Luz Obscura (2017) apresenta-se na mesma linha de continuidade genealógica de Natureza Morta (2005) e 48 (2009), como se os três filmes procurassem tecer uma rede de malha progressivamente mais fina, destinada a captar uma realidade e toda uma vida que os arquivos oficiais do regime fascista, deposto pela Revolução de Abril, apenas ocasionalmente permitem vislumbrar.
Desde 2000 que Susana de Sousa Dias, como a própria afirma, tem centrado o seu trabalho sobre «as imagens produzidas pela ditadura portuguesa». A ideia para o filme Luz Obscura nasce do visionamento de «uma imagem que, no campo estrito da fotografia judiciária, não deveria existir». A imagem de cadastro policial de Albina Fernandes é, na verdade, única nos arquivos da polícia política. A prisioneira é retratada com os olhos fechados, tendo ao colo uma criança, o pequeno Rui, seu filho, o qual, numa das fotografias, chega a tapar-lhe parcialmente o rosto: tudo contra a mais elementar técnica de documentação policial.
«A vontade de saber mais sobre as pessoas que figuram nesta fotografia de cadastro» foi o ponto de partida para «encontrar o menino». Através de Rui a realizadora encontrou a irmã, Isabel, e Álvaro, o irmão mais velho. Estava perante os filhos mais velhos de Octávio Pato, um dos mais destacados dirigentes do Partido Comunista Português na luta contra a ditadura fascista e pela liberdade. (Abril)