terça-feira, 13 de setembro de 2005

Estado espanhol quer a paz?

[O Fiscal Geral do Estado destaca na sua Memória correspondente a 2004 que o desaparecimento da ETA "está cada vez mais próximo" devido tanto à eficácia da acção policial e judicial, assim como da cooperação internacional "como principal, senão único, instrumento para combater o terrorismo".

A Memória foi apresentada esta manhã pelo Fiscal Geral do Estado, Cándido Conde-Pumpido no acto de abertura do ano judicial, durante o qual sublinhou que o "extraordinário nível" da eficácia policial e judicial e a acção legislativa dos últimos anos "delibitaram extraordinariamente" a ETA e permitem contemplar esperançados um fim próximo desta modalidade terrorista".]

em elmundo.es



As palavras do Fiscal Geral do Estado roçam o ridiculo. Para além de esquecerem que a ETA e o movimento independentista basco não podem ser derrotados pela repressão policial, militar e judicial, já que são organizações que nasceram do e com o povo basco e que estão enraizadas no seu seio, esquecem que o actual abrandamento de acções da ETA se deve a uma estratégia de tentativa de negociação com vista à conquista da paz, à resolução do problema dos presos políticos e, acima de tudo, à escolha democrática dos cidadãos bascos do seu próprio destino. Estas palavras pretendem lançar o descrédito na política de negociação de paz e legitimar o método repressivo usado pela "acção legislativa dos últimos anos", e ainda usada nesta legislatura, contribuindo para o insucesso das esperanças que se configuram no horizonte do conflito. É preocupante que assim se pense, que perante todos os esforços das organizações bascas para a resolução do conflito as instituições do Estado espanhol continuem a preconizar a via da repressão ao invés de seguirem a via do diálogo. O Movimento de Libertação Nacional Basco não conseguirá manter as portas abertas ao diálogo se não vê do inimigo senão a prisão, a tortura, o autoritarismo e a prepotência.

O movimento independentista já abriu as portas, resta saber se o Estado espanhol continuará a fecha-las e, se as fechar definitivamente, se voltará a mentir acusando a ETA de não pretender a paz.