terça-feira, 3 de março de 2009

«A mudança em Nafarroa é muito mais viável do que tentam fazer crer»


Abertzales conhecidos de Nafarroa apresentaram há umas semanas o manifesto «Iragana gaindituz, Nafarroan aldaketa eraiki. Tenemos derecho a decidir nuestro futuro», relacionado com o próximo dia 3 de Abril, em que se cumprirá o 30.º aniversário das primeiras eleições para o Parlamento navarro. A sua intenção é a de reflectir sobre o quadro imposto e procurar linhas de orientação para dar a volta a uma situação que Floren Aoiz definiu assim: “Fizeram tráfico com Nafarroa desde 1512, e movemo-nos na bruma da mentira dos foros e dos falsos pactos de 1512, 1841 e do ‘Amejoramiento’”.

A iniciativa deu mais um passo em frente no último sábado, com uma mesa redonda que decorreu nos Cinemas Golem, em Iruñea, apresentada por Garbiñe Bueno e que contou com a participação de Floren Aoiz, o jornalista do GARA Martxelo Díaz e o vereador de Uharte Xanti Kiroga. O primeiro abordou o passado, o segundo esmiuçou algumas questões mais relevantes na actualidade e o terceiro encarou o futuro.

Perante cerca de 200 pessoas, Kiroga colocou a tónica na viabilidade da mudança política. E citou como exemplo mais claro o modo como a UPN e o PSN, rivais em teoria, “se puseram de acordo para blindar o actual enquadramento. Não é algo de muito lógico, se não fosse pelo facto de o terem visto como estritamente indispensável”.

Os acontecimentos de Agosto de 2007 vieram confirmar à esquerda abertzale a noção de que “não há mudança possível de governo sem alteração de quadro”. Nestas circunstâncias, Kiroga defendeu que está na hora de optar e propôs uma acumulação de forças. “Nós participaremos com o nosso ADN inequívoco de esquerda e independentista, e a bagagem militante, inclusive em situações-limite”, disse, em alusão à ilegalização.

«Pela direita, para a valeta»
O vereador independentista reiterou que essa mudança só pode ocorrer a partir da esquerda: “Como na estrada, há que seguir por aí; pela direita só se vai parar à valeta”. Antes, Aoiz tinha recordado como a separação de Nafarroa dos restantes herrialdes bascos sempre beneficiou historicamente a direita, e assim o admitiu a esquerda em 1936.

O historiador ressaltou que “a Navarra de Sanz e Barcina é herdeira da de Mola, ‘Garcilaso’, o do Diario de Navarra, os Del Burgo, as flechas e o jugo, e a coroa de louros”. Relembrou o modo como a direita preparou tudo para ter Nafarroa bem controlada depois da morte de Franco. E, ao chegar a 1979, referiu que, quando se convocaram aquelas eleições para o Parlamento navarro, “já se tinha dado a transição, com embustes”.

“Criou-se uma situação assimétrica” – precisou. “Para que Navarra seja como querem os espanholistas, não é preciso consultá-la, e não é por acaso que não se faz nenhuma pergunta; para o outro, sim, todos são inconvenientes. Ninguém decidiu que Navarra ficasse de fora do pré-autonómico”.

O passado regressa sempre. Martxelo Díaz apresentou vários exemplos actuais que mostram como funciona esse sistema, aperfeiçoado após a exclusão da esquerda abertzale ou de sindicatos como o ELA. Citou o caso de Cintruénigo para realçar o grau de impunidade da UPN e do PSN. Aludiu ao desenlace do protesto da Koxka para criticar o papel da UGT e das CCOO. E ressaltou a incessante perseguição ao euskara.

O público interessou-se sobretudo pelo futuro, e pediu aspectos concretos a Kiroga. Este realçou que a aposta da esquerda abertzale não é conjuntural: “Não está em jogo a nossa existência, que está garantida, mas o futuro do país, e é por isso que é preciso acumular forças. Faz-nos falta uma perspectiva de médio e longo prazo”.

Ramón SOLA

Fonte: Gara