A esta altura, seria um tanto ingénua a surpresa com o papel que os estados desempenham naquilo a que chamam economia de mercado, ou seja, o capitalismo. No entanto, isto não quer dizer que nos resignemos à aceitação da realidade da permanente transferência de fundos públicos para mãos privadas com as mais variadas desculpas.A subordinação das estratégias institucionais aos interesses de certos sectores empresariais tem sido constante na política navarra desde há muito. Se o franquismo foi de facto um regime político ao serviço dos grandes poderes económicos, como o demonstra a criação de fortunas como a dos Huarte, o pós-franquismo trouxe consigo mais do mesmo. Assim, para lá da nefasta política industrial que facilitou a entrada de grandes empresas multinacionais sem superar a dependência do sector automobilístico, foram duas as grandes linhas económicas que significaram uma enorme atribuição de dinheiro a uma casta de eleitos, as grandes obras públicas e o boom do tijolo.
Dois dos grandes temas da política navarra do ano de 2009 têm precisamente a ver com estas duas linhas, a saber, o TGV e o projecto de Gendulain, que aponta para um novo escândalo de enormes proporções. O TGV lembra-nos a cadeia de grandes projectos, todos eles “vitais” para a sobrevivência económica de Navarra, que se foram saldando com o desvio de enormes verbas dos fundos públicos para os privados. Como não recordar a auto-estrada de Navarra que os cidadãos tiveram que pagar duas vezes e ainda continua a ter portagem? Que dizer do pântano de Itoitz e do Canal de Navarra, que iam mudar totalmente o panorama da produção agrícola? Aconteceu também com as centrais térmicas e podia ter ainda acontecido com uma central nuclear em Tudela, caso o plano de construção tivesse ido para a frente.
Agora é o TGV que é apresentado como solução de todos os males e motor de desenvolvimento económico. Como se reduzir o tempo de viagem a Madrid fosse a chave para fazer frente à crise. E tudo isso à custa de um desastre ambiental e de um gasto absurdo e totalmente injustificado.
Da mesma forma, agora que os grandes promotores se confrontam no final das suas grandes trapaças, as instituições pretendem vir em sua ajuda para cobrir com o dinheiro de todas e de todos a redução das perspectivas de negócio de uns quantos. Uns quantos que, naturalmente, nunca partilharam os seus benefícios.
Não só estamos perante uma crise económica como também assistimos a uma profunda crise do modelo da Navarra foral e espanhola, exploradora e defensora dos interesses de multinacionais, promotores e grandes empresas. Este modelo conduziu-nos a uma série de despedimentos, aos ERE, ao aumento da precariedade e ao agravamento das condições de vida. Este modelo mete água e é chegado o momento de pôr na mesa as alternativas, porque, sem dúvida, outra Nafarroa é possível. Mais, é urgentemente necessária.
Fonte: nafarroan.com