segunda-feira, 8 de junho de 2009

Calma em Euskal Herria e jogo sujo em muitos pontos do Estado espanhol, no dia em que a esquerda ‘abertzale’ voltou a votar «legal»


A calma foi a nota dominante na jornada eleitoral em que os independentistas bascos de esquerda puderam votar numa candidatura “legal”. Não ocorreu o mesmo noutros pontos do Estado espanhol; ali as denúncias de fraude foram-se repetindo ao longo do dia.

A normalidade foi quase absoluta nas 3704 mesas eleitorais repartidas por Araba, Bizkaia, Gipuzkoa e Nafarroa Garaia, donde os incidentes foram mínimos na sua constituição e durante as onze horas em que os cidadãos puderam depositar o seu voto.

Algumas excepções
Na ikastola de Zumarraga a fechaduras das portas estavam obstruídas, mas foi o problema foi sanado e a votação decorreu com normalidade. Em Galdakao, um grupo de pessoas foram expulsas pela Ertzaintza de uma escola por vestirem t-shirts com as siglas da Iniciativa Internacionalista-La Solidaridad entre los Pueblos (II-SP).

No bairro iruindarra da Txantrea, boletins do PSOE taparam os da candidatura do dramaturgo Alfonso Sastre. Também na capital navarra, o presidente de uma mesa de voto comunicou à Junta Eleitoral uma suposta irregularidade cometida por um representante do PP, que, segundo consta, tentou alterar o sentido de voto de uma senhora idosa com dificuldades de visão. A senhora queria votar no PSOE e pediu a um agente da Polícia que lhe pusesse o boletim na urna, mas este respondeu-lhe que não o podia fazer, só o representante do PSOE na mesa. Enquanto procuravam o elemento dessa formação partidária, o representante do PP introduziu o boletim do seu partido. A acção foi detectada e denunciada.

No bairro de Erromo, em Getxo (Bizkaia), gente ligada ao PNV impediu que representantes do II-SP se sentassem nas mesas de voto. Em Irun, na escola onde votaram a presidente do Parlamento de Gasteiz, Arantza Quiroga, o deputado do PP Borja Semper, bem como o autarca, José Antonio Santano, e o vice-presidente camarário, Miguel Angel Páez, houve momentos de tensão com os seus guarda-costas e ertzainas, embora sem consequências.

Também voltou a haver problemas relacionados com o EHNA [B.I. basco], sendo que as pessoas que o usaram viveram situações muito diversas. Se nalgumas mesas não houve qualquer problema, noutras foram colocados obstáculos por parte dos presidentes e dos vogais, ou então pela intervenção de representantes do PNV [tão abertzales!], do PSOE e do PP.
Numa escola de Hondarribia [Gipuzkoa], por exemplo, uma pessoa não pôde votar com o EHNA, mas já pôde exercer o direito de voto com o cartão do Osakidetza [sistema de saúde!]. Dezenas de pessoas que se viram impedidas de votar com EHNA por todo o país registaram a sua reclamação em acta.


Do Ebro para baixo, muitas irregularidades
No geral, em Hego Euskal Herria [País Basco Sul] a calma foi uma constante, mas do rio Ebro para baixo as queixas sucederam-se ao longo da jornada eleitoral, especialmente por falta de boletins da II-SP nas cabines de voto. O facto de maior relevo foi a queixa apresentada às 18h42 por Luis Ocampo, representante da II-SP, perante a Junta Eleitoral Central por uma suposta situação de falta de protecção face ao que considerou um ataque “intolerável” da cadeia de televisão CNN+ à sua candidatura. Das 13h45 até às 18h30, a II-SP procurou que a Junta actuasse contra uma informação “cujo único propósito é prejudicar-nos eleitoralmente”.

Numa ligação a partir do colégio Europa, na localidade madrilena de Pinto, um jornalista da CNN+ associou a II-SP à ETA, recordando as decisões adoptadas pelo Supremo e pelo Constitucional espanhol. Uma vez que o seu pedido de paralisação do processo eleitoral não foi atendido, os internacionalistas acusaram a Junta de não ter velado “pela igualdade de oportunidades eleitorais de todas as candidaturas”, afirmando que, se a queixa tivesse sido formulada pelo PSOE ou o PP, “estaria mais que resolvida”.

A informação da CNN+ foi, no entender de Ocampo, “o elemento mais grave de um dia repleto de incidências, desaparecimento de boletins em numerosas mesas eleitorais, ausência de boletins noutras, etc.”. “É evidente – referiu – que os guardiães do sistema nem sequer as suas próprias normas sabem respeitar quando vêem em risco a reprodução do seu status”.

Na longa lista de incidências detectadas pela II-SP, destacaram-se a ausência de boletins em algumas escolas de Cáceres, Cádiz, Ciudad Real, León, Múrcia, Málaga, Motril ou Moratalaz. Nesta localidade madrilena, chegou-se a exibir uma suposta carta do Delegado do Governo espanhol a informar que a II-SP se tinha retirado das eleições. Na Galiza, por exemplo, desapareceram boletins em Vigo, Ferrol e Ourense.

Nos Países Catalães faltaram os boletins internacionalistas em Barcelona, Ripollet, Villafranca de Penedes, Torrevieja, Prat de Llobregat, Alacant, Vega Baja, Vil Lamar de Sagunt, Palma de Mallorca e Cerdanyola del Valles, entre outras aldeias e cidades. No município de Joc de la Bola, membros da Democracia Nacional (DN) procuraram escondê-los, tal como aconteceu nalgumas escolas de Burgos. Na localidade valenciana de Manises, os representantes do PP ameaçaram os da II-SP e a Polícia espanhola chegou a expulsar uma habitante que se tinha queixado de só haver boletins do PP, do PSOE, da IU e da Familia y Vida.

Agustín GOIKOETXEA

Notícia completa: Gara

Democracia à espanhola, naturalmente. A novidade é a incidência do “Ebro para baixo”. É mais que certo: a luta continua!