segunda-feira, 5 de abril de 2010

Começa a viagem


As expectativas criadas em torno da celebração do Aberri Eguna deste ano apresentam muitas possibilidades para a reflexão política.

Estavam presentes aqueles que esperavam que a ETA comunicasse uma trégua, a abertura de um processo de diálogo com outras forças políticas ou, simplesmente, a sua auto-dissolução. Pensavam assim, uns, à luz da trascendental iniciativa de líderes mundiais como Mandela, Adams, Mitchel ou Tutu. Outros, a partir da convicção de que o uso da força policial deixou a ETA à beira do coma operacional. E um que outro porque continua a acreditar que a ETA nunca teve razão de ser e que já é hora de cair em si.

As expectativas, quando são criadas em laboratórios especializados em intoxicar a opinião pública, acabam por sair frustradas. Porque é disso que se trata no momento da sua concepção. Passar a bola para o outro lado e responsabilizar assim o outro pelo fiasco.

Não estava à espera de nada do anteriormente exposto e, por conseguinte, não me incluo entre os frustrados. Depois de muitos anos a sobrevoar a política, não creio em decisões instantâneas, vontades forçadas ou reflexões animadas pela repressão. O que se consolida no terreno da política resulta sempre de uma profunda maturação intelectual e da existência de condições objectivas que tornem possível alcançar o cenário que se perseguia. O resto não é uma construção sólida, mas uma cabana que vai abaixo com pouco vento.

Hoje estão a ser criadas as condições que vão permitir aos independentistas impor - sim, impor - o seu direito à construção do Estado basco. É o sinal dos tempos, aqui, na Catalunya, na Irlanda, na Escócia... A partir de hoje a negação do nosso povo não será algo apresentável no concerto internacional. Existe massa crítica suficiente em Euskal Herria para que isso assim seja.

Telesforo Monzón falava de uma viagem democrática até Maltzaga e de uma segunda etapa independentista até Eibar. Os independentistas demonstraram ontem que há muitos viajantes para o segundo tramo. Agora resta saber quem é que se compromete sequer com o primeiro. E aí os jelkides [do PNV] têm muito a dizer.

Em qualquer caso, tenho a impressão de que também não se vai esperar por eles para iniciar a viagem. E depois falaremos da ETA.

Martin GARITANO
jornalista
Fonte: Gara

Sugestão:
Editorial do Gara: «Primeiro Aberri Eguna de uma nova era»

«Aberri Eguna», de Iñaki EGAÑA