOE sobre uma nova reforma legal destinada a perseguir os presos políticos bascos também depois de recuperarem a sua liberdade, e que se materializou no aproveitamento este caso. Zigor Goikoetxea tinha estado antes na prisão acusado de kale borroka.

O testemunho da edil do PP e a pressão exercida pelos meios de comunicação afins a esta formação foram suficientes para que este caso chegasse à Audiência Nacional espanhola e para que, inclusive, se aplicasse um tipo penal superior ao denunciado, com o propósito de conseguir que o jovem fosse encarcerado.

Apenas quinze dias depois dos acontecimentos denunciados, a 25 de Agosto, Goikoetxea teve de comparecer no tribunal de excepção, onde foi detido, num procedimento pouco habitual, ali esperando que Arrúe explicasse a sua versão, no dia seguinte. Já na Audiência Nacional, ao ratificar a denúncia que fizera, esta afirmou que a dada altura a tinham tentado rodear e que o seu serviço de segurança teve que proteger a zona.

Apesar de a denúncia apresentada por Arrúe aludir apenas a ameaças e insultos, para conseguir encarcerar Zigor Goikoetxea foi aplicado um tipo penal mais grave: o de “atentado à autoridade”. O juiz do tribunal de excepção Fernando Andreu optou por essa medida argumentando que as ditas ameaças entram “no âmbito terrorista” e que perseguem um “fim de intimidação”, com a circunstância “agravante” de a destinatária ser membro da vereação municipal.

O magistrado da acusação referiu três indícios para aplicar este tipo ao encarcerado: a circunstância pessoal de ser irmão de Arkaitz Goikoetxea, preso apenas um mês antes no âmbito de uma operação contra a ETA; a circunstância pessoal de a denunciante ser vereadora do PP; e o facto de o incidente ter ocorrido em Getxo, ou seja, em Euskal Herria.


O testemunho da edil não ofereceu “garantias” num caso semelhante
Não é a primeira vez que Marisa Arrúe acusa um jovem abertzale. A edil do PP já em Dezembro de 2005 denunciou três jovens de Algorta. No dia do julgamento, quando lhe perguntaram se seria capaz de reconhecer os acusados, afirmou, como o fez ontem com Zigor Goikoetxea, poder fazê-lo “sem qualquer dúvida”. Mas assim não sucedeu. Apesar de ter os três acusados à sua frente, “confundiu-se” e apontou para um polícia, que acompanhava um deles, como sendo o autor dos factos.
A sentença absolveu os acusados e considerou-se que o testemunho de Arrúe não oferecia “garantias”. Vamos ver se agora já as oferece.

Fonte: Gara