Ronnie KASRILS, vice-ministro da Defesa com Mandela, entrevistado por Alberto PRADILLA
Ronnie Kasrils (15 de Novembro de 1938), neto de judeus que fugiram da Letónia e da Lituânia, juntou-se em 1960 ao Congresso Nacional Africano e filiou-se no Partido Comunista da África do Sul. Participou na fundação do braço armado Umkhonto we Sizwe. Foi vice-ministro com Nelson Mandela e depois chefe dos serviços secretos.
Ronnie Kasrils conhece bem Nelson Mandela porque ambos partilharam a militância clandestina e depois tarefas de Governo. Agora, luta pela causa palestiniana e ontem encontrava-se em Barcelona.
Com base na experiência da África do Sul, como vê as últimas iniciativas políticas em Euskal Herria?
Nos termos desta situação é importante abrir vias para o diálogo e a negociação, para que a mudança possa chegar. No nosso caso, podemos ver que andámos a lutar de armas na mão e que o regime de apartheid não estava interessado. Não foi possível pôr em marcha fórmulas pacíficas até estarmos fortes. Foi então que aceitaram encetar o diálogo. Podemos também ver o caso irlandês. É realmente necessário utilizar essa possibilidade. As pessoas preferem uma forma pacífica de mudança. Na África do Sul temos muito clara a unidade do Estado. Já nos dividiram com os bantustões. E isto está-se a passar também com o povo palestiniano. O nosso exemplo baseia-se em manter a unidade do estado, ainda que não possa falar como um perito na solução basca. Creio que se poderia olhar para a questão da autonomia, que direitos são permitidos sobre a língua, cultura, como e se isso satisfaz os cidadãos bascos. Não obstante, fiquei muito satisfeito quando soube da sua disposição para trabalhar de uma forma pacífica.
Brian Currin está a assumir um papel importante nesta iniciativa...
Ele entende muito bem destas questões.
A sentença contra Arnaldo Otegi diz que Nelson Mandela nunca pegou em armas...
Claro que o fez. Foi Nelson Mandela que me recrutou a mim para o braço armado do ANC em 1961. Ele criou o movimento armado, embora também dissesse que defenderia a via política quando fosse possível, e foi isso que aconteceu. As soluções devem ser políticas, já que a via armada serve para mostrar o propósito de se alcançar a mudança. No momento em que o outro lado nos reconhece e são apresentadas propostas para as conversações, é conveniente um cessar-fogo, a não ser que eles se limitem a mentir, como é o caso do Governo israelita com os palestinianos.... Não sei se é isto que o Governo espanhol faz.
O Governo espanhol também mentiu...
Seguramente que recorrem a truques. Mas, pelo menos, em Euskal Herria existe uma autonomia, eleições, partidos políticos...
A esquerda abertzale encontra-se ilegalizada e o seu partido político não pode apresentar-se às eleições. Além disso, muitos dos seus líderes, como Arnaldo Otegi, estão na prisão.
Deviam ser libertados.
Fonte: Gara
Ronnie Kasrils (15 de Novembro de 1938), neto de judeus que fugiram da Letónia e da Lituânia, juntou-se em 1960 ao Congresso Nacional Africano e filiou-se no Partido Comunista da África do Sul. Participou na fundação do braço armado Umkhonto we Sizwe. Foi vice-ministro com Nelson Mandela e depois chefe dos serviços secretos.
Ronnie Kasrils conhece bem Nelson Mandela porque ambos partilharam a militância clandestina e depois tarefas de Governo. Agora, luta pela causa palestiniana e ontem encontrava-se em Barcelona.
Com base na experiência da África do Sul, como vê as últimas iniciativas políticas em Euskal Herria?
Nos termos desta situação é importante abrir vias para o diálogo e a negociação, para que a mudança possa chegar. No nosso caso, podemos ver que andámos a lutar de armas na mão e que o regime de apartheid não estava interessado. Não foi possível pôr em marcha fórmulas pacíficas até estarmos fortes. Foi então que aceitaram encetar o diálogo. Podemos também ver o caso irlandês. É realmente necessário utilizar essa possibilidade. As pessoas preferem uma forma pacífica de mudança. Na África do Sul temos muito clara a unidade do Estado. Já nos dividiram com os bantustões. E isto está-se a passar também com o povo palestiniano. O nosso exemplo baseia-se em manter a unidade do estado, ainda que não possa falar como um perito na solução basca. Creio que se poderia olhar para a questão da autonomia, que direitos são permitidos sobre a língua, cultura, como e se isso satisfaz os cidadãos bascos. Não obstante, fiquei muito satisfeito quando soube da sua disposição para trabalhar de uma forma pacífica.
Brian Currin está a assumir um papel importante nesta iniciativa...
Ele entende muito bem destas questões.
A sentença contra Arnaldo Otegi diz que Nelson Mandela nunca pegou em armas...
Claro que o fez. Foi Nelson Mandela que me recrutou a mim para o braço armado do ANC em 1961. Ele criou o movimento armado, embora também dissesse que defenderia a via política quando fosse possível, e foi isso que aconteceu. As soluções devem ser políticas, já que a via armada serve para mostrar o propósito de se alcançar a mudança. No momento em que o outro lado nos reconhece e são apresentadas propostas para as conversações, é conveniente um cessar-fogo, a não ser que eles se limitem a mentir, como é o caso do Governo israelita com os palestinianos.... Não sei se é isto que o Governo espanhol faz.
O Governo espanhol também mentiu...
Seguramente que recorrem a truques. Mas, pelo menos, em Euskal Herria existe uma autonomia, eleições, partidos políticos...
A esquerda abertzale encontra-se ilegalizada e o seu partido político não pode apresentar-se às eleições. Além disso, muitos dos seus líderes, como Arnaldo Otegi, estão na prisão.
Deviam ser libertados.
Fonte: Gara