sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Bakedano denuncia torturas e Marlaska dá-lhe ordem de prisão


Ontem, o juiz da Audiência Nacional espanhola Fernando Grande-Marlaska deu ordem de prisão a Ainara Bakedano, que, na sua comparência perante o magistrado, disse ter sido torturada pela Guarda Civil durante o tempo em que permaneceu incomunicável. A jovem navarra tinha sido detida um dia antes, quando se dirigia de forma voluntária para o tribunal de excepção. Outros três jovens, que tinham sido notificados para prestar declarações ontem, saíram em liberdade e sem medidas cautelares.

O Movimento pró-Amnistia fez saber ontem que Ainara Bakedano foi torturada pela Guarda Civil durante o tempo que permaneceu nas instalações policiais. A jovem navarra foi presa na quarta-feira ao meio-dia, em Madrid, a 50 metros da Audiência Nacional espanhola, quando se preparava para comparecer voluntariamente perante o juiz Fernando Grande-Marlaska. Depois de ser detida, foi-lhe aplicado o regime de incomunicação, situação em que permaneceu até poucos minutos antes de ser levada à presença do juiz do tribunal ex-TOP.

Bakedano afirmou que, durante a noite que passou na esquadra, foi torturada, mas, depois de a ouvir, Marlaska mandou-a para a prisão. No dia anterior, a defesa da jovem navarra tinha pedido ao juiz que aplicasse o protocolo contra a tortura, solicitação a que fez ouvidos moucos.

O Movimento pró-Amnistia especificou que Bakedano relatou perante o juiz que lhe tinham enfiado um saco na cabeça, até quase não poder respirar - sofre de asma -, que tinha sido agredida e que foi ameaçada pelos agentes da Guarda Civil. O organismo anti-repressivo denunciou «o silêncio» que muitas organizações e partidos políticos de Euskal Herria mantiveram perante os últimos casos de tortura e acrescentou que aquilo que se passou com Bakedano deixou às claras o objectivo que se persegue com o regime de incomunicação.

No auto que ontem foi tornado público, e no qual se dava ordem de prisão à jovem, Marlaska afirma que Bakedano faz parte da direcção da Segi, organização que descreve como «uma autêntica academia terrorista». Tal como fez aos 31 jovens independentistas encarcerados na semana passada, acusa-a de «integração em organização terrorista».

Outros três jovens - Maitane Fernández, Mikel Fernández e Rubén Sanz – tiveram de comparecer ontem perante o mesmo juiz, saindo em liberdade provisional e sem nenhuma medida cautelar. No entanto, foi-lhes lembrada a obrigação de comparecer quando forem notificados.

Novas mobilizações
O sindicato estudantil Ikasle Abertzaleak tinha convocado para ontem uma jornada de mobilizações em centros educativos e campus universitários, para denunciar a operação policial contra os jovens independentistas ocorrida na semana passada e os maus tratos sofridos por muitos dos detidos durante a sua passagem pelas instalações policiais.

Na manifestação realizada no bairro bilbaíno de Deustua reuniram-se dezenas de jovens, seguindo uma faixa em que se lia «Ikasleok sistema eta errepresioaren aurrean, ekin dezagun batera» [Os estudantes frente ao sistema e à repressão, trabalhemos juntos].

Representantes do IA anunciaram na terça-feira passada a sua adesão ao manifesto «Gazteok batera!» apresentado depois das Gazte Topaketak, levadas a cabo no fim-de-semana em Zestoa (Gipuzkoa), e às iniciativas avançadas com o propósito de que o movimento juvenil basco responda conjuntamente à última operação.

Projectos comunicativos juvenis como a Gaztesarea, KKinzona de Urretxu-Zumarraga, Lurraska de Barañain, os programas radiofónicos Gazte Zaparrada de Ipar Euskal Herria e Irauli Uhinak e várias gazte asanbladak [assembleias juvenis] também deram o seu apoio a estas dinâmicas.

Para além disso, a Gazte Abertzaleak, organização juvenil do Eusko Alkartasuna, anunciou que apoia a manifestação que diversas organizações juvenis convocaram para amanhã em Durango. Referiram que vão enviar uma delegação à conferência de imprensa que terá lugar hoje em Donostia para apresentar a mobilização.

A Gazte Abertzaleak sublinhou que «vai realizar todos os esforços necessários para actuar conjuntamente desde as vias civis e políticas» porque «estamos a apostar muito enquanto povo».
Manex ALTUNA
Fonte: Gara

Sobre a operação contra os jovens independentistas, ver também:
«Marlaska desvela o uso do sinal do telemóvel nos seguimentos», de Iñaki IRIONDO
O último auto do juiz Fernando Grande-Marlaska, em que se decretou o encarceramento dos jovens independentistas, confirmou o uso dos telefones móveis no seguimento destas pessoas; uma utilização de duvidosa legalidade, de acordo com a normativa vigente. No documento judicial refere-se que certos jovens não puderam ser seguidos durante três dias, em Julho de 2009, porque deixaram os seus telefones em casa.
http://www.gara.net/paperezkoa/20091202/169923/es/Marlaska-desvela-empleo-senal-movil-seguimientos