sábado, 6 de fevereiro de 2010

Solidariedade com Euskal Herria em Buenos Aires


A solidariedade com Euskal Herria reuniu um importante número de pessoas num hotel do centro de Buenos Aires. Ali, pediu-se a liberdade dos presos e das presas bascas e uma saída política e negociada para o conflito. Na foto, da esquerda para a direita, o advogado Eduardo Soares, o politólogo e escritor Atilio Borón e o jornalista Carlos Aznárez.

Resumen Latinoamericano, Buenos Aires, 04-02-2010:
Pode dizer-se, sem hesitações, que desta vez foram poucos os que não estiveram presentes. Na quarta-feira passada, no centro de Buenos Aires, o Hotel Bauen (recuperado e autogerido pelos seus trabalhadores) foi um palco digno para que peronistas revolucionários, comunistas, trotskistas, anarquistas, militantes de organizações sociais e piqueteras, organizações de direitos humanos, sindicalistas e até agrupamentos de lutadores latino-americanos na Argentina desafiassem a opressiva onda de calor que invade o território de Buenos Aires, para dar testemunho do seu apoio a uma saída política para o conflito basco, exigir a libertação dos 760 prisioneiros políticos que se encontram dispersos por prisões espanholas e francesas, e defender uma Euskal Herria livre e socialista.

Tudo isto foi amplamente abordado no encontro a que assistiram importantes personalidades da luta popular argentina, como Nora Cortiñas (Madre de Plaza de Mayo, Línea Fundadora), Graciela Rosenblun (presidente da Liga por los Derechos del Hombre), Fernando Cardozo (Secretário de Relações Internacionais da Central de Trabajadores Argentinos - CTA), que liderou uma importante delegação da Asociación de Trabajadores del Estado, entre os quais se encontravam os dirigentes Héctor Méndez, Carina Maloberti (integrante também da Convocatoria por la Liberación Nacional y Social) e Héctor Carrica.

Também assistiram: Patricio Echegaray (secretário-geral do Partido Comunista), Vilma Ripol (referente do Movimiento Socialista de los Trabajadores), Carlos Chile (do Movimiento Territorial Liberación), Lito Borello (titular da Organización Social Comedor Los Pibes, de la Boca), Darío Lagos (do Partido Comunista Revolucionario), Marcelo Frondizi (da Agrupación Envar El Kadri), Marcelo Koenig (da Juventud Peronista Descamisados), e militantes das Asambleas del Pueblo, a Coordinadora Vasco-Argentina de Solidaridad con Euskal Herria, a Coordinación Latinoamericana de Movimientos Territoriales Urbanos), o Movimiento Quebracho, as Organizaciones Libres del Pueblo (OLP), representantes de organizações do Paraguai, da Colômbia e do Chile. Também esteve presente o delegado para a Argentina da Frente Polisario, Bachir Mohamed Salem, e aderiram o titular da Federación de Entidades Arabes de Argentina, o Director da Mesquita Al Tahuid e da Organización Islámica Argentina, Yusuf Jalily, e a jornalista sírio-libanesa Tamara Lalli. (ver lista completa de adesões em http://www.resumenlatinoamericano.org/)

Numa mesa onde eram visíveis uma bandeira basca (a ikurriña) e uma bandeira que reclama a solidariedade com os presos, o director do periódico Resumen Latinoamericano, Carlos Aznárez, e o advogado e lutador social Eduardo Soares explicaram as razões do encontro solidário e a sua inserção no âmbito de umas Jornadas Internacionais que terão lugar em numerosos países até dia 13 deste mês, organizadas pelos Amigos e Amigas do Povo Basco («Euskal Herriaren Lagunak», em língua basca).

O orador central foi um dos intelectuais com mais peso na realidade argentina e latino-americana actual, o politólogo e escritor Atilio Borón, que, entre os seus inúmeros textos, recentemente publicou um trabalho sobre as conversas que manteve com Fidel Castro. Borón é também assíduo participante nos diversos foros internacionais de crítica ao capitalismo e ao imperialismo norte-americano.

Borón deu conta, num tom ágil e didáctico, do impacto que lhe causou o conhecer de perto a realidade basca. Salientou que o que mais lhe chamou a atenção foi «o impressionante muro de silêncio que se ergueu para esconder e tergiversar o porquê dessa luta», colocando a tónica no facto de isto abarcar não só os meios de comunicação mas também grande parte dos cidadãos espanhóis, incluindo uma boa parte daqueles que «se definem como de esquerda, mas não sabem nada sobre problemática de Euskal Herria». Segundo o palestrante, «isto tem a ver com o facto de no projecto de opressão aplicado sistematicamente pela burguesia espanhola, para amealhar interesses políticos e económicos, não caber nem por sombras esse outro projecto, de autodeterminação e independência, que representa o País Basco».

Depois, Borón fez uma breve alusão ao que significa a repressão em Euskal Herria, insistindo na noção de que os jovens bascos são um alvo na mira. Nesse contexto, referiu-se ao juiz Baltasar Garzón, «um homem que para nós aparecia como o paladino dos direitos humanos e é precisamente o arquitecto da aplicação do Terrorismo de Estado contra o povo basco, e fá-lo a partir das funções que exerce no sistema judicial espanhol».

Criticou também como e quanto «se idealizou entre nós o exemplo da transição espanhola. Venderam-nos Espanha como um modelo imaculado sobre o qual aparentemente não se pode lançar qualquer suspeita. Tudo isto é, afinal, uma imensa mentira: Espanha está muito longe de ser efectivamente uma democracia, e, em matéria de violação dos direitos humanos, o recorde que têm às costas é realmente escandaloso».

Para Borón, quando se fala de um país no qual se aplica a tortura e se atropelam as liberdades individuais diariamente, coisa que ocorre com a repressão exercida pelo Governo de Rodríguez Zapatero contra o povo basco, «não é difícil associá-lo ao que foram as nossas ditaduras latino-americanas e do Terceiro Mundo».

Borón insistiu na ideia de que, em matéria repressiva, o que Espanha aplica aos lutadores bascos faz recordar os ditos do general genocida argentino Ibérico Saint Jean, quando sentenciou que «primeiro mataremos os subversivos, em seguida os colaboradores, depois os seus simpatizantes, em seguida aqueles que permanecem indiferentes e finalmente mataremos os seus filhos». Para o orador, «não resta a menor dúvida de que Espanha é um Estado opressor contra uma importante fatia do povo basco que luta pela sua libertação, que defende a superação do capitalismo e a construção do socialismo».
Notícia completa: lahaine.org