domingo, 27 de março de 2011

A ETA, disposta a uma verificação «não formal» para superar o veto estatal

A Euskadi Ta Askatasuna considera muito significativo o facto de que os executivos de Madrid e Paris tenham rejeitado totalmente a proposta que fez em Janeiro. «Não querem que a comunidade internacional verifique o cessar-fogo geral e permanente da ETA. Não o querem porque, apesar da hipocrisia e da intoxicação, ficaria acreditado, também no plano internacional, que a única violência existente hoje em Euskal Herria é a que os próprios estados geram».

Trata-se, no entender da organização armada, de uma realidade que se pôde constatar nos últimos meses. «Em Euskal Herria, a violência assume os nomes de violação de direitos, ilegalização, acosso, detenção e tortura».

Apesar da recusa e do veto governamental, a ETA reitera a decisão que tornou pública naquela declaração. E, apesar de ter a noção de que não conta com o «reconhecimento oficial» dos governos, mostra-se disposta a «aceitar um mecanismo de verificação informal. A ETA considera que é concretizável, e que se pode constituir uma comissão internacional de verificação».

Insiste no paradoxo que representa o facto de aqueles que dizem que a sociedade basca é maior de idade para resolver os seus conflitos - como defenderam responsáveis políticos e institucionais do PSOE e do PP quando foi apresentado o Grupo Internacional de Contacto - «neguem que essa mesma sociedade tome a palavra para decidir o seu futuro».

Dois blocos diferenciados
O comunicado, que aprofunda aquilo que foi manifestado há dois meses e meio, conclui expressando «o compromisso da ETA em alimentar e levar a bom porto a resolução democrática» do conflito, com a vista posta na consecução da «liberdade e da paz para Euskal Herria».

Em prol desse objectivo, faz um apelo às forças políticas, sociais e sindicais bascas, e à cidadania no seu todo, para que «juntem forças, assumam compromissos e dêem novos passos pela liberdade e contra a repressão».

A organização armada considera que, a cada dia que passa, é mais evidente que no panorama político basco existem dois blocos bem diferenciados. O primeiro, formado por «aqueles que desejam criar um cenário de liberdade»; e o segundo, constituído «pelos que pretendem manter a imposição e o bloqueio». «E uma das características principais do momento - prossegue - é o confronto entre quem quer desenvolver o processo democrático com vista a uma solução definitiva do conflito e aqueles que pretendem acabar com oportunidade criada».

Para a ETA, são cada vez mais os cidadãos que se estão a organizar nesse primeiro bloco. «Começámos a superar a pretensão daqueles que desejavam ver as forças que defendem a mudança política e social dispersadas, debilitadas e isoladas». Mas avisa que ainda há um longo caminho pela frente, «que estará repleto de obstáculos», pelo que defende que se continue a juntar esforços até que «possamos derrubar o muro que Espanha e França ergueram para sequestrar a palavra dos cidadãos bascos».

Em referência aos governos espanhol e francês, observa uma atitude irresponsável «porque não é compatível que em certos âmbitos expressem uma suposta vontade para chegar à solução e, por outro, se mantenha a estratégia repressiva. Irresponsável, porque têm por objectivo arruinar a esperança gerada».

De facto, a ETA julga que «a injusta atitude» dos executivos levou a que tenham aflorado «dúvidas» inclusive entre as fileiras das forças que se posicionam a favor da permanência status actual. A eles, dirige-se também para os instar a agir com «a responsabilidade e a coragem que este histórico momento requer».
Fonte: Gara

«EUSKADI TA ASKATASUNAREN AGIRIA EUSKAL HERRIARI»