segunda-feira, 25 de maio de 2009

«Amaiur é um sentimento de um povo que sempre lutou para se defender»


Iñaki SAGREDO, escritor, entrevistado por Itziar AMESTOY

Para Iñaki Sagredo, os castelos falam do reino de Nafarroa. Por isso dedicou uma grande parte do seu trabalho à publicação de obras sobre as fortificações. Amaiur é um dos castelos mais importantes e, com El Castillo de Amaiur a través de la historia de Navarra, mostra que a sua história se prolonga para lá de 1522.

Os trabalhos publicados por Iñaki Sagredo têm os castelos de Nafarroa como elemento central; há até quem tenha dito que se deveria inventar o termo ‘castelólogo’ para o definir, algo que, apesar do exagero, recebe como elogio. Depois da colecção «Navarra, castillos que defendieron el reino», publica agora na Pamiela um livro sobre o Castelo de Amaiur, a última resistência dos navarros. O livro abrange um período que ultrapassa o ano de 1522 e apresenta uma visão ampla sobre o castelo, fruto de uma aturada documentação.

Falar de Amaiur é falar da batalha de 1522; no entanto, o livro abarca um período muito mais amplo.

Até se diz por que razão o famoso caminho que atravessava os Pirinéus ali estava. Também há informação medieval sobre reparações e outros dados interessantes do século XVIII, quando o castelo era um forte e resistiu ao ataque dos franceses. Pensa-se que o castelo terminou em 1522 e existem elementos muito belos que ampliam esta história.

Que novidades traz para a história do Castelo de Amaiur?

No livro, há documentação inédita, além da já existente. Há documentos do século XVI, da época medieval, inclusive dos sécs. XVII e XVIII. O mais interessante são os mapas cartográficos inéditos, do serviço histórico militar de Madrid.

Este material inédito é também interessante para leigos na matéria?

Sim, há até um pequeno desenho do castelo de Amaiur num mapa do século XIX que apresenta toda a zona fronteiriça. Também há outro mapa cartográfico de 1789 que vem da ermida de Santa Barbara e que se desconhecia.

É uma obra definitiva?

Pode ser que haja outra coisa, mas com esta demos um passo importante. Se depois vierem outras obras com novas contribuições, estupendo. O importante é dar a conhecer a história do castelo.

Até que ponto a história de Amaiur é representativa na história de Nafarroa?

É a última tentativa de recuperar a alta navarra e foi um símbolo da independência. No séc. XIX promoveu-se o monumento de Amaiur para recordar essa tentativa de resistência. É a referência actual a esse símbolo que pode conduzir à vida actual. Não é só a história, é o que aquilo que representa. O que o livro tem de bom é que nele trabalho sobre documentação, são fontes primárias, não há engano.

Tendo em conta que se tentou silenciar a história de Amaiur, o facto de falar sobre ela já é um posicionamento.

Sempre houve polémica. No século XIX, quando se ergueu o monumento, também houve gente que se opôs a isso. A ideia é atenuar tudo isso abordando a história dos acontecimentos, todos os documentos que existem e indo para lá do ano da batalha de 1522. Na verdade, é isso que o título anuncia: El castillo a través de la historia de navarra.

A apresentação do livro, com desenhos e mapas, está orientada para a divulgação?

A ideia não é tanto despejar informação interessante para gente especializada – embora estas pessoas também contem –, mas procurar antes que mergulhem na história. Se falamos do séc. XVI, referimos mapas daquela época para que a história se torne visível e para que as pessoas se possam ambientar.

As escavações de Aranzadi contribuíram de alguma forma para o seu trabalho?

Bastante. Não nos quisemos sobrepor ao seu trabalho, mas demos a nossa opinião. Todos temos que dar a nossa contribuição para divulgar o conhecimento.

Tem mais algum projecto em mente?

Falta o último livro dos castelos. Existem sempre dois pontos importantes: os castelos e a toponímia, o euskara. Se arranjamos um mapa dos castelos do séc. XI e sobrepomos um mapa do euskara, vemos que coincidem. Com o último livro, vamos ficar todos boquiabertos, pelo facto de nós, bascos, termos chegado onde chegámos, não como um reino mas como um povo, com uma cultura.

Os castelos são um testemunho incómodo da história que por vezes se quer ocultar?


Acabam por nos dizer que isto foi um reino. Quando comecei, diziam-me que existiam seis castelos em Nafarroa, mas estamos a falar de cento e tal castelos. De tudo isso, não resta nada, está submerso entre a vegetação e a hera. A minha maneira de representar a nossa velha história é com estas publicações. Mostramos que éramos todos da velha raiz basca e isso surpreende as pessoas. É história, mas é também um sentimento de um povo que sempre andou a lutar para se defender. Não engano, dou a conhecer as pedras e os documentos.

Fonte: Gara
Editorial: pamiela etxea