Mais de uma centena de pessoas participou ontem, em Erromo/Itzubaltzeta (Getxo, Bizkaia), na cerimónia de homenagem a Félix Arnaiz Maeso, organizada pelo terceiro ano consecutivo pela Comissão de Festas de Erromo e pela associação de vítimas do regime franquista Ahaztuak 1936-1977, no âmbito das festas deste bairro getxotarra.
A homenagem contou com bertsolaris e dantzaris locais e com a presença da mãe, de irmãs e de outros familiares de Félix Arnaiz, jovem assassinado em 1969 durante as festas do bairro.
Os factos ocorreram no dia 2 de Agosto de 1969, por volta da uma da manhã. Um grupo de jovens cantava e divertia-se frente ao Bar Vega, ao lado da antiga estação ferroviária de Areeta/Las Arenas. O então vice-presidente da Câmara Municipal de Getxo, que residia no local, deve ter ficado incomodado com os cânticos e chamou a Polícia Municipal. De acordo com testemunhas, os agentes apareceram no local «bastante alterados».
Confrontados com a situação, os jovens decidiram ir até ao Bar Pako, na Kale Nagusia [calle Mayor], perto da Ponte Suspensa. Pouco depois, os jovens regressaram novamente às festas e, quando chegaram à passagem de nível, «apareceu numa esquina o agente da Polícia Municipal Ángel Román Barrios de pistola na mão», apontando-a a um dos jovens. Este agarrou-lhe a mão de forma instintiva, conseguindo assim desviar os dois disparos efectuados pelo polícia. Foi preso de imediato e metido numa viatura policial.
Testemunhas recordam que, pouco depois de o detido ser metido na viatura, se ouviu um disparo, que terá sido realizado pelo polícia municipal referido - parece que era um antigo agente da Guarda Civil e vivia no bairro. «Encostou a pistola ao peito de Félix Arnaiz e matou-o», dizem as testemunhas.
Esta versão não coincide com a das autoridades, que foi divulgada pelos jornais, que chegaram a qualificar a morte como «acidente fortuito», dizendo que o polícia municipal tinha disparado a arma numa «disputa» com outra pessoa e que Félix Arnaiz Maeso tinha sido atingido como «mero espectador».
Depois da morte deste jovem de 20 anos morador de Erromo, as festas foram suspensas em sinal de luto, de protesto e solidariedade.
Ontem, esta solidariedade foi sublinhada por um membro da Comissão de Festas de Erromo, que há três anos decidiu integrar o dia 2 de Agosto no programa das festas como dia «de memória e homenagem ao nosso conterrâneo Félix Arnaiz e de denúncia da impunidade para esse crime».
Marian, irmã do jovem assassinado, agradeceu essa iniciativa e, de forma especial, à associação Ahaztuak 1936-1977 «pelo trabalho desenvolvido», graças ao qual foram «resgatados de um esquecimento de mais quarenta anos» e que levou a que as instituições tenham reconhecido o crime perpetrado contra Félix e «o sofrimento que a impunidade representou para a família».
Marian Arnaiz fazia referência ao facto de Félix Arnaiz ter sido considerado «vítima da violência policial» num decreto emitido na legislatura passada pelo Governo de Gasteiz. De acordo com esse decreto, a família Arnaiz receberá uma reparação económica; uma parte do dinheiro será doado à Ahaztuak 1936-1977 por decisão da família.
Ontem, um representante da Ahaztuak agradeceu o gesto da família e afirmou que o facto de a luta ter dado alguns resultados concretos, como o do reconhecimento de Félix Arnaiz como «vítima da violência policial», é mais um passo em frente, que os «encoraja a prosseguir a luta pelo esclarecimento do crime e a apurar todas as responsabilidades». / Ver: El Diario via Ahaztuak Olvidados / Ver também: Ahaztuak 1936-1977
sábado, 3 de agosto de 2013
Homenagem em Erromo: Félix Arnaiz, um pouco menos esquecido
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