sábado, 4 de outubro de 2008

Iniciativa da ASEH na baixa lisboeta






No mesmo dia em que milhares de bascos saíram às ruas de Bilbau para protestar contra o estado de excepção que se vive em Euskal Herria (ver cartaz da convocatória) em Lisboa a ASEH levou a cabo uma iniciativa para tentar romper o bloqueio informativo sobre o que se passa no País Basco.

Por volta das 12h00, com as ruas da baixa lisboeta cheias, do cimo do célebre elevador de Santa Justa caiu uma gigantesca faixa ostentando a frase LIBERDADE PARA O PAÍS BASCO e uma enorme ikurriña. Apesar do vento não ter contribuído para o inteiro sucesso da iniciativa, foram muitas as pessoas curiosas e inúmeros os fotógrafos, sobretudo turistas, que quiseram registar o momento.

A faixa foi depois colocada na passadeira que liga o elevador ao convento do Carmo e estendida sobre a rua do Carmo. Mais tarde, realizaram-se distribuições do documento, cujo conteúdo abaixo transcrevemos, nas ruas do Carmo e Augusta.

De apontar que foram muitos os comentários de apoio, simpatia, e até sugestões, por parte de portugueses, ingleses, espanhóis, catalães, angolanos, franceses, etc. que por nós passaram.

A faixa foi mais tarde colocada na torre da antiga fábrica dos Cabos d’Ávila junto à E.N. 117, por onde passam diariamente centenas de milhar de pessoas.

Conteúdo do panfleto distribuído:


O QUE A COMUNICAÇÃO SOCIAL NÃO DIZ SOBRE O CONFLITO BASCO

Nas últimas 3 semanas - Sumário dos acontecimentos no País Basco de que não se fala (a somarem-se aos inúmeros e vergonhosos atropelos aos mais elementares direitos democráticos praticados pelo poder nos estados espanhol e francês):

O PSOE defende que os presos políticos, depois de cumprirem a pena, devem passar 20 anos sob vigilância

11 presos políticos bascos em prisão espanhola (Toledo) entram em greve de fome por entraves às comunicações com os familiares.

Domingo, 14 de Setembro: o Governo de Ibarretxe envia um enorme contingente policial para Donostia (mais de 21 patrulhas) depois de proibir, motu proprio, a marcha anual em defesa dos direitos dos presos políticos; os seus polícias carregaram com brutalidade contra milhares de manifestantes, detiveram cinco pessoas e enviaram para o hospital outras tantas.

Em tempo recorde, o estado espanhol volta a pôr fora da lei a EAE-ANV, partido que nos últimos anos assumiu as bandeiras da esquerda independentista e que existia desde 1930. Participou nas célebres eleições de 16 de Fevereiro de 1936 que dariam a vitória à Frente Popular, que incluía a ANV. Durante a guerra civil, este partido organizou batalhões de combatentes antifascistas. Depois, mergulhou durante décadas na clandestinidade. Quando Franco morreu, a ANV regressou à acção política com uma viragem mais à esquerda integrando, em 1978, o Herri Batasuna. Depois da ilegalização deste último, a ANV apresentou-se como representante da esquerda independentista nas eleições municipais. Das 97 localidades em que se pode candidatar (133 candidaturas foram ilegalizadas), com os seus 180 000 votantes, conquistou 31 e conseguiu representação noutras 62. Durante estes últimos anos, por assumir a vanguarda eleitoral da esquerda independentista, foi perseguida e demonizada. Suspenderam-lhe a actividade e depois, através de moções de censura, tentaram dissolver os executivos municipais que detinha.

A Audiência Nacional espanhola condena 21 militantes do Movimento Pró-Amnistia a um total de duzentos anos de prisão por “trazerem à luz a repressão” e procurarem “deslegitimar” o Estado; a sentença declara ainda a “ilicitude” das Gestoras e da Askatasuna. Onze encarcerados.

As Gestoras Pro-Amnistia e, posteriormente, a Askatasuna dedicam-se à luta pela libertação dos presos políticos bascos. As suas acções denunciam a situação que vivem os cerca de 800 presos políticos bascos e exigem a sua amnistia.

Movimento Pró-Aministia, grupo de cidadãos cuja missão é dar apoio aos perseguidos políticos e aos seus familiares, denunciar a dispersão penitenciária e a política de aniquilação dos presos políticos bascos, o uso da tortura e todas as formas de repressão que se abatem sobre Euskal Herria.

Numa corrida desenfreada, o Estado deixa fora da sua legalidade o EHAK, fecha as suas sedes e embarga as suas contas e actividades. A base da acusação sustentava-se numa suposta e legalmente infundada ligação ao Batasuna.

A polícia francesa lança uma operação no herrialde [território histórico] de Nafarroa Beherea, tendo procedido à inspecção de diversas habitações e à detenção de cinco pessoas (3 deles com mais de 77 anos) alegadamente por crimes de terrorismo.

Detidos no estado francês um homem e uma mulher no estado francês por supostas ligações à ETA. São ambos mantidos em regime de incomunicação.

A polícia francesa detém catorze cidadãos bascos em Ipar Euskal Herria [País Basco Norte], vinculando-os ao Batasuna, e inspeccionou a sede da formação abertzale em Baiona.

2 jovens são chamados a tribunal por exibição de um video e uma faixa numa casa ocupada. Em poucos dias realizaram-se 3 julgamentos contra os opositores ao TGV. São praticamente criminalizadas todas as acçõe cívicas contra a construção do TGV

A Associação de Solidariedade com Euskal Herria considera que as ilegalizações de partidos e organizações da esquerda independentista basca não só configuram uma forma de criminalização fascista como também não resolvem a raiz do problema do conflito. Só a autodeterminação do povo basco, o direito a decidir o seu próprio futuro, pode abrir caminho à paz. O caminho não pode ser, portanto, o caminho da criminalização dos direitos cívicos e políticos do povo basco. Esse é o caminho da guerra.