terça-feira, 2 de junho de 2009

A árvore da guerra


Se tanto valor se atribui à paz, é porque seguramente vivemos uma guerra. Não declarada. Não assumida. Uma guerra com dois lados em confronto.

Diz o autarca de Tolosa que plantou uma árvore que representa a paz. Para tal montou uma homenagem às chamadas vítimas do terrorismo, e trouxe as autoridades espanholas para encenar a farsa. Não lhe vamos dedicar demasiada tinta, porque são muitos os negócios que beneficiaram com este tipo de anúncios. Mais um. Mas merece a pena fazer uma passagem pelos nomes para observar como o nosso autarca contabiliza a carga que a violência deixou em Tolosa e o que entende por vítimas.

Se tanto valor se atribui à paz, é porque seguramente vivemos uma guerra. Não declarada. Não assumida. Uma guerra com dois lados em confronto, que não se reflecte nessa farsa. Nesses nomes que homenageia, há histórias de dor, trágicas, cada uma à sua maneira, discutíveis, lamentáveis, penosas. Mas como estes assuntos não se podem abordar de forma aberta, porque a legislação e a autoridade competente não o permitem, temos que nos restringir a uma perspectiva lateral, parcial, limitada.

Porque não estão na lista os nomes de Txirrita, ou de Mikel Lopetegi, ou de Txabi Etxebarrieta? Que se passa? Não morreram? Será que vendemos Bentaundi e já não é Tolosa? Ou será que não mataram Txabi na valeta? E no caso de Mikel, que se suicidou em Herrera de la Mancha depois de muitos anos na prisão, não se aplica a ele o conceito de vítima? Será que o tabaco, sim, mata - e é do domínio público -, mas não a prisão?

E Fran Aldanondo, Josetxo Jauregi, Sebas Goikoetxea...? Os limites de Tolosa circunscrevem-se às quatro ruas? Não incluem os montes, ou Ibarra, apesar de estes habitantes terem feito a sua vida connosco? Ou será que não os mataram nessa guerra de subentendidos que não se dizem?

Já agora, vítimas são só os mortos? Não existe espaço de compreensão para a dor das torturas, para o caso de Anparo Arangoa, por exemplo, torturada por um acaso em Tolosa? Ou será que também não foi terrorismo e violência o que se sofria nos controlos de estradas, as detenções de madrugada, as operações massivas após o desaparecimento de Joxi e Joxean, os disparos da instituição armada contra manifestações desarmadas?

Dizem que ergueram um monólito em Tolosa em homenagem a estas vítimas reconhecidas. Não o vi. Talvez algum dia lhe vá fazer uma visita, mesmo que seja só para verificar se se trata de um novo monumento aos caídos, um monólito como o que nos acompanhou na infância a partir do Triângulo de Tolosa. Será uma questão de memória, mas garanto ao autarca que não é seguramente de nostalgia.

Anjel REKALDE