terça-feira, 19 de janeiro de 2010

A tarde em que Euskal Herria disse: basta!


O espanholismo intolerante ainda não consegue encaixar o que se passou no dia 2 de Janeiro. O «basquismo» claudicante tenta ensombrar o esplendor daquela tarde-noite invernal. Os familiares tiveram o protagonismo que mereciam

O novo ano podia ter arrancado com o mesmo guião de tantas outras e nefastas jornadas: proibição da convocatória da Etxerat, dissolução da confluência sociopolítica que a apoiava, reafirmação dos mais tenazes no direito de manifestação, repressão implacável por parte dos mais violentos, reacções enfurecidas dos sempre massacrados... O Estado fez tudo o que o que lhe competia para que assim acontecesse. A Audiência Nacional proibiu uma marcha largamente anunciada e amplamente esperada: os meios de desinformação deram grande cobertura à oportunidade da medida e à perfídia dos convocantes; quantas polícias campeiam por estas terras preparam os seus utensílios para reter autocarros e espancar manifestantes...

Desta vez, por fortuna, o velho guião alterou-se. Cinco forças políticas vieram a terreiro. Tinham considerado legítima a reivindicação da Etxerat - que previamente secundaram - e julgaram necessário mantê-la quando Madrid amordaçou os familiares. Desafio ao Estado ou solidariedade consequente? Embora Espanha o tergiverse e a nós nos surpreenda por pouco frequente, continua a ter sentido o companheirismo que tantas vezes evocamos ao cantar: «lepoan hartu ta segi aurrera» (1). A exemplar reacção dos cinco novos convocantes gerou sentimentos díspares. A nutrida e intolerante colónia espanhola estabelecida em Euskal Herria bramou e, como costuma fazer sempre que se vê ultrapassada pela dinâmica deste povo, apelou aos seus «primos» para que lhe salvassem a pele. O PNV, fiel colaborador de Rubalcaba nas palavras do próprio ministro, agiu em consequência. Deixou sair algum comentário que se mostrava em sintonia com a maioria da sociedade basca, mas a sua vergonhosa ausência voltava a ser mais um cheque em branco à política de dispersão; com uma no cravo e outra na ferradura, os jelkides continuam a dar cobertura ao ministro; estratégia de intriga e cambalacho que tantos benefícios lhes trouxe noutros tempos e que tanto desgaste lhes está a causar actualmente. A maioria sindical basca, transbordando novamente as margens da esquerda e da direita colaboracionista, apoiou os cinco convocantes. Uma grande massa social do nosso povo experimentou uma intensa alegria quando soube da nova convocatória. Minimizando ressentimentos, premiou com o seu reconhecimento as cinco siglas que, pondo de lado as divergências, abriram um inesperado e convergente caudal de participação.

Como era de esperar, o dia 2 de Janeiro foi um dia intenso. Quase 45 000 pessoas defenderam os presos bascos e acompanharam quem teve a audácia de encabeçar a segunda convocatória. Poucas horas e muita vontade foram suficientes para provocar aquela avalanche integradora. O espanholismo intolerante ainda não consegue encaixar o que se passou no dia 2 de Janeiro. O basquismo claudicante tenta ensombrar o esplendor daquela tarde-noite invernal. Os familiares tiveram o protagonismo que mereciam. E a maioria da sociedade não podia nem queria esconder a sua alegria: nos alvores do novo ano, tinha sido capaz de tomar a iniciativa.

Jesus VALENCIA
educador Social
Fonte: Gara

(1) «lepoan hartu ta segi aurrera»: «pega nele e segue em frente», canção da autoria de Telesforo Monzón (Bergara, 1904 - Baiona, 1981) celebrizada na versão da dupla Pantxoa eta Peio e cantada por diversas bandas.

Contra o estado de excepção


Novo vídeo da histórica manifestação de Bilbau a favor dos presos políticos (02/01/2010). Via insurgente.org