quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Madrid fixa um novo recorde de presos políticos depois da última operação: 762

É preciso retroceder quase 35 anos para encontrar um número de presos políticos bascos maior que o actual. Aconteceu no contexto da ofensiva repressiva que precedeu a morte do ditador Franco. Agora, num momento em que voltam a cimentar-se opções de mudança política, Madrid fez chegar a 762 o número dos bascos presos. Isso foi possível com a última operação contra jovens independentistas, sendo que se verificaram 31 encarceramentos em três dias.

A operação da semana passada, ordenada pelo juiz Fernando Grande-Marlaska contra jovens independentistas bascos, não só foi uma das maiores dos últimos anos como ainda possibilitou o estabelecimento de um novo recorde de prisioneiros políticos bascos: 762. Esta cifra só foi superada na época franquista, quando, por exemplo, se atingiram os 860 com os estados de excepção declarados no final de 1969.

Nos últimos anos, jamais se tinha verificado uma operação com tantos encarceramentos de uma assentada. Num fim-de-semana, a Audiência Nacional espanhola deu ordem de prisão a 31 jovens, sob a acusação de militarem na organização juvenil Segi.

Esse número veio engordar a lista do Colectivo de Presos Políticos Bascos num contexto político muito especial. Actualmente, os bascos encarcerados no Estado francês por motivos políticos são 164, e no Estado espanhol quase 600.

Mais de cem jovens detidos
O contexto político nunca foi alheio ao aumento das detenções e dos encarceramentos, tanto no franquismo como nas últimas três décadas. Como amostra, as investidas do Governo espanhol e do tribunal de excepção de Madrid contra jovens independentistas. Recorde-se como, após o final do processo de negociação em Junho de 2007, o ministro espanhol do Interior, Alfredo Pérez Rubalcaba, anunciou uma ofensiva repressiva para a qual até adiantou um número: 200 detenções e encarceramentos.

Depois deste anúncio, só entre Julho de 2007 e Maio de 2008 verificaram-se mais de 70 detenções de jovens, no âmbito de operações policiais definidas por Madrid como «contra a kale borroka» mas que na realidade, como agora, pretendiam atingir directamente a organização Segi e outras organizações políticas e sociais.

Desde Agosto de 2008, em Hego Euskal Herria - nos três herrialdes do Norte do país já tinha havido uma operação em 2007 com 14 jovens detidos - houve pelo menos outras cinco operações contra jovens independentistas, com cerca de trinta detenções. E a esta cadeia de operações e detenções há que juntar agora o encarceramento de 31 jovens de uma assentada.

No final de 2008, na sequência de uma campanha que Rubalcaba anunciou mesmo a nível internacional e que se concretizou em encarceramentos massivos como os do «caso 18/98», o número de presos políticos bascos bateu um recorde, superando os 750. Durante este ano as saídas tinham sido ligeiramente superiores às entradas na prisão. Mas agora o número dispara outra vez, e ultrapassa os 760.

Atropelamento mortal da Guarda Civil na transferência para a AN
Um carro camuflado da Guarda Civil que no sábado à tarde levava para a Audiência Nacional espanhola uma das jovens bascas detidas na madrugada de terça-feira atropelou mortalmente uma senhora de idade madrilena, depois de ter subido a grande velocidade o passeio por onde passeava. A família de María Carmen Moreno, de 84 anos, apresentou uma queixa por homicídio no Tribunal de Instrução número 18 da capital espanhola.

De acordo com um periódico madrileno, um porta-voz da Guarda Civil afirmou que o carro levava uma luz azul e o pirilampo colocado e evitou um veículo que se atravessou à sua frente, o que o terá obrigado a subir para o passeio. No entanto, não é só a família a divergir desta versão. Um polícia espanhol, fora de serviço, testemunhou o trágico atropelamento. De acordo com o jornal madrileno, este homem viu como o Renault Laguna fazia a Rua de Bravo Murillo a grande velocidade, passando todos os semáforos e subindo para o passeio, onde atropelou a octogenária. A mulher de 84 anos viria a falecer horas depois no Hospital Gregorio Marañón.

A testemunha afirmou ainda que da viatura policial saíram três pessoas com o rosto tapado por um passa-montanhas, que mudaram a matrícula do carro e tentaram fugir do local. Foram retidos pelo polícia fora de serviço até chegar a Polícia Municipal e o condutor teve de fazer o teste de alcoolemia.
Fonte: Gara