domingo, 4 de agosto de 2019

«Porto Rico, um povo e um furacão»

[De António Santos] Este caldo de descontentamento, que vinha há anos levantando fervura, transbordou finalmente. Durante dez dias, manifestações de massas em que participou um quinto da população, cercaram La Fortaleza, o palácio do governador. Mas foi a greve geral, do passado dia 22, que obrigou o governador a demitir-se dois dias depois.

Dificilmente poderá a ordem colonial manter-se da mesma forma, mas os donos da ilha estão já a estudar formas de se aproveitarem do vazio programático, do mistifório ideológico e do carácter espontâneo de que se reveste o movimento popular de massas para manter, com outras roupagens, a sua dominação. Exemplo destes esforços é a moratória de 120 dias agora concedida por Washington ao pagamento da dívida porto-riquenha, uma caridade que, vá se lá saber porquê, não ocorreu aos EUA quando a ilha se debatia com furacões, mas que dá muito jeito quando o verdadeiro furacão é um povo levantado. (avante.pt)