Por iniciativa da Comissão de Festas de Erromo (Getxo, Bizkaia) e da Ahaztuak 1936-1977, Félix Arnaiz, jovem morto a tiro pela Polícia em circunstâncias ainda não inteiramente esclarecidas, foi novamente homenageado, ontem, dia em que passavam 47 anos sobre o seu assassinato. Entre os muitos presentes na sessão, estavam familiares de Félix.
Uma fotografia de Félix presidiu ao acto de ontem, dia 2, mostrando de forma clara que os erromoztarras não esquecem o seu conterrâneo assassinado. Martxelo Álvarez, membro da Ahaztuak 1936-1977, sublinhou em declarações à comunicação social os avanços alcançados nestes 47 anos - a declaração oficial de Arnaiz como «vítima da violência policial» e a reparação económica à família -, mas lembrou a necessidade de se lutar pela memória de Félix e contra a impunidade que ainda perdura. Verdade e justiça impõem-se.
Cinco anos de luta
Foi há cinco anos que a Ahaztuak 1936-1977 e a Comissão de Festas de Erromo decidiram realizar pela primeira vez um acto em memória de Félix, no decorrer do qual foi afixada uma placa evocativa dos factos ocorridos a 2 de Agosto. Em simultâneo, a Ahaztuak 1936-1977 lutava para que Félix Arnaiz Maeso fosse reconhecido como vítima do franquismo, pelos seus direitos, bem como o dos seus familiares à verdade, à reparação e à justiça.
Esta luta deu os seus frutos. O ano passado, Félix Arnaiz foi reconhecido como «vítima da violência policial», no âmbito do «Decreto de Vítimas Policiais» implementado pelo Governo de Gasteiz, e os seus familiares receberam a verba estipulada ao abrigo desse decreto - o que, para a Ahaztuak, constitui mais um incentivo para continuar a lutar pelo esclarecimento completo do crime e pelo apuramento de responsabilidades.
Homenagem a Félix Arnaiz em Erromo/Itzubaltzeta, 2016Ver: hiruka.eus
[Retirado, com alterações, de «Homenagem em Erromo: Félix Arnaiz, um pouco menos esquecido»]
Os factos ocorreram no dia 2 de Agosto de 1969, por volta da uma da manhã. Um grupo de jovens cantava e divertia-se frente ao Bar Vega, ao lado da antiga estação ferroviária de Areeta. O então vice-presidente da Câmara Municipal de Getxo, que residia no local, chamou a Polícia Municipal. De acordo com testemunhas, os agentes apareceram no local «bastante alterados».
Confrontados com a situação, os jovens decidiram ir até ao Bar Pako, na Kale Nagusia, perto da Ponte Suspensa. Pouco depois, os jovens regressaram novamente às festas e, quando chegaram à passagem de nível, «apareceu numa esquina um agente da Polícia Municipal de pistola na mão», e apontou-a a um dos jovens. Este agarrou-lhe a mão de forma instintiva, conseguindo assim desviar os dois disparos efectuados pelo polícia. Foi preso de imediato e metido numa viatura policial.
Testemunhas recordam que, pouco depois de o detido ser metido na viatura, se ouviu um disparo, efectuado pelo referido polícia municipal - ao que parece, um antigo agente da Guarda Civil que vivia no bairro. «Encostou a pistola ao peito de Félix Arnaiz e matou-o», dizem as testemunhas.
Esta versão não coincide com a das autoridades - a que foi divulgada pelos jornais -, que chegaram a qualificar a morte como «acidente fortuito», dizendo que o polícia municipal tinha disparado a arma numa «disputa» com outra pessoa e que Félix Arnaiz Maeso tinha sido atingido como «mero espectador».
Depois da morte do jovem morador de Erromo/Itzubaltzeta, as festas foram suspensas em sinal de luto, de protesto e solidariedade. / Ver: aseh e aseh