A presidente do tribunal da AN que trata de um assunto surrealista com Arnaldo Otegi como acusado quer um lugar mediático. O seu desembaraço em frente às câmaras é notável. Não esqueçamos que os julgamentos são públicos e que existem gravações integrais dos mesmos, pelo que os cortes que as cadeias nos apresentam são sempre interessados, isto é, seleccionados para tentar dar uma visão parcial do que ali ocorreu. Pois bem, à senhora Murillo estão-lhe a arranjar um lugar no parnaso televisivo graças às suas supostas graças, ao seu estilo despretencioso, à sua proximidade castiça, ao seu desprezo e à sua manifesta tendenciosidade ideológica, ou seja, às suas manifestações palpáveis de contaminação para entender o que está a julgar.
Mas está tudo bem, ela pode dizer «como se bebe um copo de vinho», e em vez de ser alvo de uma recriminação pelas formas, recebe um aplauso mediático. Se diz «você não tem de pedir perdão a ninguém», porque uma tradução do euskera é uma autêntica barbaridade e o lógico é que quem se enganou peça desculpa à Justiça, ela será recordada como uma simpática juíza que afirma, sem que a toga lhe caia, que «esta sala não entendeu nada», referindo-se ao assunto que é a base da acusação, o que vem a significar que «não sabemos de que o acusamos, mas como nos cabe acusá-lo e condená-lo, fá-lo-emos».
Qualquer cidadão que tenha uma confiança mediana na ideia de que nos tribunais se busca a justiça acabará não «entendo nada», porque é degradante, ridículo, uma confirmação da incompetência jurídica em que se move o tribunal de excepção desde a sua fundação. A famosa burla da justiça agora é uma farsa constante e uma evidência da deterioração até nas suas formas mais elementares. Os meios de comunicação estão a demonstrar não servilismo, mas uma imbricação quase orgânica nesta deterioração. Recusar-se a responder sobre alguma coisa não é nem negar nem confirmar essa coisa, é adiar a resposta. Chamar cobarde a alguém por não responder é um acto gregário que Juan Ramón Lucas pratica com toda a cobardia da sua impunidade e sabendo-se parte importante da chusma linchadora.
Raimundo Fitero
Fonte: Gara
Leituras relacionadas e recomendadas:
«La juez Ángela Murillo y el vino de la Audiencia Nacional», de Jabiero
http://www.worldinconflict.es/2010/02/la-juez-angela-murillo-y-el-vino-de-la.html
«Décimas a la jueza Angela Murillo», de Carlos Tena
http://www.kaosenlared.net/noticia/decimas-jueza-angela-murillo
«Ángela Murillo», de Mikel Arizaleta
http://www.kaosenlared.net/noticia/angela-murillo