Depois de 34 anos sem impedimento ou obstáculo de qualquer espécie para honrar a memória do seu irmão, um dos cinco militantes «legalmente» fuzilados por ordem do ditador Franco, a Ertzaintza apareceu junto ao túmulo de «Txiki» no domingo. A indignação da família Paredes-Manot perante a «falta de respeito» e «a humilhação» sofrida foi transmitida, de forma veemente, por Diego Paredes ao Gara.
A Audiência Nacional espanhola abateu-se no fim-de-semana, com uma onda de proibições, sobre diversos actos políticos que deveriam decorrer em vários pontos do país. Vetos que chegaram a mesmo a incidir sobre actos em memória das vítimas do franquismo, convocados inicialmente pela Ahaztuak 1936-1977, com o argumento de que se ia «enaltecer o terrorismo» e «humilhar as vítimas do terrorismo».
Ainda sem tempo para acalmar a indignação e ira vividas, o zarauztarra Diego Paredes Manot critica com dureza a Ertzaintza, pela falta de respeito mostrada junto ao túmulo do seu irmão fuzilado e enquanto a sua mãe, com 80 anos, o beijava.
No domingo, como acontece desde há 34 anos, foram até ao cemitério de Zarautz. O que é que se passou quando chegaram?
Sabíamos que a Ahaztuak tinha uma convocatória para as 13h, mas Martxelo Álvarez desconvocou-a. No cemitério, juntaram-se os familiares e alguns amigos de Txiki. Pouco depois de chegarmos, apareceram os polícias com material antidistúrbios, armados até aos dentes.
Falámos com eles, e Martxelo disse-lhes que não se ia fazer nada. Estava lá um txistulari [tocador de txistu/flauta] e as minhas filhas vestidas de dantzari, que, como sempre, iam dançar o aurresku. Então, o comandante da Ertzaintza, muito prepotente, disse que não se podia fazer absolutamente nada. Martxelo disse-lhes que se ia embora, mas que deixasse a família em paz.
Mas não estavam para aí virados.
Disse-lhes que «agora, a família e os quatro amigos de Txiki que aqui estão vão-lhe fazer a homenagem que ele merece, como o fazemos todos os anos».
«Os familiares, até podem ficar. Mas os outros têm de se ir embora», respondeu, muito prepotente. «Como é que os familiares 'até podem ficar'? Temos de marcar hora para poder visitar o túmulo do meu irmão?», disse-lhe, que já estava a ferver. «Pois aqui é que não vão ficar», disse o comandante.
Vinham preparados para carregar. Houve um momento de tensão em que lhe disse que a única coisa que faltava era que nos fuzilasse a nós também. «A esse ponto não vamos chegar», ainda me respondeu.
Também os identificaram, não foi?
Pediram os BI a quem lhes apetecia. Disse-lhe que ou pediam a todos ou a ninguém, e dei-lhes o meu. Também os meus irmãos e o resto da família os tiraram, mas não os quiseram ver.
Identificaram quatro pessoas, e depois, pela piada que tinha, também os carros que desceram do cemitério. Dissemos que, se nem ao menos a família podia estar com os amigos, que nos íamos dali, mas a minha mãe deu alguma luta. «Já nem ao menos me deixam visitar o túmulo do meu filho. Os mortos metem assim tanto medo?», perguntou-lhe. Ficou bastante nervosa.
O auto judicial afirmava que, no caso de fazer, «humilharia as vítimas do terrorismo».
No sei de que vítimas estaria a falar... Mas, à minha mãe, com 80 anos, dizem-lhe quando pode visitar o túmulo do filho!
Sentimo-nos mal. Humilhados, impotentes... a minha mãe a beijar o túmulo de Txiki, e isso não lhes importava a ponta de um corno. Em 34 anos não tivemos nenhum problema, nem nenhuma outra força policial mostrou essa falta de respeito. Olha, até um inspector da Guarda Civil me chegou a dizer que «ao teu irmão, respeito-o, porque era um verdadeiro soldado, embora no lado errado». Mas estes não respeitam nada. Fizeram-me lembrar a Polícia nazi.