sábado, 27 de fevereiro de 2010

Currin afirma que o processo terá de se consolidar para ganhar apoio internacional


«A esperança é algo que cresce com o tempo». Uma frase do próprio Currin aparecia no palco em que dissertou sobre as claves que, em seu entender, mostram o compromisso estratégico da esquerda abertzale com um processo democrático.

Chegou meia hora atrasado devido a problemas aéreos, pediu desculpas e enfrentou uma sala cheia esperando não defraudar as expectativas das centenas de pessoas que se deslocaram ao auditório da casa cultural de Niessen, em Errenteria (Gipuzkoa). Perante um público muito distinto daquele que encontrou na terça-feira em Madrid, o «facilitador» sul-africano Brian Currin arrancou a sua conferência sem sequer a ter preparado antecipadamente, mas com uma mensagem muito clara dirigida tanto aos cidadãos bascos como, em especial, à base social da esquerda abertzale.

Embora tenha sido no fim que vincou as duas claves que julga deverem ser interiorizadas pelos independentistas bascos para levar a cabo um processo bem-sucedido, «legalização» e «confiança» foram termos usados logo desde o início da sua intervenção. Evitando comparações mas admitindo similitudes, recordou aquilo que se passou na África do Sul.

Disse que após a ilegalização do Congresso Nacional Africano (ANC) e o encarceramento de líderes políticos como Mandela, em 1963, «houve um período deprimente, porque não se conseguiu nada e a situação se agravou». Referiu que duas décadas depois, no entanto, uma nova geração de líderes mudou de estratégia unindo os organismos numa Frente Democrática que actuou de forma legal durante pelo menos quatro anos. Sublinhou que esse período e essa mudança estratégica foram essenciais, porque «se estabeleceu uma base política para que o ANC voltasse à legalidade».

«Quero dizer que os líderes se deram conta, a determinado momento, de que, se queriam trabalhar no seu país, tinham de ser legais», disse Currin. Para mostrar a situação contrária, recorreu «ao exemplo que sempre uso: é como querer roubar um banco, avisar o banco que o vamos roubar e depois sermos detidos».

Em seguida, Currin questionou-se sobre o que se pode alcançar em Euskal Herria sem que a esquerda abertzale seja «legal». E respondeu que o melhor exemplo foi a última tentativa de negociação, que julga ter sido bastante dificultada pela ilegalização, além de criar ainda um outro problema: a falta de transparência. Currin defende que a sociedade deve estar sempre a par dos passos que os seus líderes estão a dar.

Tal como fez na terça-feira em Madrid, na quinta, em Errenteria, o perito sul-africano recordou que o processo da esquerda abertzale do qual surgiu a resolução «Zutik Euskal Herria» começou há dois anos, com dirigentes encarcerados, mas que, apesar disso, gerou uma nova via estratégica que Currin defendeu, incitando os cidadãos a desenvolvê-la sem esmorecer e «com coragem».

Movimentos internacionais
Referiu estar bem consciente de que há sectores na própria esquerda abertzale que possuem «dúvidas» sobre uma aposta em que «o recurso à violência deixa de ser uma opção», mas perguntou qual seria a alternativa. «Se a violência continuar, uma coisa é certa: jamais se alcançarão os objectivos políticos da autodeterminação e soberania».

Tal como em Madrid, na quinta-feira também insistiu especialmente na necessidade de restabelecer a confiança entre os partidos políticos e continuar a «consolidar» a colaboração. Mencionou igualmente a necessidade de a esquerda abertzale conseguir que o Governo espanhol tenha confiança num processo democrático, e recordou que a resolução «Zutik Euskal Herria» conta para isso com o valor acrescentado de ser unilateral e que incluir os Princípios Mitchell.

Mas seguramente o elemento de maior destaque chegou com a sessão de perguntas, ao ser questionado sobre a necessidade de que o impulso seja dado também a nível internacional. O advogado sul-africano disse que tem conversado sobre Euskal Herria com «pacificadores» de todo o mundo e que dentro de algumas semanas dará a conhecer uma lista de personalidades que saúdam a decisão tomada.

Mas foi mais longe. Afirmou que a irreversibilidade do processo - conceito que, realçou, é selado pela resolução «Zutik Euskal Herria» - chegaria com um cessar-fogo por parte da ETA, «verificado e seguido por uma entidade independente», e mostrou-se inteiramente seguro de que, chegado a esse ponto, haverá países europeus e e de outras paragens que apoiarão um processo de resolução no país.

Gari MUJIKA
kazetaria

Fonte: Gara