domingo, 31 de agosto de 2008

Tortura nas mãos da Guarda Civil: detido em Barañain relata que perdeu os sentidos e que foi acordado a pontapés


Bofetadas, “o saco”, simulação de eléctrodos, ameaças a pessoas próximas, gritos... e inclusive uma perda de sentidos de que foi resgatado a pontapés. Estes são alguns dos episódios do “inferno” narrado pelos jovens Xabier Sagardoi e Luis Goñi, detidos em Barañain no último domingo e enviados para a prisão por Grande-Marlaska por suposta pertença à organização Segi. Um dia depois de serem encarcerados, puderam contar à sua advogada o que sofreram nas mãos da Guarda Civil. Referiram que às vezes “não eram capazes nem de falar”, e que os obrigaram a decorar as suas declarações.

Depois de passar a primeira noite na prisão madrilena de Soto del Real, os barañaindarras Luis Goñi e Xabier Sagardoi puderam comunicar, pela primeira vez, com a sua advogada de confiança e relatar-lhe “o inferno” sofrido durante os cinco dias nas mãos da Guarda Civil. Ambos confessaram que estes foram os “mais duros” das suas vidas.

Os jovens referiram que os interrogatórios policiais se arrastavam “horas e horas entre socos, ameaças e a aplicação do ‘saco’”. Contaram que em alguns momentos “não eram sequer capazes de articular uma palavra”, segundo transmitiu a Askatasuna.

Aprofundando aquilo que indicaram aos seus familiares na véspera, detalharam “socos e pancadas” por todo o corpo, mas de maneira especial na cabeça, nos testículos e nas costas.

Goñi e Sagardoi precisaram que os agentes faziam uso de “uma lista telefónica” para lhes bater. E explicaram que os guardas civis os obrigavam a “jogar ao jogo do ‘churrito’”, que consiste em levar com um jornal enrolado.

Para além disso, informaram que durante todo o período passado nas mãos da instituição armada permaneceram com os olhos tapados; só os puderam abrir na presença do médico forense e para ir à casa de banho, referiram à sua advogada.

Até perder os sentidos

Denunciaram que a aplicação do saco foi “constante” durante os cinco dias. Um dos detidos indicou que, na primeira vez que lhe aplicaram o saco, perdeu os sentidos e foi acordado a pontapés pelos agentes que o tinham à sua guarda nesse momento. Quando tinham o saco na cabeça, os agentes obrigavam-nos a ajoelhar-se e a erguer-se, enquanto lhes davam socos no estômago.

Narraram que a Guarda Civil também ameaçou aplicar-lhes os eléctrodos e que, inclusive, simularam fazê-lo em algumas ocasiões. Sagardoi disse que lhe chegaram a colocar os cabos e Goñi, que lhe molharam a cabeça e os cotovelos e insinuaram a aplicação dos eléctrodos.

Os dois jovens também relataram ter sido objecto de maus tratos psicológicos. Os agentes tentaram fazer-lhes crer, por exemplo, que tinham detido a companheira ou que a mãe tinha dado entrada no hospital. Além do mais, levaram-nos a acreditar que não eram os únicos detidos, e os agentes faziam ruído à sua volta para lograr o seu objectivo.

O inferno voltou

Quando tinham passado cerca de dois dias desde a detenção, de acordo com os cálculos dos jovens, os agentes deixaram-nos “descansar” um pouco. Comentaram à advogada que tentaram dormir e acalmar. Mas, “quando julgávamos que tudo tinha acabado – referem ambos –, o inferno começou de novo”.

A Askatasuna destacou na sua nota de imprensa que todas estas práticas tinham como objectivo que os jovens decorassem as declarações policiais em que se davam como culpados e acusavam outros jovens. Um dos detidos disse que até teve que aprender a planta da instalação de um esconderijo, para depois a repetir na declaração.

Tanto Goñi como Sagardoi explicaram como denunciaram perante o médico forense o que se estava a passar. E acrescentam que também o fizeram perante o juiz Fernando Grande-Marlaska, quando estiveram, em regime de incomunicação, na sua presença.

Os detidos dirigiram-se ao juiz e afirmaram que “ainda eram capazes de voltar a repetir a declaração policial ponto por ponto”, uma vez que tinham sido obrigados a decorá-la. Acrescentam que o magistrado da Procuradoria, ainda assim, os tentou “intimidar”, dizendo que decorar esse tipo de declarações é “impossível”, e que nessa altura lhes perguntou que tipo de estudos tinham feito, para ter esse nível de memória. Os barañaindarras informaram a sua advogada de que o próprio juiz pediu ao magistrado para se acalmar.

Assim que saiu da prisão em que se encontram os jovens, a advogada de Sagardoi e Goñi explicou ao GARA que, depois de tudo o que passaram, os encontrou “tranquilos”, já que na prisão puderam “dormir e descansar”.

A Guarda Civil irrompe noutra casa em busca de mais um jovem

Um dia depois da ordem que enviou Goñi e Sagardoi para a prisão, a Guarda Civil irrompeu de novo em Barañain. Fê-lo de noite e num domicílio da Avenida Comercial, com o propósito de prender um outro jovem da localidade navarra.

Os agentes da instituição armada não alcançaram os seus objectivos, já que ali não se encontrava o jovem que procuravam. Moradores de Barañain referiram ao GARA que os agentes o confundiram com outro jovem, que se encontrava em casa com outras duas pessoas, e que o chegaram a algemar antes de verificarem que não se tratava de quem realmente procuravam. Também denunciaram a este periódico que mantiveram este jovem deitado no chão, enquanto lhe pisavam a cabeça. No total, permaneceram no andar cerca de três horas.

A operação policial teve início no domingo passado, quando Luis Goñi, de 24 anos, e Xabier Sagardoi, de 22, foram detidos. Nesse dia, a Guarda Civil procurou um terceiro jovem no bairro de Iturrama [em Pamplona], mas não o conseguiram deter.
Fonte: Gara