terça-feira, 8 de junho de 2010

O cu do Pays Basque


Acabou-se. Paris tomou a decisão. Nem departamento para Ipar Euskal Herria, nem muito menos autonomia, nem sequer o paupérrimo «pays», esse coelho administrativo que sacaram da cartola para ver se podiam calar a reivindicação cada vez mais socializada de uma instituição própria para as províncias de Lapurdi, Nafarroa Beherea e Zuberoa. Rien de rien. A República faz marcha atrás e retrocede vinte anos, um período durante o qual representantes de todo o espectro político de Iparralde procuraram dotar este território de uma estrutura própria de gestão económica e social. Paris concedeu-lhes para tal uma estrutura legal, a do «pays», que, sem ser uma instituição na moda, permitiu uma coesão mínima das três províncias bascas em torno de uma série de projectos culturais, linguísticos, económicos, sociais através do Conselho de eleitos e do Conselho de Desenvolvimento. E isso com o absurdo de ter de designar este território pays Pays Basque.

Mas acabou-se. O projecto de reforma territorial que está quase a ser aprovado no Parlamento francês, além de ignorar as demandas da maioria social e política bascas a favor de uma instituição própria, prevê o desaparecimento de estruturas como a do «pays». A República, que anunciou a sua vontade de fazer renascer e florescer a sua estrutura jacobina, fecha-se em si mesma para se adentrar num novo e sombrio Inverno centralista. Olhou-se ao espelho e assustou-se. Não quer acabar como a sua vizinha, Espagne, que acabou colada ao cu do Pays Basque. Prefere que seja o Pays Basque que continue a estar colado ao seu, qual furúnculo. Por muito incómodo que possa chegar a ser.

Iñaki LEKUONA
jornalista
Fonte: Gara
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Na imagem: «Autonomia, hemen eta orain!», em Azkaine (Lapurdi).