segunda-feira, 24 de março de 2008

Independentistas de diferentes siglas exigem a soberania enquanto o PNV pede um pacto ao PSOE

Aberri Eguna 2008

«Nazioa gara. Zazpiak bat. Burujabetzaren alde» [Somos uma nação. Os sete, uma. Pela soberania]. Foi esta simples mensagem que milhares de cidadãos de todos os territórios de Euskal Herria quiseram ontem fazer ouvir, aderindo à convocatória para um Aberri Eguna unitário defendido pelo Foro de Debate Nacional. E fizeram-no, ainda por cima, no lugar onde Gipuzkoa e Lapurdi se enlaçam, convertendo a emblemática ponte de Santiago num mar de gente que reivindicou ser “uma das nações mais antigas da Europa”.

A marcha partiu ao meio-dia, encabeçada por uma grande ikurriña e por txistularis [tocadores de flauta basca tradicional]. O cartaz – levado por responsáveis pela convocatória como Itziar Fernandez, Garbiñe Bueno, Tasio Erkizia ou Jose María Arrate – indicava o caminho aos cidadãos que se iam juntando ao longo de todo o percurso. Desde o recinto de feiras de Ficoba até ao Frontão Gaztelu Zahar de Hendaia, onde terminou, os participantes, de guarda-chuva nas mãos em alguns momentos da marcha, entoaram palavras de ordem a favor da independência de Euskal Herria. Cinco txalapartas [instrumento de percussão tradicional], situadas ao longo de todo o trajecto, davam as boas-vindas à manifestação à medida que esta passava.
Antes do início da marcha, Bueno, em representação do Foro de Debate Nacional, destacou perante os meios de comunicação que o objectivo da convocatória se baseava na “junção de forças em volta dos pontos em comum”, e em fazê-lo “superando as diferenças e indo para lá das sensibilidades políticas e sociais”, fez notar.

Afirmou que se vive um momento “difícil”, já que a “opressão sofrida por Euskal Herria e pelos seus cidadãos não cessou”. Não obstante, Bueno constatou que o momento actual é também um “momento importante”, uma vez que Euskal Herria “conseguiu chegar ao século XXI como um povo vivo e com a oportunidade de ser dono do seu futuro”.
A representante do Foro insistiu em que nos últimos anos “se estabeleceram as bases para superar o conflito e alcançar uma nação soberana”. Neste sentido, precisou que essas bases assentam “no reconhecimento de Euskal Herria como nação, da sua territorialidade, do direito a decidir, assim como no reconhecimento dos direitos tanto individuais como colectivos do povo basco”. Mesmo assim, Bueno entende que agora chegou a hora de “guiar essa força para um novo contexto”. “Chegou o momento de abrir uma etapa para alcançar o que nos corresponde como nação no mundo”, finalizou.


Depois de percorrer o trajecto, a cabeça da marcha desembocou no Frontão Gaztelu Zahar, onde a aguardava um cenário engalanado por uma ikurriña e pelas bandeiras dos diferentes herrialdes [territórios] do país. Os assinantes da convocatória, de cartaz na mão, subiram ao palco, e desde ali escutaram o som da alboka [instrumento de sopro tradicional basco] e os bertsos [versos cantados, geralmente improvisados] de Sustrai Colina.


O membro do Foro de Debate Nacional Abel Ariznabarreta foi o responsável pela leitura do manifesto adjunto, preparado para o evento e que congregou centenas de adesões. Ariznabarreta denunciou que os estados espanhol e francês “querem cortar a cadeia, fazer calar a voz”, ainda que tenha acrescentado que tal “é inútil”.
Estabeleceu o encontro de ontem como um “ponto de partida para ir avançando no caminho da soberania” e mostrou-se convencido de que mediante “o trabalho em comum, entre as pessoas que constituem este povo, os seus direitos se tornarão realidade”.


Ixabel Etxeberria, integrante da Udalbiltza [Assembleia de Municípios e de Representantes Municipais do País Basco], também tomou a palavra para se dirigir especialmente a todos os representantes eleitos de Euskal Herria e instá-los a que participem activamente na reorganização da instituição nacional. Na sua perspectiva, este país precisa de ter instituições nacionais para a “sua própria sobrevivência”, destacando que este “é um problema da máxima importância”. Recordou ainda que neste último ano se renovaram todos os municípios do conjunto do país, pelo que considerou o momento actual como “vital” na reorganização da Udalbiltza.


Ausência do PNV
Entre os milhares de cidadãos que ontem estiveram presentes entre Irun e Hendaia, apareceram também rostos conhecidos do âmbito político e sindical. Entre eles estava o presidente da EA em Nafarroa e deputado da NaBai, Maiorga Ramírez, o vice-coordenador do Aralar, Jon Abril, o presidente da ANV, Kepa Bereziartua, o histórico militante da esquerda abertzale Tasio Erkizia, ou o secretário-geral do LAB, Rafa Díez. Destacava-se a ausência do PNV.
Alguns deles aproveitaram a data para fazer passar as suas mensagens, para além de assumir o que fora proposto pelos convocantes. Foi esse o caso de Abril, que assegurou que Aralar não quer que o Aberri Eguna se limite a “uma foto de reunião de diferentes partidos” e defendeu que “essa união vá mais além”.


Fonte: GARA