segunda-feira, 28 de junho de 2010

José Luis, livre


Assisti como espectador adolescente, lá pela Primavera de 1978, à apresentação em Bergara da primeira Junta de Apoio do Herri Batasuna. Abria-se um novo tempo na política basca e ali, sobre o estrado do velho salão do Seminário, apresentavam-se, entre outros, os três personagens da vida política que mais admirei: Telesforo Monzón, Jon Idigoras e José Luis Elkoro.

Hoje, trinta e dois anos depois, sentimos falta dos três no dia-a-dia. De Telesforo e de Jon porque a morte os transformou em estrelas brilhantes do firmamento sobre terra basca e de José Luis porque indivíduos desprovidos de humanidade o mantêm preso em Espanha.

Telesforo, Jon e José Luis. Tão unidos e tão diferentes.

Telesforo foi um aristocrata da política. Todo elegância, fina ironia, majestosidade no discurso e contundência no fundo.

Jon, um líder. Bem-humorado, convencido e convincente, energia e paixão. Um operário na política. Uma humanidade que transbordava para quem se lhe apresentasse também como adversário.

E José Luis, a rectidão em pessoa. A entrega pessoal à tarefa colectiva em prol da emancipação do povo basco saiu-lhe cara, mas ninguém poderá dizer que fraquejou. Sofreu a marginalização, o acosso, detenções e a prisão. Tentaram matá-lo juntamente com Jon e outros companheiros no hotel Alcalá, ali onde os mercenários ao serviço de quem todos sabemos nos levaram o Josu. Também sentimos falta do Josu nestes dias em que germina uma mudança que poderá ser radical no devir histórico do nosso povo.

Não temos Telesforo nem Jon. Tão-pouco Josu, Santi, José Migel e tantos outros que ficaram pelo caminho, na terra que tanto amaram e pela qual tudo deram. Mas temos José Luis. Personagens que não têm dimensão para lhe polir os seus sapatos mantêm-no refém juntamente com mais de setecentos compatriotas. Em condições de manifesta desumanidade que todos deveríamos denunciar perante quem quer que estejamos.

Vêm novos tempos e nós, independentistas, temos uma tarefa ingente que, para além do mais, não será fácil. Mas o futuro é apenas de quem estiver disposto a trabalhar com denodo e convicção na justeza dos objectivos.

Vamos precisar de muitos braços para que o sonho de Telesforo e de Jon, uma pátria livre feita por homens e mulheres livres, seja uma realidade mais cedo que tarde. Vamos precisar, entre outros, de José Luis. E ele merece-o.

Martin GARITANO
jornalista
Fonte: Gara