quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Outro bispo nas fileiras da Reconquista


Se a Igreja participou em gestas nacionais contra mouros, índios, protestantes, comunistas... não podia faltar na batalha final contra os bascos. De novo, a cruz e a espada

No dia 9 de Janeiro José Ignacio Munilla ocupará a sede episcopal de Gipuzkoa. O que há de novo na sua nomeação? Original seria se o Vaticano promovesse um progressista, que seguisse na sua eleição um procedimento democrático ou que desse luz verde à criação de uma diocese basca. Também não é nova a fúria belicosa daquele que aí vem contra a única violência que admite, a da ETA; esta atitude, salvo alguma sibilina referência à tortura, foi a tónica geral dos bispos bascos. Quem, dentre eles, ouviu os torturados ou promoveu o encontro com os familiares dos presos? A novidade está na conjuntura, no perfil do eleito e no papel que lhe é confiado. Qualquer nomeação episcopal tem uma dimensão política; neste caso, é o traço fundamental.

Espanha lida com duas questões: Euskal Herria é um cancro que ameaça a unidade da pátria e é preciso extirpar esse tumor. Uma confabulação basca de agentes políticos, sociais, eclesiásticos, educativos e mediáticos - todos terroristas - estava a dar a volta ao modelo de estado como se de uma meia se tratasse; o que se tinha constituído como «região» estava-se a reconfigurar como «nação». Tornava-se necessária uma intervenção contundente. Toda a Espanha foi chamada para a nova cruzada, sendo a Igreja a que melhor aplicou a estratégia de reconquista: «A Igreja soube traçar planos a muito longo prazo e executar os movimentos necessários para os materializar», diz El Correo Digital. Refere-se à calculada e lenta imposição de bispos espanholistas que começou com Sebastián. Na actual conjuntura, a metrópole acaricia o sabor da vitória. Considera que a reconquista está chegar à sua fase terminal e que é preciso pôr mãos à obra para o conseguir. Se a Igreja participou em gestas nacionais contra mouros, índios, protestantes, comunistas... não podia faltar na batalha final contra os bascos. De novo, a cruz e a espada.

De novo, a cruz e a espada. A nomeação de Munilla - como a de Patxi López - foi possível graças à superação de confrontos facciosos. Tanto num caso como no outro se impõe a razão de estado. As disputas sobre a educação privada e o aborto não constituíram um impedimento para que Igreja e Estado juntassem forças na reconquista da Bascónia. Numa tal conjuntura, bispos como Uriarte não servem. Por isso escolheram um moço capaz; mais bizarro que dom Francisco - o militar que pastoreia Nafarroa - e mais integrista que Izeta, o bispo auxiliar de Bilbau. Munilla - como López - far-se-á acompanhar da nata de Espanha no dia da tomada de posse, tentará «despolitizar» Euskal Herria, sufocar a resistência e combater com fúria os vascones.

A Espanha integrista tem por certa a existência de alguns protestos, mas que não a preocupam. Goza à grande com as bravatas jelkides [do PNV]: «Como é habitual, quando os tripaundis [pançudos] do PNV mostram carácter, não acontece nada», diz a «Infocatólica». O clero, mais cedo ou mais tarde, obedecerá. Quanto aos batasunos, Munilla tem um remédio infalível: segundo diz a Cope, «quando estava em Zumarraga, levava-os a Fátima e muitos deles convertiam-se».

Jesus VALENCIA
educador social
Fonte: Gara
-
Foto: Eusko Blog