domingo, 28 de fevereiro de 2010

Apresentação da Independentistak: novos ares e ventos de mudança para gerar um novo ciclo

Horas antes da ciclogénese explosiva, chegavam a Donostia ventos mais agradáveis, ares de mudança que crescem pouco a pouco, sendo que a única coisa que pretendem derrubar são esquemas anquilosados. O acto de apresentação mostrou que a Independentistak não procura ser um ciclone repentino para arrasar tudo e depois se perder, mas antes um sopro contínuo capaz de gerar um outro ciclo, de trazer um outro cenário.

As metáforas climatológicas eram forçosas no meio dos grupos que se formaram antes do acto. «Ciclogénese independentista», sugeriam alguns participantes aos jornalistas como possível parangona. «Tormenta política», ironizava outro dos ali reunidos em função da expectativa mediática da véspera. Nada disso. Brincadeiras à parte, a rede Independentistak é neste momento como um sussurro que, isso sim, aspira a crescer em intensidade e força a pouco a pouco.

A julgar pelas mensagens lançadas no sábado, está claro que não se trata de uma brisa suave que se limita a refrescar de forma passageira o acalorado ambiente basco, mas também não aspira a ser um vendaval capaz de levar tudo pela frente e que depois se dispersa sem resultados práticos. Pelo contrário, salienta que nasce para conquistar vontades pouco a pouco, e que vem para ficar.

A noção de que as pressas não são boas conselheiras ficou clara na própria concepção do acto. Não houve perguntas, de forma a dar destaque ao conteúdo da iniciativa: o manifesto «Ari gara», por um lado, e a explicação dos objectivos e dos procedimentos que a rede utilizará, por outro. Ouviram-se, lado a lado, as três línguas usadas no país -euskara, castelhano e francês - para que ninguém se sentisse à margem. E reiterou-se a noção de que a iniciativa não se encontra encerrada, nem pouco mais ou menos, antes em construção e aberta a todo tipo de contribuições, pelas vias clássicas ou através das tecnologias modernas.

Solene, mas original
Por isso, a apresentação teve forçosamente uma certa «solenidade», como admitiram os seus promotores. De facto, todos chegaram com grande pontualidade, de tal forma que o facto de o parque do Palácio de Miramar se encontrar fechado a sete chaves pelas inclemências do temporal não implicou qualquer atraso. Já dentro do palácio, um cenário muito sóbrio, com uma palavra apenas no atril: «Independentistak».

Mas a solenidade não era sinónimo de irrelevância, neste caso. Rapidamente começaram as surpresas. Num dia em que meios de comunicação como o Diario de Navarra vaticinavam que se ia apresentar «a nova franquia eleitoral dos batasunos», o manifesto deixou claro que a Independentistak é uma coisa bem distinta, «fora do jogo dos partidos e da competição eleitoral». Os que ali foram unicamente para fazer a chamada dos políticos presentes também depararam com algo inesperado, já que a maioria dos congregados provém de outros âmbitos. E os que tinham antecipado que se tratava de uma iniciativa monocromática encontraram na lista de promotores nomes e trajectórias de todo o tipo, desde a do escritor Joan Mari Irigoien à do professor Mario Zubiaga, da do histórico da esquerda abertzale Tasio Erkizia à dos deputados do NaBai Paula Kasares e Maiorga Ramírez, da de Txillardegi à de Sabin Intxaurraga, do surfista Kepa Acero à bertsolari Onintza Enbeitia, do ex-presidente do CES Antxon Lafont aos sindicalistas Paul Nicholson ou Unzalu Salterain, de Pirritx eta Porrotx aos sacerdotes Félix Placer e Ciriaco Molinuevo. E assim por diante até perfazer os 139 signatários, a maior parte dos quais não precisa de apresentação e que partilham fundamentalmente o facto de serem independentistas: Nekane Alzelai, Hafid Amahazian, Battita Ameztoi, Floren Aoiz, Miren Aranguren, Ana Arbulu, César Arrondo, Óscar Bañuelos, Patxi Biskert, Joseba Beramendi Exprai, Eneko Compains, Pello Esarte, Rufi Etxeberria, Gabirel Ezkurdia, Aratz Gallastegi, Xabier Isasi, Nekane Jurado, Ramón Labayen, Juanjo Martínez Leunda, Laura Mintegi, Gabi Mouesca, Fredi Paia, Iñaki Regil, Arritxu Santamaría, Dani Saralegi, Toni Strubell, Martxel Toledo, Maite Ubiria, Jesús Valencia, Walter Wendelin, Xabier Zubizarreta...

Todos eles já estão a soprar para trazer um novo enquadramento no qual a independência seja possível. O vento novo corre também pelas frestas abertas da Internet. Na página independentistak.net podia ler-se a notícia da apresentação pouco depois de se ter levado a cabo, chegavam depois as primeiras adesões ao manifesto «Ari gara» e, à tarde, já se contavam às centenas os fans que tinham aderido através da rede social Facebook. Para o Aberri Eguna, dentro de cinco domingos, ninguém duvida de que serão muitos milhares num país em que a cota de independentistas se situa por cima dos 30% em todas as sondagens desde há vários anos. Matéria-prima suficiente para começar a construir uma outra realidade com paciência e determinação, longe das pressas e da falta de bases sólidas que, segundo um perito como Brian Currin, foi letal em processos anteriores.

Ramón SOLA
Fonte: Gara

A rede Independentistak apresentou-se em Donostia

O movimento Independentistak deu-se a conhecer em Donostia com a leitura do manifesto «Ari gara» [Estamos a fazer]. Durante a apresentação, anunciaram que puseram «o motor a funcionar».

Manifesto: eu cas

Setenta dos 139 promotores da rede Independentistak participaram ontem no acto realizado no Palácio Miramar, em Donostia, tendo afirmado que estão a reunir e a organizar forças para dar forma a uma nova iniciativa.

A apresentação, que decorreu em euskara, castelhano e francês, esteve a cargo de Garbiñe Bueno, Naroa Iturri e Battitta Ameztoi, enquanto Maite Aristegi, Txutxi Ariznabarreta e Theresa Alsouet leram o manifesto «Ari gara».

Fizeram questão de sublinhar que, apesar das especulações, não são uma coligação de partidos nem uma plataforma de colectivos, mas um movimento independente, que estará fora da competição eleitoral, e plural, porque «o nosso povo nos pediu. Queremos espalhar aos quatro ventos que é uma exigência do nosso povo, é um desejo do nosso povo, aquilo que subjaz a este esforço».

O acto contou com a participação de representantes do âmbito político como Maiorga Ramírez, Rafa Larreina, Sabin Intxaurraga, Nekane Alzelai, Tasio Erkizia, Karmele Aierbe, Antxon Gómez, sindicalistas como Maite Aristegi, analistas como Gabirel Ezkurdia e Floren Aoiz, economistas como Anton Lafont, desportistas como Martxel Toledo, advogados como Iñigo Santxo, escritores como Juan Mari Irigoien e Txillardegi.

Durante a apresentação, os seus promotores explicaram que irão trabalhar em prol de um cenário democrático também com aqueles que defendam outras ideias diferentes das dos independentistas.

Fizeram ainda saber que vão promover um Aberri Eguna [Dia da Pátria] entre Irun e Hendaia e que a convocatória será feita pelas pessoas que adiram ao manifesto.
Fonte: Gara

O Olhar de Tasio

Tasio (Gara)

A esquerda «abertzale» face às últimas denúncias de tortura


Mediante esta nota de imprensa a esquerda abertzale quer denunciar firmemente a onda de detenções de cidadãos bascos registadas nestas últimas semanas e os graves casos de tortura que se verificaram nos aquartelamentos dos diversos corpos policiais que operam sob as ordens do governo espanhol.

Devemos recordar que cinco dos detidos tiveram de ser tratados em hospitais e que o hernaniarra José Camacho permaneceu hospitalizado vários dias devido às graves torturas que lhe foram infligidas pela Guarda Civil na semana passada.

Esta situação é especialmente grave, uma vez que ocorre num contexto político marcado pela iniciativa da esquerda abertzale proposta na resolução «Zutik Euskal Herria». A esquerda abertzale manifestou o seu compromisso em colocar toda a sua prática ao serviço da união de forças e da dinamização popular de forma a que o Processo Democrático seja uma realidade quanto antes. Do mesmo modo, e tal como anunciámos em Altsasu e reiterámos em «Zutik Euskal Herria», a esquerda abertzale compromete-se com um Processo Democrático que se caracteriza pelo recurso exclusivo a vias políticas e democráticas e regido pelos Princípios do senador Mitchell. Esta é uma decisão unilateral da esquerda abertzale.

Contudo, e isto é óbvio, é impossível levar Euskal Herria para um novo cenário democrático de confrontação política exclusiva quando os passos são dados unicamente por parte da esquerda abertzale. Fazemos um apelo a todos os agentes e especialmente ao Estado espanhol no sentido de actuar com responsabilidade e de dar passos que possibilitem esta mudança de cenário.

Neste sentido, a esquerda abertzale quer denunciar a atitude mantida nestas últimas semanas por alguns agentes políticos e meios de comunicação: pretendeu-se distorcer e retirar valor à aposta da esquerda abertzale recorrendo ao discurso simples e batido sobre a atitude da esquerda abertzale face a uma hipotética acção armada da ETA. Ao invés, as únicas acções violentas foram levadas a cabo pelas forças policiais espanholas detendo e torturando selvaticamente dezenas de bascos e bascas.

Os agentes políticos e meios de comunicação que tanto criticam a esquerda abertzale não têm nada a dizer perante os casos de tortura? Vão continuar a dar crédito a versões policiais inverosímeis? Ou vão fazer uma aposta sincera numa mudança substancial na situação política basca, tal como esquerda abertzale o fez?

Por último, a esquerda abertzale vai levar a denúncia dos últimos casos de tortura a todos os municípios bascos, apresentando em todas as câmaras municipais moções de denúncia da tortura e exigindo a abolição do regime de incomunicação.

Ezker Abertzalea,
2010ko otsailak 26

Fonte: ezkerabertzalea.info

Zutik Euskal Herria (eu)
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O Parlamento de Gasteiz aprova uma resolução pouco convincente a favor da absolvição dos imputados do «Egunkaria»


Nela se «deseja» que os arguidos do diário Egunkaria sejam absolvidos, e o EA não participou na votação por considerar que o texto do Aralar, aprovado por todas as forças com assento parlamentar excepto o PP e a UPyD, é insuficiente, já que não condena a prática da tortura exercida sobre os jornalistas.

O Parlamento de Gasteiz aprovou uma resolução em que manifesta o seu «desejo» de que o julgamento contra o Egunkaria termine de forma «definitiva e satisfatória, com a absolvição dos imputados, na linha seguida pelo magistrado» e manifesta a «preocupação» da Câmara relativamente à situação laboral e pessoal dos imputados desde o fechamento do Euskaldunon Egunkaria».

Jesús Mari Larrazabal (EA) mostrou-se bastante crítico com o texto apresentado por considerar que é «insuficiente» e defendeu a emenda que tinha apresentado ao documento original do Aralar, em que propunha ao Parlamento que condenasse a tortura denunciada pelos arguidos.
Fonte: Gara via kaosenlared.net

Testemunho de Martxelo Otamendi


Declarações de Martxelo Otamendi logo após a saída da prisão.

Concentrações em frente aos tribunais para denunciar acosso aos familiares dos presos


Para denunciar o acosso e as tentativas de humilhação aos familiares e amigos dos presos políticos e exigir um tratamento digno, no último sábado houve diversas concentrações junto aos tribunais das capitais Hego Euskal Herria [País Basco Sul]: 200 pessoas em Donostia, 140 em Bilbo, 90 em Gasteiz e 180 em Iruñea. Em Tolosa (Gipuzkoa), também se verificou uma concentração com uma hora de duração e na sexta-feira, em Sestao (Bizkaia), para além da concentração em frente ao tribunal, apresentaram ainda 40 queixas judiciais.

Contra a «política prisional criminosa», inúmeras concentrações
Em Antzuola concentraram-se 25 pessoas, 22 em Berriz, 84 em Azpeitia, 10 em Muskiz, 229 em Ondarroa, 45 no bairro de Amara (Donostia), 50 em Zumaia, 100 em Oñati, 25 em Amezketa, 30 em Getaria, 19 em Mundaka, 35 em Aramaio, 25 em Bermeo, 600 em Iruñea, 25 em Legorreta, 47 em Deba, 25 em Elgeta, 30 em Uharte, 120 em Galdakao, 13 em Urduliz, 12 em Plentzia, 17 em Trintxerpe, 185 em Zarautz, 31 em Trapaga, 25 em Munitibar, 42 em Arrigorriaga, 20 em Zaratamo, 85 em Aulestia, 25 em Ataun, 8 em Gatika, 56 em Leioa, 15 em Maule, 50 em Donibane-Lohizune, 71 em Bergara, 22 em Irurtzun, 540 em Gasteiz, 53 em Santurtzi e 65 em Beasain.

Em Busturia juntaram-se 44 pessoas e deram as boas-vindas ao ex-preso Urko Manzisidor. Em Sestao estiveram presentes 55 pessoas, 40 em Amurrio, 60 em Sopela, 100 em Zornotza, 50 em Arbizu, 74 em Usurbil, 23 em Anoeta, 34 em Etxebarri, 82 em Lazkao, 28 em Urnieta, 15 em Zizurkil, 75 em Barakaldo, 150 em Durango, 35 em Bakio, 60 em Elgoibar, 65 em Erromo, 38 em Gares, 61 em Larrabetzu, 78 em Basauri, 20 em Bera, 25 em Guardia, 140 em Oiartzun, 25 em Zuia, 225 em Hernani e em Altsasu 50 pessoas fizeram uma corrente humana.

Em Villabona 76 pessoas participaram na concentração, 42 em Pasai Donibane, 120 em Lasarte, 53 em Lizarra, 40 em Ajangize, 12 em Usansolo, 33 em Ataun, 45 em Iurreta, 8 em Sondika, 60 em Ibarra, 10 em Lemoiz, 9 em Angelu, 21 em Uztaritze, 50 em Baiona, 28 em Garazi, 7 em Senpere, 42 em Urduña, 130 em Lekeitio, 60 em Arratia e 66 em Portugalete. Em Araia estiveram 15 pessoas, 115 em Elorrio, 78 em Pasaia, 66 em Gernika, 47 em Barañain, 16 em Astigarraga, 11 em Lekunberri, 34 em Berango, 25 em Zalla, 67 em Urretxu-Zumarraga, 63 em Etxarri-Aranatz, 85 em Leitza, 82 em Azkoitia, 54 em Lesaka, 45 em Berriozar, 25 em Irunberri, 43 em Lezo, 41 em Aretxabaleta, 280 em Donostia, 100 em Irun e 130 em frente à Sabin Etxea e 200 no Arriaga, em Bilbo. Em Algorta concentraram-se 230 pessoas, que deram as boas-vindas a Enrique Noya.

Obstáculos colocados pela Ertzaintza
Em Andoain (Gipuzkoa), 33 pessoas formavam uma cadeia humana quando a Ertzaintza os obrigou a sair do passeio. Em Lizartza (Gipuzkoa), as 40 pessoas que ali se concentraram foram obrigadas a formar dois grupos, com o argumento de que não tinham autorização para ali estar.
Fonte: etxerat.info e Gara

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Futebol não é só futebol


O trajecto europeu do Athletic deste ano merece bem uma reflexão de carácter desportivo que verse sobre os altos e baixos mostrados pela equipa basca na competição continental. A derrota de quinta-feira merece também, sem dúvida, uma análise neste sentido. Mas nas últimas jornadas a perspectiva sociopolítica, para colocar as coisas nestes termos, sobrepôs-se à meramente desportiva. Diferentes grupos de extrema-direita já tinham realizado uma convocatória unitária na Áustria que implicou a paragem da partida e uma ameaça para jogadores e seguidores vermelhos e brancos. Os lemas cantados pelos de extrema-direita naquela ocasião - com vivas a Espanha e a Franco acompanhados de simbologia nazi -, que se voltaram a repetir depois em Bilbau e de outra forma também na quinta-feira em Bruxelas, mostram que esses grupos sabem do que estão a falar, contra que equipa e povo se dirigem.

O Athletic de Bilbao é um clube que, para lá de fobias e filias, das rivalidades próprias do desporto, é considerado em todo o mundo um exemplo pela importância que concede às suas escolas de jovens jogadores, pela forte personalidade que a sua política desportiva revela. Algo que identificou historicamente as equipas bascas e, de um modo mais geral, o povo basco. Por isso não se pode considerar um acaso que o Athletic e os seus seguidores se tenham convertido num alvo à medida de gente de extrema-direita que, tomando o futebol como desculpa, se dedica a propagar dentro das suas cidades e por todo o mundo uma ideologia abertamente fascista. Ideologia que os bascos conhecem bem por terem sofrido com ela frequentemente, independentemente da equipa de que são adeptos ou de gostarem ou não de desporto.

É óbvio que, contradizendo a célebre frase de Boskov que diz que «futebol é futebol», o futebol é quase sempre algo mais que futebol. O problema é quando aquilo que se passa à volta desse desporto não tem nada a ver com o futebol. Não restam dúvidas de que, na quinta-feira, ganhou a melhor equipa sobre o terreno. Fora dele, o jogo contra a persistente e perigosa estupidez humana continua.
Fonte: Gara

Currin afirma que o processo terá de se consolidar para ganhar apoio internacional


«A esperança é algo que cresce com o tempo». Uma frase do próprio Currin aparecia no palco em que dissertou sobre as claves que, em seu entender, mostram o compromisso estratégico da esquerda abertzale com um processo democrático.

Chegou meia hora atrasado devido a problemas aéreos, pediu desculpas e enfrentou uma sala cheia esperando não defraudar as expectativas das centenas de pessoas que se deslocaram ao auditório da casa cultural de Niessen, em Errenteria (Gipuzkoa). Perante um público muito distinto daquele que encontrou na terça-feira em Madrid, o «facilitador» sul-africano Brian Currin arrancou a sua conferência sem sequer a ter preparado antecipadamente, mas com uma mensagem muito clara dirigida tanto aos cidadãos bascos como, em especial, à base social da esquerda abertzale.

Embora tenha sido no fim que vincou as duas claves que julga deverem ser interiorizadas pelos independentistas bascos para levar a cabo um processo bem-sucedido, «legalização» e «confiança» foram termos usados logo desde o início da sua intervenção. Evitando comparações mas admitindo similitudes, recordou aquilo que se passou na África do Sul.

Disse que após a ilegalização do Congresso Nacional Africano (ANC) e o encarceramento de líderes políticos como Mandela, em 1963, «houve um período deprimente, porque não se conseguiu nada e a situação se agravou». Referiu que duas décadas depois, no entanto, uma nova geração de líderes mudou de estratégia unindo os organismos numa Frente Democrática que actuou de forma legal durante pelo menos quatro anos. Sublinhou que esse período e essa mudança estratégica foram essenciais, porque «se estabeleceu uma base política para que o ANC voltasse à legalidade».

«Quero dizer que os líderes se deram conta, a determinado momento, de que, se queriam trabalhar no seu país, tinham de ser legais», disse Currin. Para mostrar a situação contrária, recorreu «ao exemplo que sempre uso: é como querer roubar um banco, avisar o banco que o vamos roubar e depois sermos detidos».

Em seguida, Currin questionou-se sobre o que se pode alcançar em Euskal Herria sem que a esquerda abertzale seja «legal». E respondeu que o melhor exemplo foi a última tentativa de negociação, que julga ter sido bastante dificultada pela ilegalização, além de criar ainda um outro problema: a falta de transparência. Currin defende que a sociedade deve estar sempre a par dos passos que os seus líderes estão a dar.

Tal como fez na terça-feira em Madrid, na quinta, em Errenteria, o perito sul-africano recordou que o processo da esquerda abertzale do qual surgiu a resolução «Zutik Euskal Herria» começou há dois anos, com dirigentes encarcerados, mas que, apesar disso, gerou uma nova via estratégica que Currin defendeu, incitando os cidadãos a desenvolvê-la sem esmorecer e «com coragem».

Movimentos internacionais
Referiu estar bem consciente de que há sectores na própria esquerda abertzale que possuem «dúvidas» sobre uma aposta em que «o recurso à violência deixa de ser uma opção», mas perguntou qual seria a alternativa. «Se a violência continuar, uma coisa é certa: jamais se alcançarão os objectivos políticos da autodeterminação e soberania».

Tal como em Madrid, na quinta-feira também insistiu especialmente na necessidade de restabelecer a confiança entre os partidos políticos e continuar a «consolidar» a colaboração. Mencionou igualmente a necessidade de a esquerda abertzale conseguir que o Governo espanhol tenha confiança num processo democrático, e recordou que a resolução «Zutik Euskal Herria» conta para isso com o valor acrescentado de ser unilateral e que incluir os Princípios Mitchell.

Mas seguramente o elemento de maior destaque chegou com a sessão de perguntas, ao ser questionado sobre a necessidade de que o impulso seja dado também a nível internacional. O advogado sul-africano disse que tem conversado sobre Euskal Herria com «pacificadores» de todo o mundo e que dentro de algumas semanas dará a conhecer uma lista de personalidades que saúdam a decisão tomada.

Mas foi mais longe. Afirmou que a irreversibilidade do processo - conceito que, realçou, é selado pela resolução «Zutik Euskal Herria» - chegaria com um cessar-fogo por parte da ETA, «verificado e seguido por uma entidade independente», e mostrou-se inteiramente seguro de que, chegado a esse ponto, haverá países europeus e e de outras paragens que apoiarão um processo de resolução no país.

Gari MUJIKA
kazetaria

Fonte: Gara

Tortura: denúncia de 21 cidadãos bascos desde o início do ano e juiz da AN sai do torpor


Desde o início do ano 21 cidadãos bascos denunciaram ter sido torturados. Entretanto, um juiz da AN espanhola, tribunal de excepção fechado num torpor que o impede múltiplas vezes de aplicar medidas de prevenção contra a tortura, que faz ouvidos moucos às denúncias dos alegadamente torturados, que manda para a prisão quem disse ter assinado declarações forjadas sob tortura, acordou subitamente e mandou abrir uma investigação na sequência das denúncias efectuadas pelos detidos na última semana, segundo fizeram saber os advogados dos detidos. O juiz chama-se Ismael Moreno, e o caso é quase tão raro como ver um elefante a passear com a família pela Patagónia. Curiosamente, as denúncias de José Camacho, que foi hospitalizado na semana passada e já recebeu alta, encontrando-se actualmente na prisão, não se integram no rol de alegadas torturas a investigar.

Izagirre e Noya denunciam maus tratos durante o período de incomunicação

Os advogados Haritz Eskudero e Arantxa Aparicio e familiares das pessoas detidas nas operações levadas a cabo desde o princípio do ano compareceram em Hernani e apresentaram dados arrepiantes: 21 pessoas denunciaram ter sido torturadas e quatro delas tiveram de ser hospitalizadas em consequência da forma como foram tratadas durante o período em que estiveram incomunicáveis nas mãos de diversos corpos policiais e da Guarda Civil. O último hospitalizado, o hernaniarra José Camacho, recebeu alta na quarta-feira e já se encontra na prisão.

Os advogados afirmaram que, enquanto as pessoas que defendem permaneceram incomunicáveis, o seu trabalho esteve limitado, não lhes foram prestadas informações sobre os detidos e não puderam apresentar-se no processo. O Tribunal de Instrução número 2 da Audiência Nacional nem sequer respondeu ao pedido dos familiares no sentido de que fosse aplicado aos detidos as medidas previstas contra a tortura.

Referiram ainda que o médico forense elaborou todos os dias um relatório médico em que se incluíam as denúncias de tortura apresentadas pelos detidos, afirmando que o juiz, mesmo tendo recebido todos os dias esse relatório, decidiu não só mantê-los sob incomunicação como ainda prorrogá-la até ao período máximo possível.

Depois, os detidos relataram os tormentos por que passaram perante o juiz Ismael Moreno, que, segundo fizeram saber os advogados, decretou a abertura de uma investigação, dada a credibilidade das denúncias.

As instituições, «cegas, surdas e mudas»
Na conferência, um representante do Movimento pró-Amnistia criticou o facto de as principais formações políticas e instituições se terem mantido «cegas, surdas e mudas» face a uma realidade tão cruel. «Não há declarações, nem manifestações nem condenações», constataram.

Sublinharam que o Estado espanhol utiliza a «tortura para alcançar objectivos políticos», e para tal recorre a «todos os instrumentos que tem para obter a maior eficácia possível do uso da tortura, por um lado, e negar e esconder a sua existência, por outro».
«Através da tortura, obtêm informação política e policial; conseguem declarações de culpa, que são posteriormente utilizadas como provas contra os cidadãos que foram detidos e torturados», referiram.

Afirmaram ainda que a declaração efectuada durante o período de incomunicação nas instalações policiais tem muitas vezes mais valor que a realizada na presença do juiz e acusaram os meios de comunicação de «silenciar sistematicamente» a realidade da tortura. Consideram necessária, por isso, a contínua mobilização contra a repressão.
Fonte: Gara

Anuário Repressivo de 2009: «É preciso juntar forças para forçar o Estado a desmontar toda a sua máquina repressiva»

O Movimento pró-Amnistia de Nafarroa apresentou ontem o Urtekaria / Anuário Repressivo de 2009 e os dados mais salientes da «violência dos estados»
Pelo terceiro ano consecutivo, o Movimento pró-Amnistia de Nafarroa editou um Anuário em que procurou recolher «o maior número possível de violações de direitos humanos, civis e políticos dos cidadãos navarros.» Os dados e episódios repressivos que se incluem neste trabalho são «somente uma amostra» daquilo que Nafarroa «sofre diariamente». Reconhecem que não estão presentes todos os factos ocorridos, «mas podemos afirmar que todos os que aparecem nestas páginas são factos reais.»
«Acontecimentos violentos, violência, que muitas vezes nem sequer foi notícia nos principais meios de comunicação que afirmam estar contra a violência. Violência que, naturalmente, não mereceu ser abordada pelos políticos profissionais, que tão preocupados dizem estar com os direitos das pessoas», afirmou Josu Esparza.
Tal como foi referido pelo militante do MPA, o objectivo deste Anuário consiste em «mostrar a realidade oculta que assola uma parte considerável da sociedade navarra», e que vê diminuídos os seus direitos por defender «uma mudança política, social ou cultural para este Povo».

Radiografia da repressão
Josu Esparza referiu que 2009 acabou com um total de 106 presos políticos navarros e navarras, o número mais alto dos últimos anos. Nenhum deles se encontrava em prisões bascas.
No ano passado, 19 pessoas foram detidas ao abrigo da legislação antiterrorista, oito das quais denunciaram ter sido torturadas.
Outras duas pessoas denunciaram ter sido sequestradas em acções de guerra suja, e uma delas, Alain Berastegi (presente na conferência de imprensa), denunciou ter sido torturado.
Por outro lado, quatro presos foram agredidos na prisão.
Do ponto de vista económico, ascendeu a quase 225 000 euros a quantia que cidadãs e cidadãos navarros tiveram de desembolsar em fianças para recuperar a sua liberdade.
Para além disso, afirmaram que 18 actos políticos foram proibidos pela Audiência Nacional. Houve ainda cerca de 30 ataques fascistas na forma de inscrições pintadas, ameaças, danos materiais em propriedades privadas, etc.
Por outro lado, houve 18 julgamentos contra cidadãos navarros em tribunais de excepção e foram às dezenas as notificações para prestar declarações na AN espanhola.

Alargamento da criminalização e endurecimento dos métodos repressivos
Destes dados, o MPA extrai duas conclusões: que a criminalização «está a alastrar» a cada vez mais sectores da população e que o Estado «endureceu os seus métodos de repressão». Josu Esparza afirmou que «a aposta do Estado» segue por vias «exclusivamente militares e policiais para lograr os seus principais objectivos políticos».

Muro Popular
Josu Esparza considerou «ser necessário aparecer como povo face a estes ataques do Estado», já que são «agressões que atacam os alicerces de Euskal Herria enquanto nação». Neste sentido, defendeu que se deve «unir forças para obrigar o Estado a desmontar toda a sua máquina repressiva e dotar os cidadãos de liberdades democráticas.»
Fonte: apurtu.org

A Euskalerria Irratia apresenta uma fórmula justa, mas o Governo Sanz resiste

Após a anulação judicial do concurso de concessão de licenças de rádio efectuado em 2007 em Nafarroa, a Euskalerria Irratia propôs na quinta-feira ao Governo navarro uma fórmula justa para resolver a situação. Propõem que sejam empregues os relatórios periciais já existentes e consolidados de forma a atribuir a classificação correspondente e resolver assim o concurso.

A proposta foi entregue em mão, na quinta-feira, pelo director da emissora euskaldun, Mikel Bujanda, ao porta-voz do Governo navarro, Alberto Catalán. Nela recorda-se que a sentença recentemente decretada pelo Tribunal Superior de Justiça de Nafarroa faz retroceder o processo de atribuição até à acta de contratação de 1998. A Euskalerria Irratia realça que nela já existe uma lista com classificações baseadas em quatro dos oito critérios da tabela e comentários apreciativos que incidem nos restantes módulos, ainda não pontuados. Assim, entende que só faltaria atribuir a pontuação a estes. E sublinha que a fórmula é imparcial, na medida em que a peritagem foi decidida pelos juízes e os seus autores foram escolhidos por sorteio.

Bloqueio por parte de UPN, PSN e CDN
Apesar disso, o Governo navarro não altera a sua posição. O conselheiro da Presidência, Javier Caballero, chegou a afirmar na quinta-feira que atribuir uma licença à Euskalerria Irratia é que constituiria «uma prevaricação», pois a Mesa de Contratação não o aprovou.
Paradoxalmente, Caballero defende agora que é a Mesa de Contratação que tem sempre a última palavra, apesar de no passado este órgão ter deixado a classificação das propostas a concurso nas mãos de uma empresa externa (Doxa), motivo que levou à anulação do concurso efectuado em 2007.
Paralelamente, na Sessão Plenária do Parlamento realizada também na quinta-feira UPN, PSN e CDN chumbaram uma proposta do Plano Audiovisual que previa una emissora em euskara para Iruñerria [comarca de Pamplona].
Fonte: Gara

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Operação contra 34 jovens independentistas bascos: a dor de algumas famílias em busca de auxílio institucional


O sofrimento padecido pelas mães e os pais dos 34 jovens capturados na macro-operação contra a juventude em Novembro transformou-se em vitalidade. Embora aquilo que os une seja a angústia partilhada, decidiram juntar as suas vozes e ir de porta em porta contar a sua dura experiência. Têm apenas uma única exigência: o auxílio das instituições, de forma a que mais nenhuma família passe pelo mesmo que eles.

Depois de conversar com o Ararteko, com o Município de Donostia, com a Direcção de Atenção às Vítimas de Violência de Género do Executivo de Lakua, com diversos sindicatos e partidos políticos e até com o bispo de Donostia, os familiares dos jovens guipuscoanos detidos em Novembro estiveram ontem na Comissão de Regulamento, Instituições e Governo das Juntas Gerais.

«Conhecemos os nossos filhos e sabemos que não nos estão a mentir», esclareceu, antes de mais, Iñaki Egaña, pai de Eihar, que relatou os momentos duros em que o seu filho lhe confessou o que tinha sofrido durante o período de incomunicação. Egaña disse que as agressões, as vexações, as ameaças e as pressões psicológicas se repetiram com a maioria dos jovens independentistas, mas avisou que nas esquadras da Polícia espanhola e da Guarda Civil existiu uma «especial crueldade» contra as catorze jovens detidas, «pelo mero facto de serem mulheres», denunciou.

Rosi Rubio, mãe de Garazi Rodríguez - uma das mulheres detidas e na prisão -, precisou que, depois de cinco dias sem qualquer notícia da sua filha de 22 anos, encontrou-a do outro lado do vidro da prisão «aliviada por estar lá dentro».

«Nesta sociedade que se gaba da tolerância zero contra a violência contra as mulheres, a minha filha foi vexada por ser mulher», denunciou magoada. «Quem é que permite que isto aconteça?», perguntou.

Confessou estar «cansada» de andar de porta em porta a contar o que aconteceu à sua filha, explicando quais são as consequências do regime de incomunicação e exigiu que sejam tomadas medidas de forma imediata. «Nós não somos políticos, só representamos os nossos filhos e filhas e a nós mesmos», referiu, antes de solicitar o auxílio das instituições para evitar que este tipo de vexações se volte a repetir com quem quer que seja.

Rubio contou, na presença dos representantes nas Juntas do PNV, Hamaikabat, Aralar e Alternatiba - PP e PSE nem sequer se dignaram a assistir -, como a sua filha foi despida na esquadra, enquanto cinco polícias olhavam para ela e um lhe beijava o corpo. «Só a deixavam vestir-se se se desse como culpada, e, por cada delito que dizia ter cometido, só podia vestir uma peça», denunciou.

Motivos ideológicos
«Assim, como é que os nossos filhos não se vão dar como culpados na esquadra?», perguntava ofendida aos representantes nas Juntas, considerando «terríveis e arrepiantes» os testemunhos dos 34 jovens detidos e depois encarcerados.
Apesar do relato dos maus tratos, aquilo que lhes criou maior desassossego, também denunciaram o «verdadeiro linchamento mediático» a que foram submetidos as suas filhas e os seus filhos. Criticaram o facto de, apesar de o processo se encontrar sob segredo de justiça, os meios de comunicação terem vertido todo o tipo de acusações contra os seus filhos. Foram mais longe e afirmaram que o motivo subjacente à detenção dos seus filhos é «ideológico» e que não existem provas incriminatórias contra eles para além das declarações de culpa [forjadas na esquadra].

Oihana LLORENTE
Fonte: Gara

Entrevista a Xanti Kiroga na Infozazpi Irratia


Kiroga: «O que falta agora é pôr a sociedade em movimento»

http://www.info7.com/2010/02/25/xanti-kiroga-ezker-abertzalea-3/

O dirigente abertzale de esquerda aponta para o movimento popular e entende que o este é essencial para levar a bom porto o processo de paz política.
Kiroga afirmou que o que faz falta agora é «pôr a sociedade em movimento», principal garantia do processo.

Em declarações à Infozazpi Irratia, o membro da esquerda abertzale sublinhou que «temos consciência da posição do Estado e, por isso mesmo, não vamos deixar nas suas mãos a decisão de iniciar o processo democrático».

No que respeita à situação concreta de Nafarroa, Kiroga disse que dentro do NaBai há quem apoie essa coligação, independentemente de a situação se ter alterado, «porque acreditam que fora dela a sua existência está em perigo».

De qualquer modo, Kiroga mostrou-se convicto de que o substracto social que apoia as siglas do NaBai «quer que se fomente a colaboração entre todas as forças soberanistas e de esquerda de Nafarroa», para alcançar a mudança de ciclo que a sociedade de Euskal Herria reivindica.
Fonte: lahaine.org

Fermin Muguruza - «Brigadistak»


elkartasunez

Presos políticos bascos

Portugal aceita entregar Iratxe Yáñez e Garikoitz García ao Estado espanhol
O presidente do Tribunal da Relação de Lisboa, Luís Maria Vaz das Neves, disse, em declarações à agência Efe, que esse tribunal se mostrou favorável à ordem emitida pela Audiência Nacional espanhola para entregar Garikoitz García e Iratxe Yáñez, detidos no dia 9 de Janeiro em Portugal.
O tribunal referido, que tem a seu cargo a decisão sobre as extradições e as entregas para outros países, emitiu ontem a decisão favorável ao pedido espanhol, depois de ter convocado por duas vezes Yáñez e García, em prisão preventiva.
A defesa dos dois cidadãos bascos, que podem recorrer no Supremo Tribunal, opôs-se à entrega, enquanto o Ministério Público pediu que fossem julgados no Estado espanhol.
Fonte: Gara

O juiz dá ordem de prisão a Urko Izagirre e deixa em liberdade Enrique Noya
Urko Izagirre e Enrique Noya foram presentes ontem à tarde ao juiz da Audiência Nacional espanhola Fernando Andreu, que deu ordem de prisão ao primeiro e deixou seguir em liberdade o segundo. Noya deverá comparecer em tribunal regularmente para assinar.
O Movimento pró-Amnistia informou que os dois algortarras negaram todas as acusações perante o juiz. Izagirre disse ainda que foi maltratado enquanto permaneceu incomunicável. Segundo o organismo anti-repressivo, foi obrigado a estar em posturas forçadas, cobriram-lhe a cabeça com um capuz, tendo ainda sido alvo de agressões, ameaças e pressões.
Os dois algortarras foram detidos na terça-feira de madrugada pela Polícia espanhola, que inspeccionou as instalações da empresa Jai-Kit por ordem do juiz Fernando Andreu. Desde então permaneceram incomunicáveis. O juiz aceitou aplicar três medidas preventivas para evitar maus tratos.
Fonte: Gara

Ainara Vazquez sairá hoje em liberdade
Ainara Vazquez foi detida em Junho do ano passado pela Polícia espanhola em Astigarraga (Gipuzkoa) e encarcerada em seguida. Denunciou maus tratos durante o período de incomunicação.
A presa política esteve na prisão de Soto del Real e sairá hoje em liberdade, tendo para tal de pagar uma fiança de 10 000 euros, segundo fez saber o Movimento pró-Amnistia.
Fonte: Gara

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

O Friendship pede ao Governo espanhol que se comprometa com um processo democrático

O grupo de apoio a um processo de paz surgido no Parlamento Europeu considera que a esquerda abertzale deu um passo que potencia a existência de um «cenário positivo» e que deveria conduzir a um processo de paz e pediu a todas as partes envolvidas que actuem com responsabilidade. Ao Governo espanhol, que ostenta a presidência da UE, pediu-lhe que se comprometa com um processo democrático e que promova o envolvimento das instituições europeias.

O grupo criado em 2006 para apoiar um processo de solução em Euskal Herria compareceu ontem na sede do Parlamento Europeu para apresentar os seus novos membros, depois do processo de reconstituição que se verificou após as eleições europeias de 2009, em virtude das quais alguns membros deixaram de ser eurodeputados.

Daqui em diante, o Friendship será composto por Tatjana Zdanoka, Frieda Brepoels, Bart Staes, Oriol Junqueras, François Alfonsi, Jill Evans, Ian Hudghton e Alyn Smith, do Grupo Verdes-Aliança Livre Europeia; Bairbre de Brún, Eva-Britt Svensson e Jirí Mastálka, do Grupo Esquerda Unitária Europeia-Esquerda Verde Nórdica; e Csaba Sógor, do Grupo do Partido Popular Europeu (Democratas Cristãos).

O Friendship aproveitou a conferência de imprensa para fazer uma apreciação do resultado do debate interno da esquerda abertzale e da declaração «Zutik Euskal Herria» [Euskal Herria, de pé], concluindo que «estão a ser dados passos de grande importância no País Basco para alcançar um cenário de paz».

Lembra que a esquerda abertzale se comprometeu com «vias exclusivamente políticas e democráticas» e que a sua resolução «procura desenvolver um processo de paz na completa ausência de violência e sem ingerências», bem como conversações multipartidas «conformes aos princípios do senador Mitchell utilizados para superar o conflito no Norte da Irlanda, com o propósito de alcançar uma paz estável e duradoura no País Basco».

Pedido a todas as partes
Os integrantes do grupo de apoio consideram que essa decisão «facilita a criação de um cenário positivo, que deveria derivar num processo de paz». Por isso, pedem a todas as partes envolvidas que «reajam com responsabilidade e se comprometam com um processo que conduza a conversações de paz, a fim de que os bascos possam decidir o seu futuro, de forma livre e sem qualquer tipo de intimidação».

Para além disso, o Friendship pede ao Governo espanhol que «actue com responsabilidade», que «se comprometa com um processo democrático» e que, na qualidade de actual presidente da União Europeia, promova o envolvimento das instituições europeias no impulso para uma resolução pacífica do último conflito armado que resta na União Europeia».
Fonte: Gara

Nafargune: processo de debate da esquerda «abertzale» e comunicação social


«Diario de Noticias»: cuidado!

Este grupo de comunicação passou por diferentes fases ao longo da sua história, todas elas ligadas aos seus gestores económicos. Nestes últimos anos situou-se na órbita do PNV, incluído no Grupo Noticias, e a sua linha editorial defende com capa e espada o projecto político do NaBai.

O seu director, Joseba Santamaría, nunca rasgou as vestes pelas insolentes campanhas de intoxicação contra o independentismo basco. Este ex-membro da executiva do Eusko Alkartasuna em Navarra dirige com aprumo o editorial do periódico com uma dupla premissa: a mudança política em Navarra é a soma do PSN e do NaBai, e o resto são agentes desfigurantes que o periódico omite ou utiliza em benefício da primeira. «Não publicaremos nada que prejudique a imagem do NaBai, seja verdade ou mentira», Santamaría dixit.

O processo de debate da esquerda abertzale destes últimos meses serviu de base à elaboração de todo tipo de artigos sem escrúpulos: documento Gakoa, furos policiais sobre detenções, falsidade jornalística sobre a correspondência de Arnaldo Otegi…

O último capítulo da feroz e rigorosa linha editorial, vimo-lo este fim-de-semana. A entrevista a Txelui Moreno, representante da esquerda abertzale, foi um compêndio de agressividade e falta de respeito para com o entrevistado. 14 perguntas sobre a ETA tentando desvirtuar o conteúdo do documento.

Asseverações argumentativas tendenciosas nas perguntas: «com os antecedentes que existem de outros processos dinamitados pela ETA…». Tentativas de desvalorizar a resposta dos agentes soberanistas do país: «Mas se lhes disseram publicamente que é insuficiente».

Pois bem, este estilo de jornalismo pornográfico, mais em voga em linhas editoriais como as da Interviú, é o que defende e fomenta este grupo de comunicação. O nervosismo espanholista de que falávamos no editorial anterior [15/02] parece alastrar como a pólvora, e chegou à zona de Areta.

Porque será?

Nafarroa, 22-II-2010
Fonte: nafargune.info








Ver também: «O debate sobre o modelo de mudança deve ser a base do trabalho entre os sectores de esquerda e abertzales de Nafarroa» (texto e áudio), em ezkerabertzalea.info

Presos, refugiados políticos, solidariedade


Em Belfast, juiz volta a dizer não à extradição de Arturo Villanueva
Em Belfast (Norte da Irlanda), o juiz que examina o pedido de extradição de Arturo Villanueva para o Estado espanhol voltou a decidir a favor do refugiado político iruindarra. Este juiz indica que as provas contra Arturo são escassas e frágeis, e que não são especificados os crimes que alegadamente teria cometido, nem as datas nem os locais dos factos. Resta apenas uma última oportunidade ao magistrado para recorrer da decisão judicial.
Fonte: apurtu.org

Etxerat: haverá múltiplas concentrações na última sexta-feira do mês
Haverá concentrações de protesto contra a dispersão dos presos bascos nos próximos dias, uma vez que se trata das últimas quinta e sexta-feira do mês. A convocatória contou com o apoio de diversos agentes. Entre outros, estiveram presentes na conferência de imprensa: os sindicatos LAB, ESK, STEE-EILAS e as associações Bai Euskal Herriari, Euskal Herrian Euskaraz, Esait, Askapena, Elkartzen e Herria 2000 Eliza.
Josune Dorronsoro, da Etxerat, afirmou que a dispersão dos presos continuar a exibir a sua «face mais dura». Um exemplo disso foi o acidente de viação sofrido na semana passada pelos familiares de Mikel Garmendia. «A dispersão mata», afirmou a Etxerat. Para além disso, referiu-se ainda à falta de respeito pelos direitos dos presos dos presos no interior das prisões. O Movimento pró-Amnistia ainda recentemente fez saber que o preso Xabier Etxeberria foi ameaçado de morte por um funcionário prisional. «A violação dos direitos não tem fim», disse Dorronsoro.
Contudo, avisaram que as tentativas de «diminuir» os presos e a solidariedade para com eles não vão ter sucesso, e que vão continuar de «cabeça erguida».
No sábado, em Iruñea, às 12h em frente à prisão
A associação Etxerat anunciou uma concentração em frente à prisão de Iruñea para este sábado. Será às 12h.
Fonte: apurtu.org

Etxerat!


Elkartasunez

A Piztera vai novamente a julgamento, desta vez por uma acção pacífica na Gaztelu plaza

Quatro pessoas da plataforma vão a julgamento acusadas de desordens públicas. Foram detidas por se acorrentarem na Plaza del Castillo, em Iruñea
A Polícia Nacional espanhola deteve quatro pessoas que se tinham acorrentado ao coreto da Plaza del Castillo

Tem lugar hoje, pelas 9h45, mais um julgamento contra a Piztera, no qual são acusados quatro activistas que participaram numa acção na Plaza del Castillo, em Iruñea, em solidariedade com os 12 jovens processados pela sentada da encosta do Labrit, em Maio de 2007, e cuja sentença ainda não é conhecida.
A acção consistiu numa paródia com a virgem da okupación, durante a qual estes activistas simularam estar acorrentados ao gradeamento do coreto. Foram detidos pela Polícia Nacional espanhola acusados de desordens públicas.

A sentada teve lugar num dos lados da Plaza del Castillo e em nenhum momento impediu a passagem dos peões

Multas por obstruir a passagem de peões
Na mesma acção várias pessoas foram multadas pela Polícia Municipal em 750€ «por obstruir a passagem de peões» na praça. Mas a verdade é que a paródia não criou qualquer impedimento, em momento algum, à passagem dos transeuntes na Plaza del Castillo.
Da parte da Piztera, não entendem «que solução é que os juízes e os magistrados vão dar» às suas reivindicações» e afirmam que, apesar de reivindicarem de «um modo não violento e aberto, se encontram uma vez atrás da outra na presença de juízes e magistrados, enfrentando pedidos de prisão e multas desproporcionadas apenas por fazer política».
Referem que, apesar de «pretenderem silenciar as nossas reivindicações por via da chantagem económica e prisional, este vai ser o ano em que Pamplona voltará a ter um gaztetxe».
Fonte: apurtu.org

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Brian Currin insta o Governo espanhol a responder de forma positiva à esquerda «abertzale»


O advogado sul-africano e mediador em conflitos políticos, que no caso de Euskal Herria descreve a sua tarefa como «facilitador» e a si mesmo como «um agente de paz», expôs ontem no Círculo de Belas Artes de Madrid a sua análise sobre a situação política aberta após a publicação da resolução «Zutik Euskal Herria», apresentando a rota dos passos que entende deverem ser dados para colocar a paz sob perspectiva. Uma declaração de vontades para a qual o próprio Currin não foi parco em qualificativos como «importante», «sincera», «responsável», onde se exerceu «uma liderança verdadeira», e defendendo que «há que o reconhecer a nível nacional e internacional, e de forma positiva».

Brian Currin, convidado novamente pela plataforma Lokarri, mas desta vez na capital espanhola, expôs a sua leitura do processo democrático que defende para Euskal Herria perante cerca de 140 pessoas, entre as quais se encontravam analistas políticos dos principais periódicos espanhóis ou políticos como Teo Uriarte e o deputado jeltzale Joseba Agirretxea, entre outros.

«Nunca antes tinham ido tão longe»
Antes mesmo de que lho perguntassem, o advogado sul-africano esclareceu que os qualificativos positivos que enuncia sobre a declaração da esquerda abertzale não derivam do facto de ser uma pessoa optimista, que também é, mas de ser «realista». «Nunca antes a esquerda abertzale tinha ido tão longe. É a primeira vez que se fala assim de irreversibilidade», afirmou.

Dito isto, Brian Currin lançou a questão, a que deu resposta imediata, sobre o porquê da importância que atribui à declaração da semana passada. Primeiro, abordou-a como um processo de dois anos de trabalho duro no seio da esquerda abertzale, recordando que todos os líderes independentistas com os quais manteve contacto estiveram ou se encontram na prisão pela sua actividade política. Dois anos em que salienta «a verdadeira liderança responsável» que exerceram, não isentos de dificuldades, inclusive no seu meio.

«Mas o mais importante é que não se precipitaram, não escolheram um atalho», esclareceu, ao referir que os dois anos de processo interno foram necessários e que se vêem os seus frutos na resolução. Assim, atribuiu uma grande importância à assunção de que o processo democrático deve ser realizado sem qualquer tipo de violência nem ingerência, assumindo de forma «unilateral» também os Princípios Mitchell. Uma aceitação que, na sua perspectiva, deve passar agora a ser bilateral, referindo-se ao Governo espanhol, e multilateral, em referência a todos os agentes implicados no conflito.

«Transformação de conflitos»
Currin afirmou que o fio condutor de qualquer processo bem-sucedido é o facto de «terem convertido em irreversíveis num determinado momento». Mas não por sua decisão, «antes por uma transformação de conflitos». Algo que se traduz no facto de o recurso à violência já não ser uma opção.
E o mediador sul-africano situou nesse contexto a resolução da esquerda abertzale, apontando que foram anunciados novos passos para os meses que aí vêm que podem representar para alguns «as garantias» para restabelecer de novo a confiança, outro elemento básico.

Violência
Mas insistiu que a «transformação de conflitos» deve ser plural, promovida por todas as partes implicadas, para que esse processo de paz chegue e seja bem-sucedido. Foi por isso que disse ser «imprescindível» que o Executivo espanhol responda de forma positiva à declaração. Porque se a primeira coisa a fazer é recuperar a confiança, também considerou necessário que o ambiente não esteja viciado pela violência recíproca. E também chamou violência aos abusos das Forças de Segurança do Estado, às leis de excepção construídas sob premissas securocratas e com o propósito vão de alcançar «uma vitória» através da acção policial.

Para que o avanço do processo se torne irreversível, disse que deve haver um cessar de hostilidades de todas as partes, mas acrescentou que, para que esse caminho se possa ir construindo, agora deve ser o Governo espanhol a responder de forma positiva e a adoptar também uma atitude de «transformação de conflitos».

Foram muitos os que expuseram as suas dúvidas fundamentadas a este respeito, citando a repressão, a tortura, a Lei de Partidos..., mas Currin, dando-lhes razão, mostrou-se optimista.
Gari MUJIKA

O Friendship do Parlamento Europeu retoma a iniciativa
O Basque Friendship Group retoma os seus trabalhos nesta nova legislatura do Parlamento Europeu. Criado em 2004 por eurodeputados que «desejam apoiar o processo de paz em Euskal Herria», agora, após a renovação da Câmara, volta a constituir-se.

Os deputados Tatjana Îdanoka (PCTVL, da Letónia), Oriol Junqueras (ERC) e Bairbre de Brún (Sinn Féin) vão apresentar hoje na sede do Parlamento em Bruxelas aos novos membros do grupo as suas iniciativas «em prol de uma resolução pacífica do conflito de Euskal Herria na União Europeia».

Entretanto, a executiva do partido flamengo Nieuw-Vlaamse Alliantie (N-VA), integrado na Aliança Livre Europeia, tornou ontem público um comunicado em que «se congratula com a recente evolução política» em Euskal Herria e, em concreto, com o manifesto «Zutik Euskal Herria». O seu presidente, Bart De Wever, a secretária-geral e eurodeputada, Frieda Brepoels, e Matthias Diependaele, membro do Parlamento da Flandres, destacam a unilateralidade da decisão da esquerda abertzale e afirmam que «o Governo espanhol tem agora a oportunidade de tomar as medidas necessárias para reconstruir a confiança e preparar o caminho em direcção a um futuro sem violência». Recordam que o seu partido condenou a actividade armada da ETA e denunciou os abusos do Estado espanhol.

«Zutik Euskal Herria»: uma proposta para fomentar uma mudança real
«A aposta política que a esquerda abertzale tornou pública obrigou todas as sensibilidades políticas de Nafarroa a retratarem-se, deixando claro o nervosismo que a resolução 'Zutik Euskal Herria' provocou nalguns e a esperança noutros». Assim o constataram ontem perante a comunicação social Xanti Kiroga e Txelui Moreno, que deram uma conferência de imprensa em Iruñea para analisar as reacções suscitadas pelas conclusões do debate da esquerda abertzale.

No âmbito de Nafarroa, Kiroga e Moreno analisaram as reacções de três blocos: por um lado, UPN, PP e PSN; por outro, Batzarre e IUN; e, finalmente, o espaço progressista e abertzale. Em relação ao primeiro, «que defende a unidade de Espanha sem permitir que Nafarroa decida livremente», apreciaram «a mesma reacção defensiva que tiveram nos tempos de Lizarra-Garazi ou no último processo de negociação».

«O pacto UPN-PSN e PSE-PP, que nega o direito a decidir, por um lado, e que possibilita a ocupação fraudulenta tanto do Governo de Lakua como do de Navarra, confere à nossa comunidade o nível de questão de Estado e, apesar da blindagem, ou precisamente por isso, as possibilidades de alcançar uma mudança política parecem mais reais que nunca».

Também afirmaram que estes partidos «seguem a linha traçada pelo ministro do Interior» e mostram «pouca capacidade» para avaliar o passo dado pela esquerda abertzale e «pouca abertura de horizontes para encarar o futuro», bem como uma «dependência absoluta» de Madrid. «UPN e PSN vão precisar de tempo para aceitar que a imposição, a negação de direitos, a utilização do poder judicial, a violência policial não são características que um processo democrático deva ter. Têm de aceitar - acrescentaram - que este processo se deve dar na ausência de violência e de ingerência externa, respeitando todos os projectos políticos, incluindo o independentista e a sua possível materialização».

Quanto ao Batzarre e à IUN, aos quais se referiram como «partidos progressistas de tipo espanholista», Kiroga e Moreno salientaram que em ambos «se percebe medo de perder o espaço de representatividade actual», já que «a conjugação do espaço abertzale e progressista de Nafarroa a favor da mudança política e social os deixa fora de jogo».

Por último, consideraram que «o espaço progressista e abertzale de Nafarroa «reconheceu a magnitude e o alcance» da proposta, destacando que, nesta situação, «se avizinham momentos de especial relevância para a consecução da mudança política e social no país».

«É palpável - precisaram - a ansiedade que certos agentes têm em dar por encerradas as fórmulas eleitorais para 2011», mas, «mesmo sendo uma questão importante, não é altura para lançar ultimatos ou fazer uma defesa firme dos interesses partidários, tendo em conta a união das forças de esquerda».
Por isso, desafiaram estes sectores a fazer «um debate em profundidade sobre o futuro de Nafarroa e sobre o modelo de articulação desse espaço».
Iñaki VIGOR
Fonte: Gara

Muitas certezas


Passaram já dez meses desde que o militante da ETA Jon Anza foi interceptado no comboio que fazia o trajecto Baiona-Bordéus, onde se dirigia com a intenção de se reunir com um ou vários companheiros dessa organização.

O silêncio oficial, depois das mentiras a cargo dos Pérez Rubalcaba e Patxi López de turno, é mais que expressivo. Diz bastante mais que muitas palavras.

Passaram dez meses desde que mãos que adivinhamos cobertas por luvas de couro o fizeram descer do comboio num local ainda por determinar e - contam-nos os poucos que se deram ao trabalho de investigar alguma coisa relacionada com o desaparecimento de Anza, de raspar os ficheiros dos segredos oficiais - acabaram com a sua vida naquilo a que antes chamavam um interrogatório hábil. Depois seguir-se-ia a cal viva.

Dez meses depois daqueles acontecimentos, muitas dúvidas rodeiam o caso. Tantas quantas as certezas. Porque não sabemos a cor do uniforme de quem o fez desaparecer, mas temos a certeza da cor da bandeira que trazem ao peito. Não sabemos como o fizeram, mas sabemos como é que actuam. Os relatórios forenses de Joxean Lasa e Joxi Zabala são tão explícitos quanto arrepiantes. Também não sabemos onde está Anza, mas temos uma certeza: dois estados voltaram a sujar as mãos com um desaparecido. No século XXI e no coração da Europa.

Correm ventos de esperança na nossa terra e é possível que o comboio da História de Euskal Herria se tenha metido por uma via que nos conduza ao final do trajecto, à soberania respeitada por esses dois estados, ao armistício e à paz. Nesse dia será preciso enfrentar a dura tarefa de criar uma comissão da verdade para que se saiba o que aqui se passou durante décadas. Para que os que agora calam, mas sabem, falem de uma vez. Para que a normalização política não finque os seus alicerces numa história incompleta, falseada.

Porque esta história não pode ser escrita, uma vez mais, pelos que nunca hesitaram em recorrer à violência mais brutal na hora de impor o seu delírio imperial e arrasar as exigências de emancipação nacional e social. Temos memória e queremos saber o que fizeram a Jon Anza. Sabemos quem são os que o sabem. Outra certeza.

Martin GARITANO
jornalista
Fonte: Gara

A Polícia espanhola detém duas pessoas na Bizkaia


As detenções dos algortarras Urko Izagirre, em Algorta, e de Enrique Noya, em Bilbo, decorreram na madrugada de ontem, no âmbito de uma operação decretada pelo juiz do tribunal de excepção espanhol Fernando Andreu. Os agentes da Polícia espanhola procederam ainda a buscas nas casas dos detidos e nos escritórios da empresa em que trabalham, na zona industrial de Abadiño.

As autoridades espanholas acusam ambos os detidos de ligação à ETA.
Segundo as agências noticiosas, esta operação estará relacionada com Jon Rosales e Adur Aristegi, jovens detidos na semana passada em Camprodon e que, depois de serem sujeitos ao regime de comunicação em poder da Guarda Civil, denunciaram ter sido vítimas de tortura.

O Movimento pró-Amnistia precisou que Izagirre e Noya trabalham na mesma empresa que Rosales e Aristegi, que se dedica à montagem de txosnas [barracas de festas]. Alertou ainda para o sério risco de tortura que Izagirre e Noya correm, lembrando que todas as pessoas detidas nas últimas semanas relataram situações de maus tratos e de tortura durante o período de incomunicação - sendo que alguns desses relatos fazem menção, inclusive, a tentativas de violação.

Em protesto contra esta operação e exigindo a libertação dos seus conterrâneos, ontem à noite cerca de 260 pessoas participaram numa manifestação em Algorta.

Por outro lado, o Movimento pró-Amnistia fez também saber que preso político basco Xabier Etxeberria, encarcerado em Soto del Real, disse ter sido maltratado e ameaçado de morte por um funcionário.
Fonte: Gara e Gara


Tasio
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Ver também: «A Polícia espanhola detém duas pessoas e faz buscas na empresa Jai-Kit», de Oihana Llorente
http://www.gara.net/paperezkoa/20100224/184720/es/La-Policia-espanola-detiene-dos-personas-registra-empresa-Jai-Kit

«Iparraldea Bertan!»: o País Basco Norte em destaque no Sul


O período de Inverno é habitualmente tempo de encontro entre os habitantes de Ipar e Hego Euskal Herria [País Basco Norte e Sul]. Mascaradas aqui, carnavais lá, sem esquecer as inúmeras festas nas sagardotegiak [«casas da sidra»], bertsu gaua [noite de bertsos] entre muitas outras formas de partilhar uma mesma cultura. Para intensificar esta troca, em Março, o centro cultural Koldo Mitxelena, em Donostia, põe em destaque a criação do País Basco Norte. Entre 3 e 24 de Março, quatro «quartas-feiras/rendez-vous» (19h30) vão fazer parte do ciclo Iparraldea Bertan! 2010.

Com o ciclo Iparraldea bertan!, organizado em parceria com o Euskal Kultur Erakundea [Instituto Cultural Basco], o centro cultural Koldo Mitxelena convida os espectadores a descobrir «a vitalidade da cultura basca das províncias de Lapurdi, Nafarroa Beherea e Zuberoa».
Este ano, mais uma vez, uma parte considerável do programa será consagrada ao canto e à música. Para inaugurar o mês de «Ipar Euskal Herria», a 3 de Março, Mixel Arotce, Jean-Mixel Bedaxagar, Pierpol Berzaitz e Mixel Etchecopar vão-se juntar num concerto-homenagem a Etxahun-Iruri (escritor, músico, autor de pastorais; 1908-1979).

Depois desta noite dedicada a Zuberoa, a atenção vira-se para Lapurdi, e, mais precisamente, para o grupo Mihakan, de que fazem parte Pantxix Bidart e Kristof Hiriart, que, de acordo com os responsáveis do EKE, devem apresentar «uma versão renovada de certos cantos tradicionais». Aproveitando o ensejo, o Koldo Mitxelena e o Institut Culturel Basque vão também prestar uma homenagem a autores contemporâneos, como Xavier Diharce, conhecido pelo nome de «Iratzeder», ou ainda a Itxaro Borda (17 de Março).

Nafarroa Beherea será representada por Eñaut Etxamendi, cantor do duo Etxamendi eta Larralde, autor de mais de 80 letras para canções e de sete obras (edições Maiatz). Em Donostia, dará a conhecer a sua experiência e interpretará ainda cinco cantos com Jean-Louis Laka (10 de Março). Finalmente, o espectáculo Hameika Ipuin, que junta Kattalin Sallaberry e Jokin Irungaray sob a direcção de Txomin Héguy, será apresentado pela primeira vez (24 de Março, às 19h30). Todos estes eventos vão ser transmitidos em directo no site http://www.gipuzkoakultura.net.

Clémence LABROUCHE
Fonte: lejournalPaysBasque-EHko_Kazeta

2- O Euskal Museoa/Museo Vasco de Bilbau ganhou o prémio para a melhor média-metragem no Festival Internacional FIAMP 2009 com o trabalho audiovisual Pelota. Na imagem, um fotograma do filme premiado. GARA (foto de Marisol RAMIREZ/ARGAZKI PRESS)

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

A inutilidade da «eficácia policial» espanhola: lições da história


Durante estes dias, Aznar e Zapatero proclamam a septuagésima quarta decapitação da ETA, o enésimo encarceramento de líderes políticos bascos, a infalibilidade da via policial no combate ao independentismo.

Estão convencidos, ou pelo menos é isso que dizem, de que falta muito pouco para acabar com os sonhos de liberdade de Euskal Herria: deter e torturar mais algumas dezenas de abertzales, impedir que o Batasuna concorra às eleições de 2011, consolidar os governos ilegítimos e já está: Euskal Herria será definitivamente Espanha. Assim, o ministro do Interior, Pérez Rubalcaba, poderia emular aquelas palavras de José María de Areilza em 1937: «Que quede esto bien claro: Bilbao conquistado por las armas. Nada de pactos y agradecimientos póstumos. Ley de guerra, dura, viril, inexorable. Ha habido ¡vaya que si ha habido vencedores y vencidos!; ha triunfado la España, una, grande y libre. Ha caído vencida para siempre esa horrible pesadilla siniestra y atroz que se llamaba Euzkadi.»

Mas não. Andam há séculos com discursos do género, mas sem jamais terem conseguido cortar o pescoço a este povo. Apesar das cruentas derrotas que as forças militares bascas sofreram frente às tropas espanholas (1512, 1521, 1840, 1876, 1936…), Euskal Herria acabou sempre por se reorganizar e colocar a sua exigência de soberania em cima da mesa. Mesmo depois dos milhares de bascos executados por Franco, depois de 40 anos de uma brutal ditadura, o nosso país renasceu das cinzas e voltou a reclamar o seu lugar no mundo. Por isso é tão grande a irresponsabilidade dos dirigentes espanhóis, que hoje enganam o seu povo com a derrota da ETA como se esta já tivesse ocorrido, ou como se as sempre fracassadas políticas repressivas fossem resolver o problema basco.

Nestes dias em que Rubalcaba mostra músculo militar, não faz mais que reproduzir esse modo de pensar tão intrínseco ao nacionalismo espanhol, que baseia os seus argumentos políticos na vontade divina e no poder de fogo do seu exército. E assim foi ao longo da história, de vitória em vitória até à derrota final, sempre vencendo e nunca convencendo, imolando o povo espanhol numa grande orgia de sangue que tem sempre o mesmo final: o regresso dos Tercios a Madrid (*). E depois segue-se a depressão nacional, o ultra-espanholismo como solução e a volta ao mesmo: mais imperialismo e mais eficácia policial até ao desastre seguinte, à crise seguinte, ao ditador seguinte…

Há 200 anos, os Aznares e Zapateros de turno também chamavam terroristas aos libertadores americanos. E também havia juízes que, como Garzón, decretavam sentenças contra os independentistas «por subversivos del orden público» e mandavam pendurar as suas cabeças à entrada das terras, «para que sirvan de satisfacción a la majestad ofendida, a la vindicta del reino y de escarmiento». O mesmo que hoje fazem com a juventude basca, exibindo os estudantes torturados e encarcerados para que os demais captem a mensagem e «¡se vuelvan españoles, coño!»

Mas, o que é que realmente se passou na América? Para que, depois de todas as bravatas, os massacres, as mentiras… os Tercios regressassem a Madrid. E em Cuba? A ilha era considerada uma «herança sagrada» que Espanha não podia perder sem menosprezo da sua identidade nacional. «España hizo América, como Dios hizo el mundo… América será española eternamente», dizia Castelar, presidente da Primeira República. Ali também quiseram distrair as forças soberanistas com propostas vazias de autonomismo, mas os cubanos não morderam o anzol e o regime colonial respondeu à sua maneira, reprimindo e proclamando a sua superioridade militar… até que correram com eles ao pontapé, não apenas do Caribe mas também das Filipinas.

Salvo honrosas e contadíssimas excepções, a imprensa espanhola daquela época fez de porta-voz do entusiasmo bélico. Os diários estavam controlados pela mesma oligarquia que enriquecia com os negócios coloniais, pelo que os editoriais falavam de honra, de pátria, de raça, de vitória…, criando um ambiente de euforia colectiva em que todo o povo, sem distinção de classes, clamava a favor da repressão contra os independentistas cubanos. Contudo, a história espanhola é circular e, depois da derrota, repetiu-se o ciclo da depressão colectiva, da necessidade de um super-homem para salvar a «nação decadente», as ditaduras de Primo de Rivera, Franco…

As nações imperialistas estão amarradas para todo sempre à sua eficácia policial, porque têm de se impor militarmente, sempre e cada dia, para manter o estado das coisas. Ao invés, aos povos submetidos basta-lhes um golpe certeiro, num determinado momento da história, para que todo o castelo de naipes do colonialismo seja derrubado para sempre.

Por isso, a classe trabalhadora espanhola ainda está a tempo de escolher: ser polícias para toda a vida ou livrar-se do lastro imperialista e iniciar um novo caminho. Porque eles também são um povo submetido, a brutalidade e a cobiça dos seus dirigentes só lhes trouxe fome, sangue, suor, lágrimas e muita inquisição, muita repressão, muito fascismo. Assim, mais lhes valia proteger-se dos seus próprios e grandíssimos terroristas que buscar falsos inimigos em Euskal Herria, um povo que, tal como os restantes povos do mundo, tem direito a decidir livre e democraticamente o seu futuro.

Sergio LABAYEN
Fonte: nafarroan.com
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(*) Tercios: corpo militar.

Tutera foi o palco da primeira apresentação do Anuário Repressivo 2009

Na ocasião, Joxean Agirre, da Euskal Memoria Fundazioa, deu uma conferência sobre a recuperação da memória histórica e a importância de apresentar um ponto de vista próprio sobre o conflito entre Euskal Herria e os estados e as suas consequências
Joxean Agirre inaugurou a ronda de debates e conferências que vão ter lugar nos próximos meses para apresentar o Anuário nas diversas localidades e bairros de Nafarroa. O livro, que será apresentado esta semana à imprensa e que será colocado à venda em todo o herrialde, inclui, entre muitos outros temas, uma reportagem sobre a memória histórica, e essa foi precisamente a razão da intervenção de Joxean Agirre, ex-preso político que participa agora na Fundación Euskal Memoria. Agirre defendeu a recuperação da memória histórica sem ficar à espera do dia «D». Neste sentido, sublinhou a importância da Fundación Euskal Memoria e dos seus objectivos como antídoto contra o esquecimento.
Fonte: apurtu.org

Presos políticos bascos: repressão e solidariedade


A Ertzaintza voltou a levar as fotos da herriko taberna de Bilbau
Ontem de manhã, por volta das 9h, a Ertzaintza entrou na herriko taberna da Alde Zaharra e levou as fotos dos presos políticos que ali se encontravam. Levaram ainda vários cartazes que retiraram da parede, acrescentou o Movimento pró-Amnistia.
Segundo fizeram saber, os ertzainas identificaram o empregado que se encontrava na taberna.
Hoje, pelas 19h, partirá da Etxebarrieta Anaien plaza, em Bilbau, uma manifestação de protesto contra a perseguição às mostras de solidariedade. Constituirá também uma forma de apoio à luta do EPPK, Colectivo de Presos Políticos Bascos.
Fonte: Gara

Canção solidária dos LOR - «Azken Akelarreraino»
Esta canção, intitulada «Azken Akelarreraino», saiu na Feira de San Blas (Abadiño, Durangaldea, Bizkaia), sendo especialmente dedicada a Eneko Zarrabeitia, natural de Abadiño, mas também, de forma solidária, a todos os refugiados e presos políticos que se encontram nas prisões espanholas ou francesas.
A letra é do bertsolari Sustrai Colina; a música foi composta por Antton, com a colaboração dos Lor. A canção foi gravada em Ondarroa.






Elkartasuna ez da delitua! Euskal preso eta iheslariak etxera!

Fonte: askatu.org

Kantatzen duen herria ez da inoiz hilgo.
Um povo que canta jamais morrerá.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Um trabalho de meses e uma força militante única na Europa


No dia 8 de Junho de 2007, dois dias depois do final oficial do cessar-fogo da ETA, o Governo espanhol não teve qualquer pejo em encarcerar o principal interlocutor da esquerda abertzale, Arnaldo Otegi, com quem tinha estado a negociar na Suíça apenas umas semanas antes. E no dia 4 de Outubro mandava deter toda a Mesa Nacional, operação que começou em Segura e que culminou em Fevereiro de 2008 com uma nova operação.

A ruptura do processo de negociação teve um custo enorme para todos os agentes nele envolvidos, e, no caso da esquerda abertzale, deixou à mostra problemas internos. O documento debatido pelas bases do Batasuna reflecte as diferenças e a falta de coesão com que se entrou na negociação e a situação de paralisia em que ficou no seu final.

Junho e Novembro de 2008
Apesar das más condições em que se encontrava, a militância da esquerda abertzale continuou a trabalhar, procurando encontrar o caminho a seguir. É nesse contexto que ocorre, por exemplo, o debate sobre o que fazer perante a Lei de Consulta proposta pelo lehendakari, Juan José Ibarretxe. Todas as partes concordavam que era um elemento meramente propagandístico, pelo que a consulta nunca se viria a realizar. A diferença residia em como resolver uma questão táctica cujo futuro estava nas mãos do EHAK. Havia quem optasse por cortar pela raiz qualquer tentativa de o PNV encher esse balão, e mais ainda depois de se ter posicionado ao lado do PSOE nas conversações de Loiola. Ganhou a aposta de colocar os jeltzales em frente ao seu próprio espelho, o que se traduziu na frase: «Será Espanha a impedir a consulta e o PNV a aceitá-lo».

Aquele movimento teve outra derivada interessante. A falta de uma resposta eficaz por parte de Juan José Ibarretxe e do PNV à proibição da consulta foi uma das razões que levou o EA à reflexão segundo a qual era chegado o momento de acabar o seu casamento com os jeltzales. E é especialmente relevante notar como no mesmo dia (12 de Novembro de 2008) em que Unai Ziarreta anuncia que não vão continuar numa coligação com o PNV, cuja única pretensão é somar votos «para continuar a gerir o contexto actual», a esquerda abertzale dá uma conferência de imprensa para manifestar o seu contentamento com essa decisão e anunciar a sua disposição para «realizar um trabalho conjunto». Ambas as partes vêem a necessidade de unir as forças soberanistas. Como os acasos deste tipo não existem, será preciso deduzir que nessa altura já se estaria a verificar algum tipo de contactos.

Por isso, é injusta a análise segundo a qual a posição actual do EA consiste simplesmente numa espécie de última cartada após o seu descalabro eleitoral de 1 de Março. A direcção que Unai Ziarreta liderava pôde optar por continuar tranquilamente ao lado do PNV e preferiu assumir uma opção de risco que implicou custos pessoais enormes para uma boa parte daquela Direcção, mas que pode dar os seus frutos no futuro.

A «estratégia eficaz»
No último dia de Novembro de 2008, o Gara publica a primeira entrevista com Arnaldo Otegi desde que saíra da prisão, a 30 de Agosto, depois de quinze meses encarcerado. Foi grande o falatório sobre o silêncio público que manteve durante esse período, que ele explica dizendo que tinha passado três meses a conversar com muita gente, para fazer uma radiografia da situação. É naquela entrevista que a esquerda abertzale começa a fixar a ideia de «construir uma estratégia eficaz».

Simultaneamente, também aparecem na comunicação social outros dirigentes independentistas, como Rafa Díez Usabiaga, a defender a acumulação de forças. E numa entrevista pública organizada pelo Gara no Kursaal, no âmbito do seu X Aniversário, Arnaldo Otegi defende perante uma sala repleta o «confronto com o Estado no seu ponto fraco, o terreno político».

Poucos dias depois, Jon Salaberria, que fora deputado do EH até passar à clandestinidade, refere num tribunal de Paris a necessidade de «uma mudança de ciclo político».

E quando se cumprem 20 anos sobre as conversações de Argel, Eugenio Etxebeste, Antton, que fora interlocutor da ETA, declara ao Gara que «há que passar da etapa do 'resistir é vencer' para a do 'convencer é vencer'».

101 000 votos
Entretanto vão-se forjando, disseminando e discutindo as ideias principais que agora desembocaram na resolução «Zutik Euskal Herria», a esquerda abertzale deve fazer frente a um novo desafio: as eleições autonómicas com uma candidatura ilegalizada. Não é só a enésima vez que tem de pedir aos seus seguidores que levem para as urnas um boletim que acabará oficialmente no caixote do lixo, mas tem de o fazer, ainda para mais, quando existe pela primeira vez a possibilidade real de o unionismo chegar à Ajuria Enea, sendo maior, por isso, a tentação do voto útil.

101 000 votos anulados em Araba, Bizkaia e Gipuzkoa demonstram que a esquerda abertzale possui uma militância de fazer inveja a qualquer partido na Europa.

Com esses resultados na mão e a afirmação «somos muitos, seremos mais», Arnaldo Otegi comparece no dia 16 de Março perante os órgãos de comunicação acompanhado de uma ampla e aglutinadora representação da esquerda abertzale para convidar todos os independentistas a procurar «uma estratégia eficaz». É a primeira vez que aparece numa conferência de imprensa para tornar oficial que o que até então podiam ter sido opiniões pessoais são já argumentos colectivos.

O Aberri Eguna, a greve geral de Maio convocada pelos sindicatos ELA e LAB são passos na junção de forças. A campanha eleitoral para as eleições europeias permite à esquerda abertzale continuar a espalhar o seu discurso numa terra após outra. As intervenções de Arnaldo Otegi são mais conferências que comícios e pode-se verificar que as bases aderem à sua mensagem.

A Iniciativa Internacionalista foi, seguramente, um exemplo da solidariedade entre os povos. No meio de uma enorme abstenção e uma contagem de votos questionável, obtém em Euskal Herria 139 971 votos, o que a coloca, na CAB, a par do PP. Estes resultados representaram para a direcção da esquerda abertzale um enorme influxo de confiança na sua força política e no seu apoio popular.

Intenso debate
Através de elementos que se souberam posteriormente, a decisão de apoiar a Iniciativa Internacionalista não esteve isenta de debate no seio das distintas sensibilidades da esquerda abertzale. Como também houve controvérsia durante esses meses e o Verão sobre as concretizações estratégicas que deveria ter o documento que iria ser submetido à consideração das bases, e chegaram a aflorar aos meios de comunicação considerações escritas sobre a liderança.

Por fim, o Batasuna fecha o documento que decide pôr nas mãos da sua militância. Partes do texto foram verificadas com peritos internacionais na resolução de conflitos, o que atesta a profundidade e honestidade da iniciativa da esquerda abertzale.

Ciente de que as coisas iam ficar complicadas para os seus lados, na véspera do início da distribuição do documento pelas diversas localidades, o Governo espanhol ordena a detenção dos seus impulsores e acaba por encarcerar Arnaldo Otegi, Rafa Díez Usabiaga, Sonia Jacinto, Arkaitz Rodríguez e Miren Zabaleta. A isso, seguir-se-ia a operação contra 34 jovens independentistas. Não escapa a ninguém que, com estes choques repressivos, Rubalcaba procurou importunar e paralisar o debate. O tiro saiu-lhe pela culatra.

Desde então, activou-se a militância como não acontecia havia muito e, onde há dois anos existia confusão, há agora uma linha concertada. Além disso, as ruas assistiram a manifestações unitárias e massivas. E a 14 de Novembro, em Altsasu, viu-se uma imagem histórica. A conclusão do debate é já conhecida.

De acordo com os números apresentados pela esquerda abertzale, sete mil militantes participaram no debate nas assembleias de 270 localidades. Mesmo que fosse metade disto, já seria um dado inimaginável em qualquer outro partido.
Iñaki IRIONDO

«Uma mudança política sem mudança social seria insuficiente»
A resolução «Zutik Euskal Herria» também possui uma componente social que passou despercebida, escondida por outras considerações de ordem política e metodológica. Contudo, tratando-se de uma formação de esquerda, é conveniente atender ao que se diz também neste terreno.
O documento afirma que «uma mudança política sem mudança social seria claramente insuficiente, e a mudança social sem mudança política não é realizável. Em suma, para além de fazer frente à injustiça que o modelo neoliberal impõe, a luta de esquerda que devemos empreender orientaria adequadamente a mudança política e favoreceria a acumulação de forças entre os trabalhadores e os sectores populares».
Nesse sentido constata que «o trabalho que o sindicalismo deve realizar é fundamental».
As bases do Batasuna referem ainda textualmente no documento aprovado que «nós, os independentistas e as independentistas de esquerda, desejamos a mudança social, e para tal, entre outras coisas, é imprescindível o apoio do movimento popular, a prática feminista, uma nova política linguística, um novo modelo educativo, o trabalho dos agentes culturais e a pujança do movimento juvenil».
I.I.
Fonte: Gara

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Na sequência da resolução da Esquerda Abertzale «Zutik Euskal Herria»

1 - O LAB afirma que a resolução da esquerda «abertzale» «é um passo importante»
"A Assembleia Nacional do sindicato LAB considera que a resolução da esquerda abertzale representa «um passo importante» na via da abordagem de um processo democrático que implique mudanças políticas e sociais, e fez um apelo a todos os trabalhadores para que adiram a essa proposta. O LAB também considera importante que a esquerda abertzale tenha apostado na via da «recuperação de uma alternativa institucional forte que implemente políticas de esquerda».
Ver: kaosenlared.net

2 - Etxeberria defende o processo como «alavanca» para a mudança política
"O militante da esquerda abertzale Rufi Etxeberria ressalta numa entrevista concedida ao diário Berria que o processo democrático deve servir para forçar o Estado espanhol a confrontar-se politicamente com este país, além de, entre outras coisas, alterar a correlação de forças existente hoje em dia e criar novas referências no panorama político de Euskal Herria."
Ver: Gara / Entrevista (eus): BerriaTB