quarta-feira, 28 de maio de 2008

‘Urtekaria 2007’: crónicas de 365 dias de ataques silenciados na Nafarroa “com correntes por dentro e por fora”



Este fim-de-semana, em localidades como Goizueta ou Jaurrieta, deu-se a conhecer o Urtekaria 2007. Já antes havia sido apresentado noutros lugares, e o giro seguirá agora por Errotxapea (dia 29), Zona Antiga de Iruñea, Elizondo, Txantrea... Trata-se de um trabalho jornalístico exaustivo que revela múltiplas facetas da repressão exercida contra todo o tipo de manifestações do movimento popular ocorridas neste herrialde [território histórico] ao longo de 365 dias. Através de notícias, entrevistas ou reportagens, explica-se em primeira-mão e com detalhe situações que muitas vezes nem sequer são do conhecimento do grande público, por não passarem no filtro dos meios de comunicação oficiais.
“Nafarroa tem correntes, por dentro e por fora. As de dentro são as nossas, as de fora são impostas. Assim diz a canção popular, e essa é a realidade do nosso povo”. Assim começa o anuário. “As correntes de fora são as que nos atam a Espanha e a França, as que impedem este povo de tomar a palavra e decidir o seu futuro. Foram impostas há muito para tentar amordaçar este povo, para o impedir de seguir caminho por si mesmo. E também há as correntes de dentro, que são as nossas, mas que estão ao serviço dos de fora, e se encarregam de aniquilar os que procuram romper essas ataduras. Há quem se renda – aqueles a quem pesam demasiado – e se converta em mais um elo”.
O historiador Floren Aoiz recorre a este símile e denuncia “a mentira da transição” no seu artigo «30 anos sob o peso da Constituição de 1978», que serve de prólogo ao anuário. Este reflecte a existência de toda uma linha de continuidade desde aquela altura até hoje – ideia que surge também vincada no artigo «1982-2008: Nafarroa vendida mais uma vez». Estes textos contextualizam politicamente a continuidade da repressão em Nafarroa, e os dados são contundentes. Em 2007, contabilizaram-se 627 controles de estrada, 1165 identificações, 145 detenções, 19 encarceramentos, nove denúncias de tortura, 32 cargas policiais, 50 espancamentos, 164 ataques à liberdade de expressão, 65 proibições, 26 ataques fascistas, mais de 50 000 euros em multas, a morte de uma pessoa na sequência de uma carga da Polícia Municipal de Iruñea – a moradora de Errotxapea de etnia cigana Antonia Amador –, e três acidentes causados pela dispersão prisional.
Alguns dos factos enquadram-se num panorama geral, como os macro-processos (18/98), as ilegalizações ou as detenções. Outros apresentam um carácter mais específico, como as detenções de jovens de Burlata que fizeram denúncias públicas de torturas ou o julgamento contra 12 habitantes de Iruñerria [comarca de Pamplona], depois de dez anos imputados por kale borroka [violência de rua].
2007 foi também o ano do encarceramento de Xabier Errea, um dos jovens do gaztetxe [centro juvenil] de Iruñea, e o do solidário com Itoitz Julio Villanueva *, que tiveram grande impacto. Paralelamente, a Polícia Foral e a Municipal foram mais protagonistas que nunca na repressão contra as iniciativas populares. O anuário anuncia ainda que os “forais” abriram novas sedes em Lizarra, Elizondo e Altsasu.

* membro do grupo Solidari@s com Itoitz, protagonista de uma acção não violenta contra a construção de uma barragem no pântano de Itoitz, no vale de Irati, em 1996

Fonte: Gara