sexta-feira, 15 de agosto de 2008

A ikurriña ao alto ou a identidade de um povo

“A nós, cabe-nos agora mostrar aos rebeldes a nossa determinação de ser livres. Se sairmos derrotados, a próxima geração levantará a ikurriña ao alto e continuará a batalha pela liberdade que nós iniciámos”. Estas palavras de Kandido Saseta, que foi comandante-chefe do Eusko Gudarostea [Exército Basco na guerra de 1936], manifestam o enorme valor simbólico que teve a bandeira basca para aqueles que deram a vida nas trincheiras de 36, em defesa da liberdade e da democracia despedaçadas pelo levantamento fascista. E foi essa clara identificação com a luta contra a imposição dos sublevados que, depois da guerra, tornou as suas cores proscritas, durante os longos anos da ignomínia franquista.

A batalha pela liberdade que Saseta anunciara, encarnada, neste caso, na luta pela defesa da ikurriña, não terminou. Jamais terminou. A sua legalização, em 1977, não foi mais que uma ilusão, a mesma que alguns viram naquele processo de transição política que realmente nunca existiu e que hoje em dia tenta dobrar Euskal Herria até à submissão. Foi Fraga [Iribarne] quem disse que “hão-de passar por cima do meu cadáver, antes de permitir a exibição dessa bandeira”. E aqueles que, como Fraga [Iribarne], nunca chegaram a admitir, nem muito menos a perdoar, a legitimação da ikurriña e daquilo que simboliza, procuram agora recuperar o terreno perdido, amparados na prepotência legal e judicial herdada daqueles sublevados, e na calculada passividade dos que escondem a ikurriña nos seus sumptuosos gabinetes, enquanto espetam com a espanhola nas varandas.

Lizartza, Bilbau, Donostia, Durango, Atarrabia... Em Nafarroa, a ikurriña não pode sequer ondear na rua. Na Bizkaia, em Gipuzkoa e Araba a espanhola está a impor-se, num edifício municipal a seguir ao outro. Em Lapurdi, Nafarroa Behera e Zuberoa, a administração francesa relega o símbolo basco ao estatuto de mero atractivo turístico, afastado de qualquer espaço político ou administrativo. Ontem, em Donostia, centenas de pessoas ergueram a ikurriña, tal como anunciara Saseta, como emblema da luta de um povo que resiste e procura decidir a sua própria liberdade.

Fonte: GARA