Num acto que decorreu este sábado frente ao edifício do antigo Campo de Concentração da ESMA (*), em Buenos Aires, condenou-se a acção «impune» do ex-juiz Baltasar Garzón e procedeu-se à leitura de um documento do Encuentro Memoria, Verdad y Justicia, no qual se repudia a supracitada figura por dar o aval à repressão e à tortura de militantes bascos.
O texto centrou-se numa crítica severa ao uso que o Governo argentino dá àquilo que foi a ESMA, organizando eventos e festas que pouco têm a ver com a história de terror e resistência que esse edifício alberga. Subscrevem a declaração dezenas de organizações de direitos humanos, partidos de esquerda e movimentos sociais, entre os quais se contam os EHL (Amigos do País Basco) da Argentina e os Euskaltzaleak. [(*) Escuela Superior de Mecánica de la Armada, usada como centro de detenção e tortura.]
O documento foi lido por Enrique Fuckman, ex-detido-desaparecido na ESMA, no final do acto. Estiveram presentes várias Madres de Plaza de Mayo, lideradas por Elía Espén e Mirta Baravalle, que discordam do actual Governo de Cristina Kirchner. Também aderiram militantes dos HIJOS da cidade de La Plata.
O ex-juiz Garzón, que conta com os favores do poder governamental, é o actual subsecretário dos Direitos Humanos e possui um gabinete no local da antiga ESMA, onde funciona uma das suas últimas invenções: o Centro Internacional para a Promoção dos Direitos Humanos. A sua presença naquele espaço tem levado a que algumas organizações que trabalham no mesmo âmbito se manifestem desfavoravelmente.
«O facto de Garzón estar instalado num local onde foram torturados e assassinados milhares de militantes é um insulto, depois de ter dado o aval a experiências semelhantes no País Basco e na Catalunha», afirmou um dos organizadores do acto.
Por outro lado, um porta-voz dos EHL Argentina sublinhou a importância de o nome de Garzón aparecer numa declaração de repúdio subscrita pelas mais importantes organizações anti-repressivas, humanitárias e partidárias da esquerda argentina, o que se fica a dever à oposição crescente à sua acção. «Mas é também o resultado da campanha de acções de repúdio e denúncias várias que põem a descoberto a verdadeira história do ex-magistrado da AN espanhola», concluiu o membro dos EHL.
No acto deste fim-de-semana, os militantes solidários com o povo basco exibiram ikurriñas e cartazes condenando Garzón, e gritaram bem alto: «Alerta que camina, Garzón represor, por las calles de Argentina».
[Na sequência, ler: «ESMA: la memoria es del pueblo»] / Fonte: askapena.org