sábado, 11 de fevereiro de 2017

«Terras mineiras»

[De Sérgio Dias Branco] A voz sofrida faz do canto de cada palavra um trabalhoso, ainda que mínimo, ganho de fôlego: «Rinconada, Lunar de Ouro, só tu sabes quanto chorei. / Ritipata, riticucho, pallaqueaba com os meus amigos. / Madrugada após madrugada, suportando frio e fome. / Madrugada após madrugada, ai que triste é a vida. / Mãezinha lutadora, tu que trabalhas dia e noite. / Mãezinha lutadora, tu que trabalhas dia e noite. / Enquanto os homens, se crêem valentes, abandonam os seus filhos. / Enquanto os homens se crêem valentes, continuam a beber no bar.» A mulher que canta estas palavras vive e trabalha em La Rinconada nos Andes peruanos, a povoação de maior altitude no mundo. Ouvimos a sua voz cansada e corajosa, mas as imagens não mostram qualquer presença humana. A vida escasseia na imensa paisagem gélida que vemos. A vegetação baixa é rara. As aves voam solitárias. De forma gradual, de imagem para imagem, as construções da vila vão aparecendo, mas é fácil confundi-las com o resto do território, como se dele emergissem organicamente. Eis a introdução de Eldorado XXI (2016). A segunda longa-metragem realizada por Salomé Lamas (avante.pt)