quarta-feira, 3 de março de 2010

A Audiência Nacional tenta silenciar Otegi: 2 anos de prisão e 16 de inabilitação por participar num acto em defesa de «Gatza»


A Audiência Nacional espanhola condenou Arnaldo Otegi a dois anos de prisão e 16 de inabilitação absoluta, acusando-o de «enaltecimento do terrorismo» por participar, em Julho de 2005, num acto político por Joxe Mari Sagardui «Gatza», em Zornotza, que se encontrava havia 25 anos na prisão. Itziar Galardi e Josune Irakulis, que também se sentaram no banco dos réus, bem como Jon Enparantza e Estanis Etxaburu foram absolvidos pelo tribunal de excepção espanhol.

Vídeos das intervenções de Otegi no julgamento

O tribunal de excepção absolve da prática dos delitos de «reunião ilícita» e «associação ilícita» de que era acusado pelo Foro de Ermua e pela Dignidad y Justicia, que também pediam dois anos de prisão por «enaltecimento». A Procuradoria, por seu lado, tinha solicitado 18 meses de prisão e 14 de inabilitação.

As juízas Ángela Murillo e Teresa Palacios e o juiz Juan Francisco Martel sustentam no auto que na intervenção de Otegi em Zornotza «se detectan expresiones que constituyen sin lugar a dudas delitos de enaltecimiento del terrorismo». Em concreto, afirmam que foi no final do seu discurso «que perpetró el delito de enaltecimiento del terrorismo», ao pronunciar a frase seguinte: «Se lo debemos a los presos políticos vascos, refugiados y tantos camaradas que hemos dejado en la lucha y lo conseguiremos (...)».

Mandela, «um preso político», Sagardui, «terrorista»
O tribunal afirma que Otegi comparou «de manera absolutamente impropia y manifiestamente falsa» Joxe Mari Sagardui e Nelson Mandela, já que este último é, em seu entender, «un preso político» e um «auténtico héroe que permaneció en prisión por motivos ideológicos, pero jamás utilizó la violencia ni la apoyó en pos de conseguir la supresión del apartheid en Sudáfrica», enquanto o perseguido político basco é «un condenado por los gravísimos delitos de carácter terrorista». (*)

Os juízes afirmam que o delito de «enaltecimento» é «corroborado» pelas declarações que o político de Elgoibar fez na audiência oral, na qual «admitió plenamente su participación en el tan repetido homenaje a Sagardui» e «no desmintió en momento alguno las frases que nos conducen a su condena».

No julgamento que se iniciou no dia 27 de Janeiro, o dirigente independentista aproveitou a audiência oral para fazer a apologia do processo democrático. Acusações, Procuradoria, e juízes admitiram que nem sequer sabiam o que é que Otegi tinha dito no acto de Zornotza, mas mesmo assim mantiveram os seus pedidos de prisão.

Enparantza e Etxaburu, absolvidos
No mesmo processo também foram constituídos arguidos Jon Enparantza e Estanis Etxaburu, detidos e encarcerados depois de não comparecerem na audiência oral. Finalmente, foram julgados e postos em liberdade a 17 de Fevereiro, ficando a aguardar pela sentença, que divulgada ontem, durante a tarde. A Audiência Nacional espanhola absolveu-os do delito de «enaltecimento».
Fonte: Gara

OTEGI


Ver também: «A Audiência Nacional pega-se com Arnaldo Otegi para o silenciar e faz uma figura ridícula quando diz que Mandela nunca recorreu à violência», de Iñaki Iriondo, em Gara

Editorial do Gara: «Seria grave se se tratasse só de ignorância ou se fosse pura vingança, mas não se ficam por aí»

(*) Mandela: fundou, em 1961, o Umkhonto we Sizwe (A Lança da Nação), «braço armado» do ANC.