quarta-feira, 2 de abril de 2008

'Gatza' preso há 28 anos

A Associação de Solidariedade com Euskal Herria publica uma parte da brutalidade vivida por 'Gatza' há quase 28 anos. Mais um retrato que ilustra a repressão de que são alvo todos aqueles que lutam pela liberdade no País Basco. Lê e passa a mensagem.

Amnistia e liberdade para os presos políticos bascos!
Viva 'Gatza'!


J.M. Sagardui Moja, 'Gatza'


'Gatza'

O preso político basco José Mari Sagardui Moja, 'Gatza', proveniente da localidade de Zornotza, está encarcerado desde 1980. A 8 de Julho deste ano, cumprirá 28 anos de prisão. Mais de metade da sua vida. Não há no Estado espanhol nenhuma pessoa que esteja há tanto tempo em semelhante situação.

'Gatza' só esteve em duas ocasiões em estabelecimentos prisionais no País Basco e em ambos os casos por muito pouco tempo. Tanto ele como a sua família conhecem bem a crueldade que supõe a política de dispersão: afastamento de familiares e amigos, solidão, risco continuado de acidentes rodoviários de familiares e amigos, dificuldades económicas.

Se 'Gatza' estivesse preso por delito comum ou por terrorismo de Estado já estaria livre. Contudo, 'Gatza' é um dos quase 900 presos bascos que não vêem reconhecido o estatuto político da sua situação, apesar das medidas repressivas que se aplicam aos encarcerados serem absolutamente políticas, variando a sua crueldade segundo a situação política do momento.

Estas medidas, para além de o afectarem também afectam Santos, o seu pai, Bego, a sua mãe, Kontxa, a sua companheira, e Goiztiri, a sua filha.

Santos e Bego durante estes 24 longos anos conheceram dezenas de localidades do Estado espanhol para estarem com o seu filho, em alguns casos apenas uns minutos. Viajar pode ser bonito quando se está de férias mas não é o caso. Fins-de-semana inteiros na estrada, perdas de dias de trabalho, a intranquilidade de não se saber o que se passa com o filho a cada momento.

Se esta é uma situação dura para os adultos imagine-se como será para Goiztiri com 8 anos.

Goiztiri conheceu o seu pai na prisão. Sempre longe do País Basco, primeiro em Puerto de Santa María onde a mãe a levava com poucos meses e de ali para Jaén, devido à política de dispersão aplicada pelos diferentes governos espanhóis. Goiztiri vê o pai uma vez por mês. Viaja horas e horas e dorme numa pensão para, no dia seguinte, poder brincar com ele num pequeno pátio da prisão.


Visitas


A prisão de Jaén está a 730 Km de Zornotza, a terra de 'Gatza'. As visitas só se podem realizar aos domingos entre as 16.00 e as 16.30. Há que estar na prisão meia hora antes. A viagem de regresso a Zornotza é longa e a chegada é já de madrugada.

A qualidade do parlatório é péssima. Para além de sujo, as comunicações são complicadas. Há que repetir muitas vezes porque se misturam as conversas dos vários visitantes e torna-se incompreensível. Tanto para 'Gatza' como para os seus companheiros fica uma sensação de impotência no final das visitas por tudo o que se tentou dizer e ouvir e que não se conseguiu. Para além disso, as visitas dos amigos são restritas uma vez que se proíbem as visitas de ex-presos.

As visitas pessoais só podem ser realizadas por familiares directos, pais, filhos e companheiros. Normalmente, têm a duração de cerca de hora e meia.

Estas visitas só se podem realizar nos domingos de manhã, o que obriga a sair de casa de véspera, dormir em pensões, o que agrava os custos das viagens.

'Gatza' tem uma filha, Goiztiri. Tem uma visita especial mensal. No seu caso, a visita realiza-se das 16.00 às 20.00 e, dependendo do funcionário que calhe, a criança pode ou não comer. Ou seja, há funcionários prisionais que só deixam entrar um iogurte para toda a tarde. Quando vai visitar o seu pai, a menina tem de percorrer 1500 Km.

Revistas

Os presos são fortemente controlados e em todos os âmbitos: na intimidade, nas relações afectivas, ideológicas e psicológicas (gravações das chamadas telefónicas, das visitas no parlatório, a correspondência é lida).

Controlam toda a rotina diária: os livros que lêem, o que fazem e julgam todos os movimentos, conseguindo assim que não possam ter vida própria e intima. Conforme o estado do preso, tratam-no de forma a que seja mais prejudicado.

Estudos

Os presos políticos bascos não podem fazer os seus estudos na Universidade do País Basco. Uma parte importante dos que o faziam tiveram de abandonar devido aos entraves levantados pelo governo.

A cela

'Gatza' está num módulo de isolamento como o estão a maioria dos presos políticos de Jaén. O isolamento é uma situação sofrem diariamente.

A cela é pequena, tem pouco espaço, não tem luz natural mas antes uma lâmpada.

Os presos estão durante 20 horas diárias na cela, em absoluto isolamento. Um dia e outro. Um mês e outro. Um ano e outro.

O pátio

Os presos podem estar quatro horas diárias no pátio. Uns dias de manhã, noutros de tarde. Os pátios parecem pequenas ruas onde não há nada. Nem sequer bancos. Durante as horas de pátio não podem ir para a cela e é durante essas quatro horas que podem fazer desporto ou tomar banho. Fora dessas horas nada. Só o isolamento da cela.

Actividades

'Gatza', como a quase totalidade dos presos políticos da prisão de Jaén, encontra-se de forma ininterrupta em celas de castigo. Como tal, não pode realizar qualquer actividade. Não tem direito a fazer trabalhos manuais como os restantes presos.