domingo, 19 de dezembro de 2010

Aurore Martin: até dirigentes do partido de Sarkozy criticam a sua entrega ao Estado espanhol

A decisão dos tribunais franceses de entregar a Madrid uma militante do Batasuna por fazer política suscitou na sexta-feira uma imprevista reacção unânime em Pau. Porta-vozes da UMP, do Modem e do PS francês criticaram esta medida inédita.

A Askatasuna e o Batasuna ergueram a voz nesta sexta-feira contra a decisão dos tribunais franceses de entregar pela vez primeira uma militante da esquerda abertzale - Aurore Martin - por fazer política. No entanto, a inédita medida causou irritação em todo tipo de meios políticos, incluindo os mais inequivocamente franceses. Não entendem que se vá entregar a um outro estado uma pessoa com nacionalidade francesa nem que isso aconteça com base numa acusação exclusivamente política.

De forma inesperada, o Conselho Geral de Pau converteu-se num fórum de protesto unânime contra esta decisão. Na sessão que decorria na sexta-feira, porta-vozes dos três principais grupos políticos do Departamento dos Pirinéus Atlânticos - UMP, Modem e PS - posicionaram-se claramente contra este mandado europeu.

Horas depois de a Corte de Cassação de Paris ter confirmado a luz verde dada em primeira instância pelo Tribunal de Pau, o responsável máximo da UMP, Max Brisson, decidiu tomar a palavra para se declarar «totalmente abalado» com a sentença.

«Não partilho as propostas do Batasuna, mas não posso aceitar que se extradite uma cidadã francesa», acrescentou Brisson, que rompia assim o silêncio mantido até agora pela direcção desta força de direita. Recorde-se que Brisson é o responsável máximo também para Euskal Herria da UMP, o partido de Nicolas Sarkozy.

Ao Governo francês cabe-lhe agora assinar o decreto final que porá Aurore Martin nas mãos dos tribunais espanhóis. É o último procedimento pendente após a decisão dos juízes parisienses.

[Na sequência:] «Opiniões comuns»

Tasio (Gara)

Agentes abertzales
No que diz respeito às forças abertzales, o AB emitiu uma nota em que qualifica a decisão da Corte de Cassação como «escandalosa e provocadora», além de «depreciável».

Depois disso, lança uma questão «ao Estado francês que tantas vezes se definiu a si mesmo como 'refúgio dos direitos humanos': Até onde pensa ir neste perigoso caminho de repressão política? Que objectivo esconde uma decisão deste tipo?».

O AB dirigiu-se também à «classe política de Ipar Euskal Herria», à qual disse que «também chegará a sua hora de prestar contas, talvez antes do que julga, tal como o AB».

Lembra ainda que esta ofensiva se inicia quando o Batasuna está a tomar «decisões corajosas e unilaterais», tendo por isso realçado que esta iniciativa deve ser entendida como uma «escalada de provocação». Expressou ainda a sua solidariedade a Aurore Martin.

As forças políticas de Hego Euskal Herria, pelo contrário, não fizeram uma avaliação da decisão. O PNB é até a única voz discordante, na medida em que, com excepção de alguns eleitos, como partido não repudiou a entrega de Martin.

Para o Euskal Laborarien Batasuna (ELB), a entrega de Martin é «um primeiro passo preocupante para as nossas liberdades». Considerou «inadmissível» a decisão da Corte de Cassação de Paris e lembrou ao Executivo de Sarkozy que está a colaborar com Madrid para «castigar duramente uma actividade política plenamente legal no Estado francês». Lembrou, na nota emitida, que a pluralidade política, «além de enriquecedora, é a base da democracia».
Notícia completa: Gara

Entretanto, diversos agentes políticos, sociais e sindicais deram uma conferência de imprensa em Baiona, para expressar a sua solidariedade a Aurore Martin e pedir aos dirigentes políticos que passem das palavras aos actos. Na foto, Anaiz Funosas no uso da palavra. (Gara / Bob Edme)

No canto superior direito: faixa solidária com Aurore e contra os mandados europeus colocada na catedral de Notre Dame, em Paris.

EUTSI GOGOR, AURORE!