segunda-feira, 3 de maio de 2010

Na sequência da última declaração da esquerda abertzale: Falam-lhes de paz e só pensam em conquistar o poder


É bastante significativo que, quando a esquerda abertzale falou de paz, as reacções do PSOE e do PP se tenham centrado na insistência de que o seu objectivo principal é que aquela não possa concorrer às eleições.

A esquerda abertzale fez uma importante declaração política em Iruñea, há oito dias, e nenhum partido ou porta-voz pôde negar que representa uma novidade. Não obstante, chama bastante a atenção que, quando o independentismo faz uma aposta na paz, a resposta do Governo espanhol, do PSOE e do PP se faça em clave exclusivamente eleitoral, sublinhando que condições (aleatórias e cambiantes no tempo) deve cumprir para poder estar nas próximas eleições ou, simplesmente, anunciando aos quatro ventos que, faça o que fizer, não poderá participar no acto eleitoral.

O ministro do Interior, Alfredo Pérez Rubalcaba, diz que considera «um exercício inútil» deter-se sequer a ler os documento que a esquerda abertzale torna públicos. E di-lo, claro está, depois de ter analisado até a colocação de cada uma das suas vírgulas. E assegurando depois que, com «ambiguidade», não voltarão à política.

Numa altura destas, é inútil apelar à separação de poderes e dizer ao ministro do Interior que não é ele, mas sim um tribunal, que deveria determinar quem concorre e quem não o faz. Ele e nós todos sabemos que aquilo que a dado momento o Governo disser é o que realmente conta ou, melhor, se torna sentença.

Portanto, é mais prático tentar ver o que se pretende com estas declarações e é óbvio que aquilo que Pérez Rubalcaba busca é o desistência da esquerda abertzale, que não prossiga numa estratégia que o Governo espanhol considera perigosa. A sua aposta em medidas que desenham um futuro de prolongamento do conflito pretende gerar dúvidas e até mesmo contradições no seio do independentismo sobre a adequação e efectividade dos passos que vai dando.

Porque, actualmente, a aposta essencial do Pacto PSOE-PP consiste em que a situação política não evolua, que não haja um mudança substancial, pelo menos até às próximas eleições municipais e forais. A presença de uma candidatura independentista de esquerda potente poria fim às suas contas sonhadas, as que se baseiam na ilegalização para poder alargar o acordo «de mudança» do Governo de Lakua às deputações e grandes municípios. Ruim e mesquinho a este ponto. Falam-lhes de paz e só pensam em continuar a aumentar o poder.

Neste contexto, o tempo joga a favor dos interesses do unionismo. Qualquer demora nos passos que possam determinar uma mudança de cenário é saudada por Zapatero, Rubalcaba, Rajoy, López, Basagoiti e C.ª como um dia, uma semana ou um mês ganhos a seu favor.

Iñaki IRIONDO
Fonte: Gara