O sindicato de funcionários Manos Limpias apresentou uma queixa na Procuradoria-Geral do Estado espanhol contra o dramaturgo e cabeça de lista da II-SP, Alfonso Sastre, pelo artigo «A prosa e a política», publicado ontem no Gara.
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Um dia depois de o PP e o PSOE terem arremetido contra Alfonso Sastre pelo artigo de opinião publicado no Gara, o sindicato de extrema-direita Manos Limpias apresentou uma queixa na Procuradoria-Geral do Estado contra o dramaturgo por “ameaças e colaboração” com a ETA.
Opina que o artigo «A prosa e a política» incorre em “ameaças de um mal que constitui delito destinado a atemorizar os habitantes de uma população”.
Sustenta ainda que existe a “colaboração com organização armada do artigo 578 do Código Penal que prevê a justificação por qualquer meio de expressão pública dos delitos de terrorismo ou da realização de actos que impliquem descrédito, menosprezo ou humilhação das vítimas dos delitos terroristas ou seus familiares”.
O sindicato de extrema-direita assegura na sua queixa que “os antecedentes do denunciado”, Alfonso Sastre, “que existem em arquivos policiais e da Guarda Civil revelam a ligação directa com a esquerda abertzale e com a organização terrorista ETA”. (sic)
Fonte: Gara
No inSurGente e na Kaos en la red foi lançada uma campanha de apoio a Alfonso Sastre: «Yo también soy Sastre» / «Eu também sou Sastre».
Como era previsível, a direita institucional e os seus meios de comunicação arremetem de novo contra Alfonso Sastre e contra a II-SP. Não bastavam as calúnias do ministro do Interior, a espantosa tentativa de ilegalização por parte do Supremo Tribunal, o acosso mediático anterior às eleições, a fraude eleitoral... Para os herdeiros do franquismo e os filhos políticos dos GAL, a dissidência real é algo que é preciso eliminar a qualquer preço, por todos os meios legais e ilegais, legítimos e ilegítimos. Mesmo se à custa de fazerem uma triste figura, que é o maior perigo que correm os que abusam de um poder assente no dinheiro e na força bruta. Mesmo se à custa da tristíssima figura que fazem ao chamar “matón” a Alfonso Sastre por nos lembrar algo óbvio, algo que o Governo [espanhol] sabe melhor que ninguém: que apenas existe um caminho para acabar com a ETA, e que esse caminho passa por alterar as condições objectivas que propiciam o surgimento de novos militantes. Ainda que amanhã fossem detidos todos os etarras, dentro de alguns meses poderia haver um novo comando preparado para prolongar a espiral de violência. É uma ameaça dizer algo tão óbvio? Parece que sim. Parece que o ancestral costume dos tiranos neuróticos continua vigente na “Espanha democrática”, e matar o mensageiro gera um certo alívio entre os que pensam com as entranhas.
Mas desta vez não mediram as forças. Alfonso Sastre é demasiado grande para eles, é demasiado alto para eles, e quem lhe atira a sua baba suja, como os que cospem para o ar, hão-de ver o cuspo cair-lhes na cara. Somos muitos e muitas – e não todos “radicais”, como o poder gosta de nos chamar – os que vemos em Sastre um imprescindível referente de lucidez, valor e dignidade, um exemplo a seguir no plano intelectual e no ético. Somos muitos e muitas os que, como Sastre, pedimos uma solução pacífica e dialogada para o denominado “conflito basco”; o que implica, naturalmente, o fim dos atentados, mas também o fim das torturas (denunciadas insistentemente pela ONU, Amnistia Internacional e mais de quarenta organizações de todo o Estado espanhol), da repressão desmedida e da chamada “guerra suja”, que não é senão outro nome para o terrorismo de Estado. Somos muitos e muitas os que, perante esta nova tentativa de criminalização da inteligência que um Millán Astray teria capitaneado com fervor, diremos – dizemos já – “Yo también soy Sastre” / “Eu também sou Sastre”.
Signatários:
Irene Amador, antropóloga
Carlo Frabetti, escritor
Ángeles Maestro, médica
Juan Domingo Sánchez Estop, tradutor
Pascual Serrano, jornalista
Iñaki Errazkin, jornalista
Juan Barrio Iglesias, presidente de Lurra, Asociación Navarra en Defensa de la Tierra
Francisco Larrauri
Lucía Ochoa, designer gráfica
Xabier Herrador, desempregado, irmão de um preso político basco
Antonio Maira, analista político
Manel Márquez, historiador
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