domingo, 13 de setembro de 2009

Em Donostia, cálida homenagem às vítimas do franquismo


«O ano de 1936 parece longe, mas a dor está aí, uma dor que precisa de justiça e reparação. Precisamos de nos sentir unidos e apoiados». Assim se expressaram ontem as vítimas do franquismo que se juntaram no Boulevard donostiarra, numa homenagem repleta de emoção organizada pela Lau Haizetara Gogoan e pela nova associação Víctimas del Genocidio. O acto contou com música e danças, e foram colocadas rosas junto aos nomes dos seres queridos.

385 donostiarras, todos eles civis, foam fuzilados pelas tropas de Franco; quase 6000 cidadãos mobilizaram-se nas Milícias Antifascistas e no Exército Basco para defender a República; 776 crianças da capital guipuscoana foram evacuadas, a maioria para o Estado francês, Inglaterra ou Rússia, e muitas delas jamais regressaram; quase 600 pessoas estiveram na prisão um longo período e foram dispersas pelas prisões espanholas...

Tal como admitiu o historiador Iñaki Egaña, são cifras desagradáveis, mas necessárias para compreender o genocídio do franquismo. Por isso, porque querem dar rostos a esses números e homenagear as vítimas, se reuniram ontem no Boulevard numerosas pessoas, entre eles filhas e filhos daqueles gudaris e milicianos. E Egaña, que realizou um grande trabalho para iluminar a história, agradeceu-lhes «por manterem acesa a chama da esperança e transmitirem o melhor» da sua geração. «Agora é a nossa vez, até conseguir uma Euskadi livre e emancipada», reivindicou.

«A razão, do nosso lado»
Esclareceu que a Falange não é um partido, mas sim um movimento, e como tal está fortemente ancorada nesta sociedade: «Nas instituições, nos seus quartéis e esquadras, nos meios de comunicação, nos bancos, na atitude de muitos dirigentes, nos tribunais. A Falange é a Espanha folclórica, a Falange é a intolerância, a prepotência, o pensamento único».
Assegurou que, embora se vistam de democratas, são falangistas e por isso devem ser repudiados. «E, se nos recusam a palavra e a lembrança, virão os nossos filhos e os nossos netos, porque temos a razão do nosso lado e eles, nossos filhos, nossos netos, hão-de recuperar a palavra e a lembrança».

Iñaki Egaña finalizou o seu discurso recordando a última vontade de José Luis Arenillas, chefe do sector da Saúde do Governo Basco, fuzilado no Outono de 1937: «Morro satisfeito por ter cumprido o meu dever como filho de Euskadi e como adito à causa dos trabalhadores. É uma jogada que perdemos no momento e pagamo-la dignos e com tranquilidade. Esperávamos continuar a actuar em benefício da causa que todos defendemos, mas não foi possível. Confio em que vocês nos sobrevivam e possam fazer com esforço o que juntos teríamos desejado realizar».

Franco, Hitler e Mussolini
Depois de Egaña, falou o escritor Fito Rodríguez: «Querem afogar o alento (...) - disse em euskara. Mas não há matança que possa durar para sempre. A lembrança é a pátria que jamais nos poderão roubar (...) Nada é para sempre, nem a vida nem a morte, mas este 12 de Setembro estamos vivos e lembramo-nos dos nossos mortos».

Amaia Zubiria deslumbrou e emocionou o público cantando a canção «Harri bera» con uma força impressionante, e depois Felix Soto falou em nome da Lau Haizetara Gogoan e da associação Víctimas del Genocidio, apresentada no dia 5 de Setembro. Insistiu no facto de o Estado espanhol continuar a ser o segundo país do mundo em número desaparecidos e garantiu que tem mais que toda a América Latina: «340 000 no total, dos quais 150 000 ainda desaparecidos, 190 000 fuzilados com julgamento-farsa ou sem ele, e isto sem contar com uma estimativa de 30 000 crianças desaparecidas».

Criticou a forma como tudo isto acaba por ser insólito num Estado que vai assumir a presidência da Comunidade Europeia em 2010 e que continua a esconder no armário a dimensão da tragédia, como se esta não existisse. Como exemplo, afirmou que na Alemanha, na Itália, na Bósnia, no Estado francês, na Argentina e no Chile se julgaram os responsáveis pelos crimes contra a humanidade e aqui, no entanto, não foi possível.
«O que nem Hitler nem Mussolini alcançaram, conseguiu-o Franco ao nomear o seu sucessor (Juan Carlos de Borbón)», acrescentou.

«O direito está do nosso lado», insistiu Soto, que reafirmou o compromisso de «trabalhar pela recuperação dos valores democráticos».

Maider IANTZI

Fonte: Gara