sexta-feira, 17 de julho de 2009

Ainda sobre Esarte e os «Navegantes do Interior»


Pedro Esarte: "Para mim foi sempre importante confrontar a história real com a oficial"

Pamplona. A história oficial é quase sempre escrita pelos vencedores das contendas, pelos ricos e poderosos, daí que existam tantos episódios silenciados na escuridão a que se costuma condenar as gentes anónimas e os acontecimentos que, muitas vezes por conveniência, não é oportuno destacar. Assim pensa Pedro Esarte, o investigador de Elizondo que recentemente deu a conhecer um novo estudo, editado pela Nabarralde, que possui bastante de inédito, Navegantes del interior. Emigración de Baztan y Nafarroa Beherea desde el siglo XIV.
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Esta é a 16.ª publicação de Esarte relacionada com diversos aspectos da história de Navarra. Começou em 1997, "quando me nomearam representante de Elizondo" [na Casa das Juntas de Baztan], e desde então tem assinado obras relativas a questões como a propriedade nos montes de Navarra, o comboio europeu que nunca se chegou a construir neste território e muitos outros episódios não muito conhecidos. Não em vão, acredita que muito do que se escreveu e publicou sobre a história de Navara corresponde a um ponto de vista oficial, "e assim ainda há muito para escrever". "Os meus livros surgem a partir das histórias de toda essa gente esperançada que depararou com muros no momento de alcançar os seus sonhos", comenta.
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Nesta nova incursão editorial, aborda a emigração marítima de baztaneses e baixo-navarros, recolhendo numerosas vivências pessoais e acontecimentos, por vezes dramáticos, que se deram entre o século XIV e o início do século XVII, centrando-se sobretudo no séc. XVI.
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Castigo, esperança, ambição. Até agora "não existia nenhum trabalho plausível sobre este aspecto", refere o autor, que nas suas numerosas visitas ao Arquivo Geral foi deparando com documentos de processos e protocolos notariais que aludem a reclamações de heranças por parte de pessoas que mencionavam parentes que tinham viajado para o que se conhecia como Novo Mundo. "Muitos viajaram obrigados, por castigos ou dívidas, outros com esperança e outros por uma questão ambição", refere Esarte, que, antes de mais, quer realçar o facto de em Baztan, "apesar de ser interior", também ter havido gente que sentiu o apelo do mar e embarcou para demandar novos horizontes. Muitos deles naufragaram, como se dá conta neste livro, e outros chegaram aos seus destinos, mais ou menos longínquos, uma vez que existem casos de emigração para a Flandres, Tunísia, Nápoles e Peru, entre outros lugares.
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O que desperta mais curiosidade relativamente a estes navegantes do interior é, sem dúvida, conhecer as circunstâncias que motivaram as suas viagens, plasmadas em "histórias curtas, mas que reflectem as esperanças de cada um dos seus protagonistas". Esta publicação destina-se ao público em geral e a estudiosos, que Esarte incita a aprofundarem este ponto da história, investigando a emigração marítima noutras zonas de Navarra, pois "é importante confrontar a história real com a história oficial", que costuma ser relatada "ao jeito de quem possui os seus próprios biógrafos".
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