sexta-feira, 6 de novembro de 2009

«O uso do castelhano está mais que assegurado fora da sala de aula»


Fred GENESEE, professor da Universidade McGill de Montreal, entrevistado por Ainara LERTXUNDI

Fred Genesee trabalha como professor no departamento de Psicologia da Universidade McGill de Montreal, no Quebec, Canadá. Na sua vasta trajectória, estudou a fundo a educação bilingue, os aspectos relacionados com o processo de aprendizagem e o ensino de uma segunda língua, bem como os programas de imersão, tomando como exemplo os modelos do Quebec e dos Estados Unidos.

Ontem não foi a primeira vez que Fred Genesee visitou Euskal Herria. Apesar da distância, conhece de perto a situação em que se encontra o euskara, para o qual pede uma maior protecção institucional face à língua dominante, o castelhano. Na conferência que deu na Faculdade de Filosofia da EHU-UPB de Donostia, com o título «Ensinar a ler numa segunda língua», Genesee afirmou com conhecimento de causa que «não há nada que demonstre que uma criança - por exemplo, falante de castelhano - vá perder as suas competências orais por estudar noutra língua, neste caso, em euskara. Quanto mais conhecimentos adquirir de euskara, melhor se desenvolverá na sua língua nativa, que melhora quanto maior for a transferência linguística».

Defende que, se se ensinar a uma criança de tenra idade uma segunda língua, ela não perderá a língua nativa. Partindo desta posição, poder-se-ia dizer que, se uma criança falante de língua castelhana receber desde a creche uma educação em euskara, não terá qualquer problema.
Os estudos realizados no Canadá e nos Estados Unidos mostram que quanto mais exposto estiver o menor à língua menorizada, maior será a sua confiança na sua primeira língua. No caso de Euskal Herria, se se tirar das aulas o castelhano, a língua dominante, não há problema, não terá um impacto excessivo porque essa criança tem acesso a ela através do seu meio envolvente, da televisão e de tudo o que a rodeia. As competências orais de um falante de castelhano não se verão diminuídas por ter menos horas lectivas em castelhano na escola porque, como te dizia, fora do centro educativo estão expostas a todo o momento à língua dominante, que é uma das mais disseminadas do mundo. O desempenho na língua materna melhora quanto maior for a transferência linguística. Ao invés, se retirares espaço a uma língua menorizada, a sua competência será menor.

Os governos de Lakua e Nafarroa querem integrar o inglês, de maneira paulatina e a partir da primária, em detrimento do euskara. Você, no entanto, recomenda a integração tardia de uma terceira língua.
É preferível incorporar a terceira língua num nível educativo mais avançado e não nos primeiros anos porque, numa fase posterior, a sua confiança no castelhano e no euskara será mais sólida e os estudantes respondem melhor. Se ensinarmos três línguas em simultâneo, o tempo que dedicamos a cada uma é menor e existe, portanto, uma maior probabilidade de gerar confusão nos alunos. A crença na noção do «quanto antes melhor» baseia-se em estudos realizados sobre a aprendizagem em casa, mas não na escola. Existe uma grande diferença entre estudar uma língua em casa com os pais e na escola, com os professores.

Eu sugeria-lhes que não se precipitassem com o inglês, porque a mais prejudicada vai ser a língua menorizada, ou seja, o euskara.

Isso vai na direcção contrária ao que defendem os departamentos de Educação de Lakua e Nafarroa. Considera que o contexto social e político é mais determinante que as conclusões científicas?
Sim. Aprecio argumentos que são de natureza mais política que científica. É preferível começar o ensino de uma terceira língua estrangeira quando forem maiores, porque dispõem de mais estratégias linguísticas.

Línguas como o euskara enfrentam ainda os efeitos da globalização, que dá prioridade às línguas dominantes. A sua sobrevivência é possível?
Sim, desde que seja apoiada na escola, nos meios de comunicação e nas funções governativas. O apoio tem de ser bastante grande porque o castelhano já se sustenta por si mesmo; não está sob ameaça. O euskara, sendo uma língua minoritária, necessita de maior apoio educativo porque só se fala em Euskal Herria e não está numa posição de força. Se não for usado nas escolas, o impacto será muito grande.
Fonte: Gara

Ver também: «Os sindicatos STEE, LAB e ELA exigem a Celaá que rectifique as suas declarações sobre o euskara»
"Os sindicatos STEE-EILAS, LAB e ELA consideram 'despropositadas' as declarações da conselheira da Educação de Lakua, Isabel Celaá, que apresentou a sua reforma do currículo educativo como 'o final da doutrinação nacionalista' e criticou 'uma suposta situação de privilégio do euskara no sistema educativo'".
Fonte: Gara