quinta-feira, 11 de março de 2010

Descobrir a mentira


Li há algum tempo que mentir é um recurso fácil de utilizar sem se ter de passar por esforços nem penúrias, embora se corra o risco de se ser descoberto. Acontece algo de semelhante com a pessoa que lança rumores falsos para diminuir as pessoas que inveja: pode ser descoberto e a conduta desvelada, agindo contra si mesmo, desprestigiando-se perante aqueles que queria influenciar. Mentir de forma compulsiva aumenta ainda o risco que corre o insensato porque, como diz o ditado, a mentira tem pernas curtas. É o que tem vindo a acontecer ao conselheiro do Interior espanhol na CAB, Rodolfo Ares. Quando ouve a palavra tortura, começa a mentir de forma desordenada, nervosa, compulsiva.

Na melhor tradição dos Rosón, Martin Villa, Barrionuevo, Saenz de Santamaría, Ballesteros e companhia, enfrenta as denúncias de tortura com o recurso fácil a uma mentira que, de tão repetida pelos manda-chuvas do ramo, atingiu o nível de mito urbano. Repetiu-o esta semana: «Nadie puede ignorar que existen instrucciones de ETA para denunciar sistemáticamente la existencia de torturas, con el fin de desprestigiar a las fuerzas de seguridad». Em Euskal Herria falar de «desprestigiar» as FSE parece ridículo, mas o conselheiro Ares sabe que mente porque falta à verdade com perfeita noção disso.

A cantilena do «manual de instrucciones» da ETA para que se denunciem torturas de forma sistemática, tenham ocorrido ou não, tem quase trinta anos. Em três décadas nem um só exemplar desse manual tão levado e trazido foi incluído num sumário ou em qualquer instrução. Em nenhuma das inúmeras conferências de imprensa com exibição de material apreendido a membros da ETA foi mostrado o velho manual. Não há um só documento ou testemunho prestado em sede judicial que fale de tais recomendações para cometer perjúrio denunciando polícias, guardas civis ou ertzainas. Sabiam-no Rosón, Martin Villa, Ballesteros, Saez de Santamaría e Barrionuevo. E Ares também o sabe. Por isso mente.

E se o anteriormente exposto não basta, leio no El Correo Español, meio pouco suspeito de dourar a pílula à ETA, que os últimos detidos na Normandia «en los interrogatorios mantienen la actitud de mutismo habitual de los detenidos de ETA en Francia». Será que o manual imaginário de Ares diz que em Madrid há que cantar aquilo que se fez e o que se deixou por fazer e denunciar tortura e em Paris guardar o silêncio de um túmulo? Pensem mal e de certeza que acertam.

Martin GARITANO
jornalista
Fonte: Gara