Milhares de pessoas vieram ontem para as ruas em defesa do direito ao aborto livre e gratuito e em protesto contra a aprovação do anteprojecto de reforma da actual lei do aborto no Estado espanhol. Para além das manifestações nas quatro capitais do Sul do País (em Bilbo, Gasteiz e Donostia, por volta das 13h00; em Iruñea, ao fim da tarde), houve mobilizações em localidades como Altsasu (Nafarroa) ou Ermua (Bizkaia).
Grupos feministas, forças sindicais e forças políticas como o EH Bildu denunciaram a gravidade desta medida contra os direitos das mulheres, referindo-se à lei que o PP quer aprovar como «um retrocesso ideológico» e enfatizando o «direito das mulheres a decidir sobre o seu corpo, com garantias de saúde», bem como a questão da «universalidade» desse direito.
Nas mobilizações de ontem, afirmaram repetidamente que são senhoras dos seus corpos, e foram constantes as palavras de ordem a favor do aborto livre e gratuito e em defesa da liberdade das mulheres a decidir: «gure gorputza, gure erabakia» [o nosso corpo, a nossa decisão], «abortatzeko eskubidea» [direito ao aborto], «sacad vuestros rosarios de nuestros ovarios» [tirem os vossos rosários dos nossos ovários] ou «abortua hemen, ez Londresen ez Parisen» [aborto aqui, não em Londres ou em Paris].
Detenções em Madrid (Espanha)
Em Espanha, nos Países Catalães e na Galiza, as mobilizações contra a reforma da Lei do Aborto começaram na sexta-feira à tarde. Em Madrid, centenas de pessoas concentraram-se frente ao Ministério da Justiça; no final da mobilização, a Polícia espanhola carregou com violência sobre os participantes na concentração. Três pessoas foram detidas; libertadas ontem, são acusadas de resistência e de desobediência. / Ver: topatu.info e Berria / Fotos: mobilizações em defesa do direito ao aborto (naiz.info / ekinklik.org / boltxe.info)
Leitura: Lúcia Gomes: «Contra a reforma da lei da IVG no Estado Espanhol: nem um passo atrás!» (manifesto74)
Esta medida tem um cunho de classe inegável: são as mulheres trabalhadoras, as mulheres mais pobres que recorrem ao aborto clandestino. São as mulheres trabalhadoras que têm menos acesso aos cuidados de saúde, à educação sexual, ao planeamento familiar. Mas há uma questão de princípio: milhares de mulheres se mobilizam, em todo o mundo, para que a criminalização seja abolida. Para que nem mais uma mulher morra num vão de escada. Nem mais uma mulher morra ou sofra por complicações derivadas de um aborto clandestino. Nem mais uma mulher seja perseguida judicial e criminalmente.