segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Censura nas festas de Euskal Herria: em Gasteiz, último desfile inusitado pela liberdade de expressão

Ontem, a política de censura do Departamento do Interior de Lakua esteve na origem de um facto insólito no último dia das festas de Gasteiz: as cuadrillas de blusas e neskas* substituíram o alegre desfile até à praça de touros por uma manifestação silenciosa em defesa da liberdade de expressão. Subjacente a este protesto silencioso estava a actuação da Ertzaintza, que, na noite anterior, tinha confiscado uma faixa e um carro utilizados no desfile pela primeira vez.

A cuadrilla de blusas Txirrita tinha organizado para estes dias uma exposição histórica com as diversas faixas que apresentou no desfile do último dia de festas. Mas a de 2009 já não fará parte dessa colecção. A Ertzaintza confiscou-a à socapa, no sábado, levando também o carro festivo de outra cuadrilla, a Txinpartak. Um facto sem precedentes e que fez com que ontem não houvesse o tradicional desfile até à praça de touros, mas sim uma manifestação silenciosa de blusas e neskas, que seguiam atrás de uma única faixa em que se lia «Adierazpen askatasuna. Libertad de expresión».

A actuação da Ertzaintza durante as festas de La Branca, retirando faixas, autocolantes ou montando controles permanentes nas imediações do recinto de txosnas, atingiu o seu ponto culminante no sábado à noite. Várias patrulhas aguardavam os blusas e as neskas junto ao depósito onde costumam guardar as faixas e os carros das festas, e, aquando da sua chegada, procederam à inspecção das faixas, confiscando a da cuadrilla Txirrita, além de levarem o carro dos blusas da Txinpartak.

Algumas horas depois, alguns representantes destes grupos foram até à esquadra da Ertzaintza, na Olagibel kalea, em particular os da Txirrita, tendo-lhes sido dito que «tinham estado a estudar» as faixas e que a deles poderia «atentar contra a dignidade das pessoas».
A sua faixa mostra as figuras, com gravatas vermelhas e amarelas, de «Pachigoiti» e «Rudolf Ares», ambos de braço erguido, a pensar como atacar as liberdades, e por cima de figuras de agentes da Ertzaintza a remover faixas e cartazes. [olha!, a representação do real]

No que diz respeito ao carro festivo apreendido pela Ertzaintza, o departamento de Rudolf garantiu à agência EFE que estava «inteiramente pintado com alusões ao grupo terrorista [sic] ETA e com desenhos 'insultuosos' contra a Ertzaintza, a Guarda Civil e a bandeira de Espanha». De acordo com o Departamento do Interior, «havia uma serpente com um machado e outras referências ao grupo terrorista» [sic]. Argumentam ainda que «o carro não tinha placas de matrícula, nem faróis, e não possuía documentos», e recorrem a esta argumentação quando se trata de um carro que sai para o desfile das Festas da Virgem Branca há muitos anos.

Entretanto a comissão de blusas, composta por 23 cuadrillas, reuniu-se e chegou a falar pelo telefone com Patxi Lazcoz, autarca de Gasteiz, para desbloquear tão censória situação, mas sem resultados. Perante este panorama, ontem desfilaram sem música e em silêncio, por entre os aplausos das muitas pessoas que costumam assistir ao «outro desfile», o tradicional, alegre e festivo.

Talvez o melhor resumo do que se passou neste fim-de-semana seja dado pela faixa de uma das cuadrillas afectadas, a Txinpartak: em fundo negro podia-se ler «Censurada, como na ditadura». [Se a Europa guinou, Euskal Herria...]

Joseba VIVANCO

Notícia completa: Gara

* cuadrillas de blusas e neskas: grupos de amigos ou associações de rapazes (blusas) e raparigas (neskas) característicos das Andra Mari Zuriaren Jaiak ou Festas da Virgem Branca.