sexta-feira, 27 de março de 2020

«Cisne negro»

[De António Santos] A história do Lago dos Cisnes, de Tchaykovsky, é outra metáfora profunda e inesperadamente perturbada por um cisne negro: o príncipe Sigfredo prepara-se para declarar amor eterno à princesa Odette, quebrando assim a maldição que a transformou num cisne branco. Imprevisivelmente, um cisne negro entra em cena e, enganado, Sigfredo acaba por oferecer-lhe o seu amor. Não está em causa que o surgimento do cisne negro fosse uma surpresa para o príncipe, mas porque será que Sigfredo não distinguiu o cisne branco, a sua amada Odette, de um cisne negro, a malvada Odília? É difícil acreditar que Sigfredo não soubesse o que estava a fazer quando o inesperado e a excepção lhe surgiram. Todos os grandes estados de excepção, mesmo os mais inesperados cisnes negros, representam oportunidades para concretizar anseios antigos, para experimentar o que nunca tinha sido experimentado, para transformar o temporário em permanente e para tornar o impensável aceitável. (avante.pt)