terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

«Euskal Herria foi um laboratório de tortura, para todo o planeta»

A afirmação é de Jorge del Cura, porta-voz da Coordenadora para a Prevenção da Tortura no Estado espanhol - organismo surgido em 2004 - e que foi entrevistado para o portal directa.cat pela jornalista Gemma Garcia.

Questionado sobre Euskal Herria, Del Cura disse que as torturas foram aplicadas de forma sistemática. «O País Basco foi um laboratório de tortura para todo o planeta, e não apenas para o Estado espanhol», afirmou, antes de recordar que os chamados estados democráticos foram os que mais aperfeiçoaram as técnicas de tortura - deu como exemplo disso os casos de França, dos EUA e da Inglaterra.

O porta-voz da coordenadora fala também da legitimidade que é atribuída à prática da tortura no Estado espanhol - por trás da qual está sempre a cantilena de que, assim, se evitam males maiores. Del Cura refere que, de acordo com alguns inquéritos, 18% a 30% dos espanhóis defendem a prática da tortura em casos de «terrorismo».

Na entrevista, Del Cura refere-se também ao silêncio dos grandes meios de comunicação social sobre os relatórios publicados pela coordenadora (acusando-a de fazer propaganda do «terrorismo»). «Os grandes meios assumiram um papel terrível na justificação da tortura e do terrorismo de Estado», afirma.

Milhares de torturados numa década
Nos últimos dez anos, a Coordenadora para a Prevenção da Tortura recolheu 6621 denúncias de maus-tratos e torturas policiais no Estado espanhol. O elevado número de denúncias contrasta com a parca cifra de condenações durante este período: 752, metade das quais como contra-ordenações.

No País Basco Sul, registaram-se 504 detenções em regime incomunicável desde 2004; 340 dos detidos afirmaram ter sido torturados, o que corresponde a 67% dos detidos neste regime. / Ver: argia

Na imagem: [do lado esquerdo] A tortura no Estado espanhol existe e tem responsáveis / Em 10 anos, 6621 denúncias de torturas e maus-tratos, 122 de menores, 1023 de migrantes
[do lado direito] Funcionários denunciados: 294 da Polícia espanhola / 59 da Guarda Civil / 58 das Polícias Autonómicas (Mossos d'Esquadra, 47; Ertzaintza, 8; Polícia Foral navarra, 1; Pol. Aut. das Canárias, 1; Pol. Aut. da Comunidade Valenciana, 1) / 833 mortos sob custódia policial entre 2001 e 2013 / 53 jornalistas denunciaram agressões físicas em 2012