sexta-feira, 9 de abril de 2010

A gerente de um hotel de Toulouse nega que tenha albergado Anza


Le Nouvel Observateur saiu esta semana para as bancas com uma reportagem sobre «O enigma Jon Anza». De acordo com o semanário parisiense, Anza alojou-se no hotel Le Clocher de Rodez, depois de ter viajado de comboio desde Baiona, a 18 de Abril de 2009. A proprietária do estabelecimento desmentiu ontem mesmo essa informação. Não obstante, a reportagem lança algumas pistas sobre a versão que a Polícia francesa favorece.

A informação publicada por Le Nouvel Observateur assenta sobre dois pilares. O primeiro procura explicar o que aconteceu a Jon Anza depois de dar entrada no Hospital Purpan e, uma vez falecido, na morgue, tendo por base a tese já batida dos erros de coordenação.

Embora as equipas que assistiram Anza depois de o encontrarem desvanecido às portas do restaurante Hippopotamus não terem feito constar tal descrição nos seus relatórios, o jornalista Serge Raffy sustenta que «tomaram Anza por um vagabundo», o que justificará o facto de não lhe ter sido prestada demasiada atenção, ao ponto de «o deixarem esquecido» dez meses numa morgue.

Esse pilar abana se se tiver em conta a informação publicada anteriormente pelo Gara (30/03/2010), segundo a qual o hospital manteve uma comunicação fluida com a Polícia e o Tribunal da capital occitana, inicialmente para solicitar a identificação de Anza, e, após o seu falecimento, para determinar o que fazer com o corpo. De facto, remetendo-se aos «aspectos estranhos» do caso e a «uma investigação em curso», essas entidades recomendaram ao hospital universitário que não procedessem ao enterro do cadáver do militante basco.

No que concerne ao segundo pilar em que o semanário parisiense baseia a sua informação, este coincide com alguns «comentários» feitos chegar por «fontes próximas da investigação» a diversos meios de comunicação franceses. Comentários que tratam de reforçar a imagem de um «Anza com falhas de memória e desorientado» e que se teria alojado «uma ou duas noites» nalgum hotel antes de vaguear sem norte até praticamente morrer numa rua do centro de Toulouse.

Le Nouvel Observateur afirma que Anza pernoitou no hotel Le Clocher de Rodez. O semanário narra que pagou uma noite de hotel e que uma empregada o encontrou «estendido na cama, com os braços cruzados e a olhar para o tecto». Acrescenta que «era uma pessoa de aspecto estranho», que até «armou confusão» para abandonar o quarto de manhã.

O hotel, situado a dez minutos da estação ferroviária, dispõe de 43 quartos e é actualmente dirigido pelo casal Pollet. A patroa não teve ontem qualquer problema em desmentir a informação. «É alucinante», exclamava, depois de ter conhecimento do que o semanário parisiense tinha publicado.

Mme. Pollet garantiu a Le Journal du Pays Basque que nem a Polícia Judiciária nem qualquer jornalista se deslocou ao hotel ou telefonou para o hotel, situado na praça Jeanne d'Arc, a cerca de 300 metros do Boulevard Strasbourg, onde Jon Anza foi recolhido pelos serviços de socorro.

«Tínhamos aberto o hotel uns dias antes, pelo que me lembro de que entre os dias 17 e 19 de Abril me ocupei pessoalmente da supervisão da limpeza dos quartos. Estou há dez anos neste ramo e garanto-lhe que nos é proibido irromper pelos quartos para observar os clientes», precisou.

O desmentido acrescenta um novo enigma ao «caso Anza», sobre o qual Le Canard Enchaîné publicou um artigo a 1 de Abril dando conta de una «inspecção interna» no Tribunal de Baiona, que a procuradora Kayanakis ontem qualificou de rotineiro, desligando-o expressamente deste assunto.
Maite UBIRIA

Onze jovens recusam-se a prestar declarações e exigem o esclarecimento dos factos

Onze jovens independentistas recusaram-se a prestar declarações, face aos procedimentos abertos contra eles por terem participado num acto de desobediência civil, com o qual pretenderam denunciar, em Julho do ano passado na capital guipuscoana, o desaparecimento do militante da ETA Jon Anza.

Estes jovens, acusados de «desobediência e atentado à autoridade e desordens públicas», estiveram ontem presentes às portas do Palácio da Justiça de Donostia, onde tornaram pública a sua recusa a comparecer em tribunal. Apoiados por dezenas de jovens, os processados dirigiram-se a aqueles que os querem sentar no banco dos réus para indicar: «Não vamos entrar no vosso jogo e, em vez disso, aqui estamos a lançar uma questão aos mandatários espanhóis e franceses. Zapatero, Sarkozy, o que é que fizeram ao Jon Anza?».

O espectacular protesto pelo qual pretendem levar a julgamento estes jovens guipuscoanos teve lugar a 31 de Julho do ano passado. Nove solidários penduraram-se de três das pontes que estabelecem a ligação entre as duas margens do Urumea paralisando o trânsito, enquanto outros companheiros informavam turistas e transeuntes do motivo do protesto.

Como recordaram na conferência, a Ertzaintza não tardou a aparecer e a «arremeter violentamente» contra os jovens, cortando também uma corda, o que fez com que vários deles caíssem à água.

Sabem que os querem punir por «pôr a descoberto o desaparecimento de Jon Anza e a guerra suja»; mas a mesma pergunta e denúncia que os levou a realizar aquela acção de desobediência levou-os ontem a comparecer perante a imprensa, já que, apesar de o corpo do militante ter aparecido, consideram que há muitas questões ainda por esclarecer.

Reiteraram que «não vão silenciar» a juventude deste país e manifestaram a sua disposição para trabalhar com o objectivo de levar Euskal Herria até à independência, «seja construindo alternativas, seja denunciando e fazendo frente à repressão». Neste contexto, acrescentaram que Euskal Herria se encontra «num momento decisivo».

Por todo isto, encorajaram os cidadãos bascos, e em especial a juventude, a participar na manifestação que no próximo dia 17 de Abril, sábado, exigirá a verdade sobre o que aconteceu a Jon Anza pelas ruas do centro de Donibane Lohizune.
Oihana LLORENTE

Fonte: Gara