domingo, 15 de fevereiro de 2009

A esquerda ‘abertzale’ exige democracia e mostra os seus boletins à frente da Ertzaintza


Ainda que o contingente policial enviado para as imediações de Aita Donostia, em Bilbau, tenha impedido que a manifestação se desenrolasse com normalidade, milhares de pessoas juntaram-se no ponto de encontro para dar voz à leitura política da esquerda abertzale, que reiterou o seu apelo aos cidadãos para que no 1 de Março votem na D3M. “Votos que, definitivamente, vão ajudar este povo a sair deste colapso e deste ciclo antidemocrático”, afirmaram.

“No dia 1 de Março vamos votar. E é o voto que mais estragos vai fazer a Rubalcaba, que está farto de meter o dedo em Ajuria Enea e no Parlamento de Gasteiz. É ele que manda. E nós vamos votar na D3M, Demokrazia Hiru Milioi. E estes votos vão contar mais que nunca em Madrid e em Ajuria Enea. E são os que, definitivamente, vão ajudar este povo a sair deste colapso e deste ciclo antidemocrático que o está a conduzir para uma situação sem saída”. Foi com firmeza e de forma taxativa que a histórica militante abertzale Itziar Aizpurua se pronunciou ontem à tarde junto a La Casilla, em Bilbau, rodeada de milhares de pessoas que levavam nas suas mãos boletins eleitorais da D3M, a candidatura para a qual a esquerda abertzale pediu o voto, no dia 1 de Março.

Apesar de na sexta-feira à noite se ter anunciado a proibição, por parte da Audiência Nacional espanhola, da manifestação convocada sob o lema «Demokrazia orain!» [Democracia, agora!], milhares de pessoas aproximaram-se da praça Aita Donostia, que nessa altura já se encontrava ocupada por dezenas de carros da Polícia autonómica. A dimensão do contingente policial dava a entender que a Ertzaintza não ia titubear, mas isso não representou qualquer obstáculo para que milhares de pessoas se juntassem em La Casilla.

Já depois das 17h30, as pessoas ali concentradas ocuparam a via pública enquanto faziam ouvir palavras de ordem como «D3M aurrera» [Força, D3M], «Independentzia» ou «Demokrazia Euskal Herriarentzat» [Democracia para o País Basco]. De seguida, milhares de mãos elevaram-se perante as barreiras da Ertzaintza mostrando os boletins eleitorais da Demokrazia Hiru Milioi, a candidatura eleitoral que, juntamente com o partido Askatasuna, foi impedida pelos tribunais espanhóis de concorrer às eleições autonómicas em Araba, Bizkaia e Gipuzkoa*.

Embora a manifestação não se tenha realizado como estava previsto, ocorreu, isso sim, uma massiva concentração durante meia hora junto a La Casilla. A Polícia autonómica não interveio nessa altura.
Nesse contexto, e perante dezenas de meios de comunicação, a histórica militante abertzale e terceira candidata da D3M por Gipuzkoa, Itziar Aizpurua, criticou com dureza o facto de, além de impedirem a participação “legal” da esquerda independentista na luta eleitoral, “nos mandarem a Ertzaintza para nos deter e não nos deixarem mostrar-nos”.“Neste momento, menos que nunca, não se pode dizer que exista democracia no Estado espanhol ou em Euskal Herria”, referiu Aizpurua.


Reforma ou rotura democrática
“Todos os partidos que sustentam este tipo de situações são os que também participam de esta falta de democracia”, criticou.
Assegurou que a esquerda abertzale “jamais seria capaz” de participar numas eleições antidemocráticas, fosse o PNV, a IU ou qualquer outro partido político a ser excluído. “Nós nunca o faríamos”, enfatizou.

“Nem Ibarretxe nem López vão solucionar os problemas deste país”, prosseguiu a histórica militante abertzale, afirmando também que “nós vamos seguir em frente, com dignidade e com solenidade”. Lembrou que a questão de fundo de hoje é a mesma de há três décadas: reforma ou rotura democrática.
E advertiu que, no caminho para a consecução de um marco democrático, “a esquerda abertzale estará de frente, estará firme, e estará no seu posto; vai continuar a estar nas localidades e vai estar com as pessoas que defendem o direito deste povo à sua livre determinação e à sua territorialidade”.

Rubalcaba «manda» em Gasteiz
Foi então que Itziar Aizpurua afirmou que os boletins com as siglas da D3M terão um valor especial no dia 1 de Março, já que se será o “voto que mais estragos vai causar a Rubalcaba”. Um ministro do Interior que, segundo comentou, “está farto de meter o dedo em Ajuria Enea e no Parlamento de Gasteiz. É ele que manda”.
“Estes votos vão contar mais que nunca em Madrid e em Ajuria Enea”, concluiu. Depois da intervenção de Aizpurua, milhares de pessoas permaneceram mais alguns minutos ali concentradas, cantando o «Eusko gudariak» no remate do acto político.

Foi possível ouvir as suas palavras por cima do som das sirenes das furgonetas policiais, que antecipavam as cargas da Ertzaintza contra os tentaram manifestar-se nas ruas circundantes, onde ocorreram alguns incidentes, como o corte do trânsito com contentores.

Gari MUJIKA

Notícia completa: Gara

* Não esquecer que Euskal Herria é composta por mais quatro herrialdes: Nafarroa, actualmente sob administração política espanhola; e Lapurdi, Nafarroa Beherea e Zuberoa, actualmente integrados no Estado francês.

Ver ainda: O desejo de democracia abre caminho por entre as ruas tomadas pela Ertzaintza

«O desejo de democracia foi mais forte do que o medo da acção violenta das dezenas e dezenas de agentes da Ertzaintza enviados por Lakua para cumprir a ordem de Garzón, que proibira a manifestação. Face à ameaça, milhares de pessoas uniram as suas vozes e, com o boletim da D3M na mão, exigiram democracia para Euskal Herria.»