segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Sem pingo de vergonha! Garzón manda para a prisão os oito detidos na sexta-feira


O juiz Baltasar Garzón deu ordem de prisão aos oito militantes abertzales presos na sexta-feira passada em Gipuzkoa, na Bizkaia e em Araba, acusando-os de um delito de “integração em organização terrorista”. Foram encarcerados em Soto del Real.

Amparo Lasheras, Iñaki Olalde, Arantza Urkaregi, Imanol Nieto, Eli Zubiaga, Iker Rodrigo, Hodei Egaña e Agurtzane Solaberrieta foram encarcerados em Soto del Real, segundo informou o Movimento Pró-Amnistia.

O juiz Garzón terminou o interrogatório às 2h da manhã e deu a conhecer a sua decisão às 5h.

Acusa-os de um delito de “integração em organização terrorista” e afirma que a ETA instrumentalizou a D3M e a Askatasuna com a intenção de “burlar as instituições do Estado e conseguir estar presentes nas mesmas, para assim dar cumprimento à estratégia terrorista da ETA quando as circunstâncias o exijam”.

O juiz sustenta no auto de prisão, de 46 fólios, que a D3M “constitui o centro organizativo do novo Batasuna”, bem como do EHAK e da ANV, que se converteram “num todo orgânico às ordens de ETA/Ekin/Batasuna”.

“Converteu-se no suporte de todo o conjunto de organismos e entidades do Movimento de Libertação Nacional Basco (MLNV)”, acrescenta no seu auto.

Garzón argumenta que os detidos são membros do Batasuna que se “desdobraram do mesmo” e sustenta que “cada um deles, com consciência e vontade de que as organizações Ekin, Batasuna, ANV e PCTV se integram ou fazem parte da órbita da ETA, como responsável máximo da rede terrorista organizada que busca a autodeterminação ou a independência de Euskal Herria por meio da luta armada, ou violência terrorista, complementada pelos demais métodos de luta, entre os quais se encontra o âmbito institucional e especificamente relacionado com a presença nos processos eleitorais”.

Para tal, refere que a “ETA- ETKI (sic)- Batasuna dispôs do necessário desde há anos e de forma continuada para obter essa essencial finalidade como método para combater em todos os âmbitos contra o Estado espanhol e as suas instituições”.

Segundo o juiz, “todos os detidos e outros imputados investigados aos quais foi praticada a correspondente inspecção domiciliária” dirigem “todos os esforços para cumprir as ordens da ETA de participar nas eleições ao Parlamento do País Basco de Março de 2009”.

Fonte: Gara

Ou seja: não conta novidades; a paranóia estatal-judicial do “tudo é ETA” mantém-se intacta; continuam-nos a dizer que a ETA manda os cidadãos fazerem política. A “paranóia” dita.

O jornalista madrileno Antonio Alvarez-Solís fazia há poucos dias, em «Liberdade para a Servidão», uma leitura bem clara da situação, a nosso ver: “De forma sucessiva, foram caindo formações políticas, desde o Batasuna até às últimas tentativas partidárias. Os bascos de nacionalismo soberanista ou seus adjacentes – pergunto-me novamente o que é um nacionalismo não soberanista – continuam, no entanto, a reaparecer no teatro de marionetas com figuras sucessivas, que levam com a clássica paulada do maléfico boneco pseudo-jacobino mal aparecem em cena. À vista de tudo isto, penso com insistência e preocupação se não se fomenta obstinadamente a ira basca, já que a repressão não irrita apenas os radicais, mas qualquer basco que vê desprezada a sua nação. Há que ser muito frívolo para não se sentir afectado por esta onda expansiva da bomba espanholista. Mais ainda, essa onda expansiva atinge e fere os poucos espanhóis que crêem verdadeiramente no papel basco para repor a liberdade e sanear eficazmente a democracia.”

Parece-nos, de facto, que se fomenta há muito a “ira basca” e que os frívolos, os moucos, os mudos não são poucos.

Da parte da ASEH, expressamos a mais funda revolta perante este novo episódio de marginalização política de representantes da esquerda abertzale, evidência do estado de excepção em que Euskal Herria vive e da "democracia" que impera no Estado espanhol. Expressamos ainda a total solidariedade com os oito detidos e seus familiares, e exigimos a sua imediata libertação.

Uma palavra de afecto à parte para Arantza Urkaregi, que conhecemos de forma casual nas celebrações de um Aberri Eguna [Dia da Pátria], familiarizando-nos, desse modo, com a sua simpatia, humildade e solicitude; uma outra para Amparo Lasheras, que não conhecemos pessoalmente mas cuja escrita clarividente, madura, fina seguíamos fielmente no GARA. Laster arte.

Aupa zuek!