domingo, 2 de novembro de 2008

Três dos detidos em Nafarroa e Valência denunciam torturas

Tasio_Gara (na tira Unai Romano e não um dos detidos em Nafarroa, mas vale, como vale!)
Santiago Pedraz, juiz da Audiência Nacional espanhola, deu ordem de prisão aos quatro detidos durante a última operação policial em Nafarroa e Valência. No auto, Pedraz acusa Aurken Sola e Xabier Rey de “pertença” à ETA, enquanto Sergio Boada e Araitz Amatria são acusados de “colaboração”. Com excepção de Boada, todos os jovens se queixaram de terem sido torturados nos calabouços policiais.

Depois de terem permanecido cinco dias sob incomunicação nas dependências da polícia espanhola, Aurken Sola, Xabier Rey – ambos detidos em Iruñea –, Sergio Boada – preso em Añorbe – e Araitz Amatria – detida em Valência - foram ontem conduzidos à Audiencia Nacional. A operação movida contra eles foi dirigida por Grande-Marlaska, mas, como este último ontem estava de folga, os detidos foram levados à presença do titular do Tribunal Central de Instrução n.º 1, Santiago Pedraz.

Os quatro jovens compareceram perante o juiz na companhia da sua advogada de confiança. Com excepção de Sergio Boada, todos afirmaram que aquilo que tinham declarado nos calabouços fora “sob tortura”, e negaram-se a prestar mais declarações. Boada, por seu lado, disse que não tinha sido torturado, e negou qualquer relação com a ETA.

Pouco antes de que Pedraz tornasse público o auto de prisão para todos eles, dois familiares de cada detido tiveram oportunidade de entrar nos calabouços da Audiência Nacional e de os ver durante cinco minutos, com um vidro de permeio.

Os detidos puderam comunicar que tinham sido bastante espancados durante os cinco dias que permaneceram nas mãos da polícia espanhola, sobretudo Xabier Rey e Aurken Sola, enquanto Araitz Amatria afirmou ter sido especialmente alvo de “torturas psicológicas”. Em concreto, Rey disse que lhe tinham batido nos testículos e que tinham utilizado a sua companheira, Araitz, como pressão psicológica, dizendo-lhe que a iam violar. Também disse que lhe fizeram “muitas sessões de saco” e que ameaçaram colocar-lhe eléctrodos.

Aurken Sola relatou que, durante a viagem para Madrid, ameaçaram “abatê-lo a tiro”, e que, uma vez na capital espanhola, lhe bateram muito na cabeça, ameaçaram “violá-lo com um pau”, pôr-lhe eléctrodos, aplicar-lhe o saco e deter a sua namorada. Em ambos os relatos se afirma que, durante estes cinco dias nos calabouços, foram obrigados a permanecer em posturas forçadas.

Araitz Amatria disse que tinha levado “alguns socos”, recebido também “muitas ameaças e pressões” e que tinha sido obrigada a estar em “posturas forçadas”. Por último, Sergio Boada referiu que só lhe tinham dado “um soco” e que o interrogatório policial dizia sobretudo respeito à sua relação com a Askatasuna e à organização de festas no bairro de Donibane.
Depois desta visita fugaz dos seus familiares, os quatro jovens foram levados para a prisão de Soto del Real, onde hoje poderão ser visitados pelos seus familiares.

Não os acusam de nenhuma acção
Pouco depois da 13h00, Santiago Pedraz deu ordem de prisão a todos eles. No auto, o juiz refere que Aurken Sola e Xabier Rey fariam parte de um comando da ETA. Não os acusa de nenhuma acção específica, excepto o transporte de material de um esconderijo para um sótão alugado por Rey. De acordo com a versão policial, nesse sótão foi apreendido material próprio para fabricar artefactos explosivos, dois revólveres e documentação relacionada com a ETA, enquanto na casa de Aurken Sola se encontraram várias memórias USB [ou pens].

No que se refere a Amatria e Boada, a acusação é de “colaboração” com a ETA. Em relação à primeira, o auto judicial indica que “colaboraria com o seu companheiro sentimental, Xabier Rey, dando cobertura aos seus movimentos e facultando-lhe informação sobre os controlos policiais” em Iruñea.

Também o acusa de ter facultado ao seu companheiro o acesso a uma habitação em Hendaia, onde a polícia espanhola diz que “manteriam contactos” com dirigentes da ETA [entretanto, a casa a que a polícia espanhola se referia, propriedade de uma tia de Amatria, já foi inspeccionada pela polícia francesa, não tendo sido confirmada a suspeita].

Em relação a Sergio Boada, o auto judicial sustenta que “se detectaram contactos no seu domicílio com Rey e Amatria, que lhe entregou uma série de documentos informáticos ainda por analisar”. No texto, o juiz Santiago Pedraz afirma que, enquanto não se proceder a essa análise, “é preciso manter a medida de prisão preventiva para garantir que Sergio Boada esteja à disposição do processo a qualquer altura”.

Iñaki VIGOR

Fonte: Gara