segunda-feira, 11 de agosto de 2008

«A ikurriña deve ondear porque democraticamente é assim, não por teimosia minha»



Peio GURBINDO, autarca de Atarrabia (Nafarroa Bai), entrevistado por Ander PEREZ

A 28 de Setembro de 1977, os habitantes de Atarrabia decidiram em referendo que a ikurriña é uma das “bandeiras oficiais” da localidade. Como viveu essa data?

Eu tinha então 13 anos, mas lembro-me muito bem porque eram tempos politicamente especiais, que vivíamos muito intensamente. Tínhamos aprendido a conviver com a ikurriña, apesar de ter estado ilegalizada, e víamo-la como algo nosso, algo natural. Hilario Eransus, mesmo sendo um autarca posto “a dedo”, teve uma atitude democrática a toda a linha, que foi a de realizar um referendo. Lembro-me de o ter comemorado com os meus amigos.

O facto de içar a ikurriña no mastro no 30.º aniversário daquele referendo foi uma mostra de respeito pela decisão popular?

Pareceu-me uma data muito bonita para que a ikurriña voltasse a ondear, mesmo sem ser na Câmara Municipal, porque a lei – com que não concordo – não o permitia de forma oficial, mas sim na nossa praça mais emblemática. Tem uma carga simbólica, naturalmente; recorda-se o referendo de 1977 e o mais puramente democrático, que é consultar o povo sobre os temas que interessam aos habitantes.

Após a sentença, antepõe-se a legalidade à legitimidade da decisão popular?

Colocámos a ikurriña porque creio que é uma bandeira do povo de Atarrabia, um símbolo como o é o escudo da localidade. Além disso, o referendo de 1977 foi votado em sessão plenária municipal em 2007, pela maioria dos representantes dos habitantes de Atarrabia, que voltaram a
reconhecer como sua a ikurriña e, de passagem, rejeitaram a Lei de Símbolos [de Navarra]. A sentença não diz que estamos a infringir nenhum artigo, pelo que se trata de uma sentença totalmente política, porque só diz que estamos “a burlar o espírito da lei”. Portanto, julgam-se intenções. A sentença, para além do mais, diz textualmente “certamente não ondeia no edifício oficial”, pelo que nos dá razão. Iremos recorrer dela e estamos a estudar hipóteses para o caso de o recurso ser denegado.


Pensaram nalgum mecanismo para que a sociedade de Atarrabia se possa posicionar, tal como o fez em 1977, em relação à ikurriña?

Estamos à procura de soluções, mas não posso adiantar nada para não mostrar o jogo ao inimigo. O que fica claro é que o povo de Atarrabia aprova a ikurriña como sua. A ikurriña deve ondear em Atarrabia porque democrática e legitimamente tem que ser assim, não por teimosia minha.


Fonte: Gara